Numa conferência de imprensa em Nova York na terça-feira, dia 26 de outubro de 2010, na sessão 65 da Assembleia Geral da ONU, um dos principais especialistas da ONU em direitos humanos exigiu um repensar fundamental da política internacional de drogas.
Anand Grover, da India, é o Relator Especial das Nações Unidas sobre o Direito de Todos ao Mais Alto Padrão de Saúde Física e Mental, cujo mandato é derivado do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Ele recomenda substancialmente reformar as leis e as políticas que inibem a prestação de serviços essenciais de saúde aos usuários de drogas, e a lei de execução de iniciativas de revisão em torno do controle de drogas para assegurar o cumprimento das obrigações relativas aos direitos humanos.
Sugeriu tambem alterar a legislação, regulamentos e políticas dos países membros para aumentar o acesso controlado de medicamentos essenciais. (E não apenas as drogas pseudo-efedrina, a metadona, a cannabis, a ibogaína, LSD, etc, mas os locais onde elas são mais necessárias como opções de tratamento, ou seja: as prisões)
O Sr Grover afirma que "A criminalização excessiva e as práticas de aplicação da lei podem também minar iniciativas de promoção da saúde, perpetuar o estigma e os riscos de saúde que aumentam em populações inteiras - não só naqueles que usam drogas."
O relatório é a afirmação mais clara até agora de dentro do sistema das Nações Unidas sobre os danos que as políticas de drogas têm causado e a necessidade de uma mudança fundamental na política de drogas.
O relatório foi bem acolhido pela União Europeia na declaração da UE sobre a criminalidade e as drogas para Assembleia Geral da ONU
Fonte: UN Special Rapporteur on the Right to Health, Report of the Special Rapporteur on the right of everyone to the enjoyment of the highest attainable standard of physical and mental health
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27 outubro, 2010
01 outubro, 2010
Folder da Conferência Internacional sobre Ibogaína no tratamento das dependências químicas, organizada pelo Ministério da Saúde da Catalunha, Espanha, e pela ICEERS, uma ONG que visa estimular a pesquisa e o estudo de plantas medicinais. A Conferência contará com a presença dos maiores especialistas no assunto do mundo. O governo espanhol pretende instituir a ibogaína como opção de tratamento como política pública. O evento será dia 15 de outubro próximo.
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Aspectos Culturais e Simbólicos do Uso de Enteógenos
author: Jammysson W.
O uso intencional de substâncias psicoativas com o objetivo de se criar estados alterados de consciência é uma prática que existe há milhares de anos. Vários grupos de animais (desde os mais primitivos) usam substâncias psicoativas com a intenção de ficarem "intoxicados".Ex: Manduca quinquemaculata (mariposas) que se "alimentam" das flores de Datura meteloides (planta rica em potentes alcalóides com propriedades psicoativas como a atropina) (Samorini, 2002), javalis e primatas que cavam a terra em busca das raízes do poderoso arbusto eboka (Tabernanthe iboga), planta utilizada nas cerimônias das religiões Bwiti, presentes no Congo e no Gabão (África) (Samorini, 2002; Labate, 2003), etc...
Diferentes povos nos mais variados ecossistemas do planeta praticaram e praticam técnicas as mais diversas para atingirem estas alterações de consciência: jejuns, privações sensoriais, tambores, danças e, não menos importante, drogas. baseado em entrevistas e trabalho de campo em diversas partes do mundo, afirma que a "descoberta" dos efeitos de algumas plantas (Cannabis sp.,Tabernanthe iboga, café, etc) foi realizada através da observação do comportamento de alguns animais sob efeito destes vegetais.
O uso de enteógenos por seres humanos existe há, pelo menos, 50 mil anos Em praticamente todos os cantos da Terra existe ou existiu alguma cultura que usa ou usou estes seres vivos com características especiais para as mais diversas finalidades. Dentre alguns destes podemos citar:
(a) Soma (Supostamente Amanita muscaria), cogumelo paleo-siberiano utilizado por caçadores coletores das tribos Tungue e Koriak na Eurásia (b) Peiote (Lophophora sp.), cacto cultuado pelos Astecas e atualmente pelos índios huicholes do, possuí mais de 55 alcalóides diferentes .(c) Teonanacatl (Psilocybe sp.), cogumelos utilizados ritualmente pelos Maias, Mazatecas e outros grupos indpigenas na região de Oaxaca, México , guatemala e varias outras civilizações antigas.(d) Ololiuqui (Rivea corymbosa, Ipomoea violacea), a trepadeira mágica dos Astecas e Mazatecas, ainda hoje seus descendentes a utilizam com finalidades divinatórias, terapêuticas e mágicas (e) Bangue (Cannabis sativa, C. indica, C. ruderalis), planta que se encontra cultivada em praticamente todo o planeta, seu uso como medicamento, sacramento oupara fins recreativos permeia a história de povos na Índia (os sadhus, ou homens santos), na África (principalmente Etiópia e Serra Leoa), Ásia (usada para fins meditativos no Budismo Tântrico, por exemplo), Américas (tribos indígenas como os Cuna no Panamá, os Cora, Tepehua, e os Tepecanos no México a chamam de Santa Rosa, Rosa Maria, etc, e algumas tribos brasileiras também a utilizam, por exemplo, para fazer roçado, como os Tenetehara do Maranhão) embora o principal psicoativo presente na Cannabis sp. seja o já amplamente conhecido Δ9 -tetrahidrocanabinol, em um recente simpósio (I Simpósio Cannabis sativa L e Substâncias Canabinóides em Medicina, São Paulo, 15 e 16 de abril de 2004 – CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, Dep. De Psicobiologiada UNIFESP/EPM e SENAD Secretaria Nacional Antidrogas) foram relatadas mais de 66 substâncias diferentes presentes na maconha; (F) Paricá, epená, cohoba, yopo, vilca, cébil (Anadenanthera peregrina, A. colubrina, Virola sp.), utilizada por grupos indígenas, por exemplo, na fronteira entre Brasil e Venezuela - os Yanomami - como um pó para inalação (rapé) (g) Jurema (Mimosa hostilis), uma leguminosa que foi utilizada para caçar e guerrear entre os índios do nordeste brasileiros e atualmente é usada, entre outras finalidades, para fins mágicos entre raizeiros e indígenas. (h) Ayahuasca (Banisteriopsis sp. e combinações), seu uso foi relatado entre, pelo menos, 72 grupos indígenas diferentes que habitam, na maioria dos casos, a Amazônia Ocidental. Etc...
Neste pequeno trabalho pretendo realizar uma abordagem cultural e simbólica da importância que estes seres divinos possuem nos diversos contextos em que são utilizados. De uma maneira geral podemos afirmar que estas substâncias estão envolvidas em aspectos mágico-religiosos, embora existam exceções. Não pretendo realizar um estudo minucioso de cada um destes vegetais, mas tentar abordar de uma maneira genérica o importante papel que estes possuem na cosmologia, ordem social, ritos de passagem, rituais de cura e no processo do morrer nas culturas em que são consumidos. Historicamente, estas plantas, consideradas plantas-espíritos ou plantasprofessoras, vêm sendo usadas para diversos fins (finalidades e, respectivamente, citações bibliográficas, não exaustivas):
Reforço da identidade ética, Coesão social, Transmissão de valores culturais , Produção artística, Morte simbólica do ego, Autoconhecimento , Resolução de conflitos sociais, Feitiçaria , Caça, Obtenção de poder político e cósmico , Metamorfosear-se em animais, Divinação, Comunicação com as divindades e aconselhamento pelos espíritos, Atingir estados de , Treinamento do xamã , Indução de sonhos para prever o futuro, Profecias, Telepatia; clarividência, Descobrir o paradeiro de pessoas desaparecidas, Obter visões diagnósticas para a prescrição de remédios, Identificar o inimigo causador do mal ou o agente causador do mal, Analgésico, anti-espasmódico, anti-diurético, anti-reumático, contra picadas de cobra, anti-febre-amarela, Atingir estados de intoxicação, êxtase e periódicos estados prazerosos.
Observando a vasta, mas não exaustiva lista de possibilidades de usos destes agentes, verificamos que o uso de drogas em nossa sociedade (de uma maneira patológica) é a exceção, e não a regra. Pesquisadores respeitados como Abert Hofmann(descobridor do LSD-25) e Giorgio Samorini referem-se a esta atual situação do uso de drogas em nossa cultura como uma desacralização/profanação (Hofmann) ou desculturação (Samorini, 2002). O que estes autores (e tantos outros) afirmam é que o uso destes professores vegetais sempre esteve cercado de ética, moral e regras de conduta ratificadas pelos valores culturais. O antropólogo Edward MacRae (1992) disserta sobre como sanções socioculturais empregadas por grupos que fazem um uso ritualizado de psicoativos são mais eficazes que as leis proibicionistas de grande parte das nações quando comparamos os efeitos sociais do controle e forma de uso destes diferentes pontos de vista. Alberto Groisman (2000), em sua tese de doutorado sobre as igrejas do Santo Daime na Holanda, afirma que, na maioria das vezes, os aspectos socioculturais são mais importantes (e, inclusive, moldam/controlam) nas experiências com psicoativos do que os aspectos psicofarmacológicos. Com estes argumentos – que não são exaustivos – podemos observar e, pelo menos, reavaliar nossa postura perante o atual modelo de relação que temos com os psicoativos em geral e, especialmente, com os enteógenos. Esta atual "guerra contra as drogas" mostra-se, cada vez mais, uma guerra etnocida, como já havia dito o antropólogo Anthony Henman em 1986.
Fonte : Nucleo De Estudos interdisciplinares Sobre Psicoativos
O uso intencional de substâncias psicoativas com o objetivo de se criar estados alterados de consciência é uma prática que existe há milhares de anos. Vários grupos de animais (desde os mais primitivos) usam substâncias psicoativas com a intenção de ficarem "intoxicados".Ex: Manduca quinquemaculata (mariposas) que se "alimentam" das flores de Datura meteloides (planta rica em potentes alcalóides com propriedades psicoativas como a atropina) (Samorini, 2002), javalis e primatas que cavam a terra em busca das raízes do poderoso arbusto eboka (Tabernanthe iboga), planta utilizada nas cerimônias das religiões Bwiti, presentes no Congo e no Gabão (África) (Samorini, 2002; Labate, 2003), etc...
Diferentes povos nos mais variados ecossistemas do planeta praticaram e praticam técnicas as mais diversas para atingirem estas alterações de consciência: jejuns, privações sensoriais, tambores, danças e, não menos importante, drogas. baseado em entrevistas e trabalho de campo em diversas partes do mundo, afirma que a "descoberta" dos efeitos de algumas plantas (Cannabis sp.,Tabernanthe iboga, café, etc) foi realizada através da observação do comportamento de alguns animais sob efeito destes vegetais.
O uso de enteógenos por seres humanos existe há, pelo menos, 50 mil anos Em praticamente todos os cantos da Terra existe ou existiu alguma cultura que usa ou usou estes seres vivos com características especiais para as mais diversas finalidades. Dentre alguns destes podemos citar:
(a) Soma (Supostamente Amanita muscaria), cogumelo paleo-siberiano utilizado por caçadores coletores das tribos Tungue e Koriak na Eurásia (b) Peiote (Lophophora sp.), cacto cultuado pelos Astecas e atualmente pelos índios huicholes do, possuí mais de 55 alcalóides diferentes .(c) Teonanacatl (Psilocybe sp.), cogumelos utilizados ritualmente pelos Maias, Mazatecas e outros grupos indpigenas na região de Oaxaca, México , guatemala e varias outras civilizações antigas.(d) Ololiuqui (Rivea corymbosa, Ipomoea violacea), a trepadeira mágica dos Astecas e Mazatecas, ainda hoje seus descendentes a utilizam com finalidades divinatórias, terapêuticas e mágicas (e) Bangue (Cannabis sativa, C. indica, C. ruderalis), planta que se encontra cultivada em praticamente todo o planeta, seu uso como medicamento, sacramento oupara fins recreativos permeia a história de povos na Índia (os sadhus, ou homens santos), na África (principalmente Etiópia e Serra Leoa), Ásia (usada para fins meditativos no Budismo Tântrico, por exemplo), Américas (tribos indígenas como os Cuna no Panamá, os Cora, Tepehua, e os Tepecanos no México a chamam de Santa Rosa, Rosa Maria, etc, e algumas tribos brasileiras também a utilizam, por exemplo, para fazer roçado, como os Tenetehara do Maranhão) embora o principal psicoativo presente na Cannabis sp. seja o já amplamente conhecido Δ9 -tetrahidrocanabinol, em um recente simpósio (I Simpósio Cannabis sativa L e Substâncias Canabinóides em Medicina, São Paulo, 15 e 16 de abril de 2004 – CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, Dep. De Psicobiologiada UNIFESP/EPM e SENAD Secretaria Nacional Antidrogas) foram relatadas mais de 66 substâncias diferentes presentes na maconha; (F) Paricá, epená, cohoba, yopo, vilca, cébil (Anadenanthera peregrina, A. colubrina, Virola sp.), utilizada por grupos indígenas, por exemplo, na fronteira entre Brasil e Venezuela - os Yanomami - como um pó para inalação (rapé) (g) Jurema (Mimosa hostilis), uma leguminosa que foi utilizada para caçar e guerrear entre os índios do nordeste brasileiros e atualmente é usada, entre outras finalidades, para fins mágicos entre raizeiros e indígenas. (h) Ayahuasca (Banisteriopsis sp. e combinações), seu uso foi relatado entre, pelo menos, 72 grupos indígenas diferentes que habitam, na maioria dos casos, a Amazônia Ocidental. Etc...
Neste pequeno trabalho pretendo realizar uma abordagem cultural e simbólica da importância que estes seres divinos possuem nos diversos contextos em que são utilizados. De uma maneira geral podemos afirmar que estas substâncias estão envolvidas em aspectos mágico-religiosos, embora existam exceções. Não pretendo realizar um estudo minucioso de cada um destes vegetais, mas tentar abordar de uma maneira genérica o importante papel que estes possuem na cosmologia, ordem social, ritos de passagem, rituais de cura e no processo do morrer nas culturas em que são consumidos. Historicamente, estas plantas, consideradas plantas-espíritos ou plantasprofessoras, vêm sendo usadas para diversos fins (finalidades e, respectivamente, citações bibliográficas, não exaustivas):
Reforço da identidade ética, Coesão social, Transmissão de valores culturais , Produção artística, Morte simbólica do ego, Autoconhecimento , Resolução de conflitos sociais, Feitiçaria , Caça, Obtenção de poder político e cósmico , Metamorfosear-se em animais, Divinação, Comunicação com as divindades e aconselhamento pelos espíritos, Atingir estados de , Treinamento do xamã , Indução de sonhos para prever o futuro, Profecias, Telepatia; clarividência, Descobrir o paradeiro de pessoas desaparecidas, Obter visões diagnósticas para a prescrição de remédios, Identificar o inimigo causador do mal ou o agente causador do mal, Analgésico, anti-espasmódico, anti-diurético, anti-reumático, contra picadas de cobra, anti-febre-amarela, Atingir estados de intoxicação, êxtase e periódicos estados prazerosos.
Observando a vasta, mas não exaustiva lista de possibilidades de usos destes agentes, verificamos que o uso de drogas em nossa sociedade (de uma maneira patológica) é a exceção, e não a regra. Pesquisadores respeitados como Abert Hofmann(descobridor do LSD-25) e Giorgio Samorini referem-se a esta atual situação do uso de drogas em nossa cultura como uma desacralização/profanação (Hofmann) ou desculturação (Samorini, 2002). O que estes autores (e tantos outros) afirmam é que o uso destes professores vegetais sempre esteve cercado de ética, moral e regras de conduta ratificadas pelos valores culturais. O antropólogo Edward MacRae (1992) disserta sobre como sanções socioculturais empregadas por grupos que fazem um uso ritualizado de psicoativos são mais eficazes que as leis proibicionistas de grande parte das nações quando comparamos os efeitos sociais do controle e forma de uso destes diferentes pontos de vista. Alberto Groisman (2000), em sua tese de doutorado sobre as igrejas do Santo Daime na Holanda, afirma que, na maioria das vezes, os aspectos socioculturais são mais importantes (e, inclusive, moldam/controlam) nas experiências com psicoativos do que os aspectos psicofarmacológicos. Com estes argumentos – que não são exaustivos – podemos observar e, pelo menos, reavaliar nossa postura perante o atual modelo de relação que temos com os psicoativos em geral e, especialmente, com os enteógenos. Esta atual "guerra contra as drogas" mostra-se, cada vez mais, uma guerra etnocida, como já havia dito o antropólogo Anthony Henman em 1986.
Fonte : Nucleo De Estudos interdisciplinares Sobre Psicoativos
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