14 janeiro, 2016

Agora é oficial: Ibogaína só em hospital



Já faz muito tempo que a gente aqui no blog vem falando que é importante que o tratamento com ibogaína seja feito em ambiente hospitalar, por questões de segurança clínica.

Além disso, a gente também sempre insiste que é importante o acompanhamento de médico, e também o acompanhamento psicoterapêutico, além de exames de sangue e eletrocardiograma antes da aplicação.. mas muitas pseudo-clínicas por aí banalizam essas necessidades, argumentando que é exagero. Não é exagero não, é fundamental, o que acontece é que essas pessoas não entendem o suficiente do assunto para poder argumentar, e tem interesse em cobrar caro dos pacientes mas sem oferecer um bom serviço em troca.

Bem, sensibilizado com essa situação, o CONED SP (Conselho Estadual de Políticias Sobre Drogas) publicou hoje, 16 de Janeiro de 2016, no Diário Oficial do Estado, (Diário Oficial do Estado de São Paulo, v. 126, n. 8, Poder Executivo, Seção I, 14 de janeiro de 2016, p.8. ) resoluções que tornam a partir de agora, obrigatório que esse tipo de tratamento seja realizado em ambiente hospitalar, com acompanhamento médico e psicológico.

Parabéns ao CONED SP pela postura, essa atitude pode até salvar vidas.
Em breve, essa regulamentação será estendida a todos os outros estados.

E as pessoas que querem fazer esse tratamento em si mesmas ou em entes queridos, devem ter isso em mente, o tratamento com ibogaína é um procedimento médico que deve ser feito em um hospital.

Abaixo a íntegra do texto:

CONSELHO ESTADUAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS

Comunicado 

O Presidente do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas – CONED-SP, em atendimento à deliberação adotada na 90º Reunião Ordinária de 29-10-2015, edita, nos termos do Art. 9º da Resolução SJDC-055, de 26-6-2013, os seguintes Enunciados: 

Enunciado CONED-SP Nº 01, de 29-10-2015 O uso de substâncias alucinógenas ou onirofrênicas para o tratamento do uso problemático de substâncias psicoativas deve ser considerado uma opção que exige investigação científica. 

Enunciado CONED-SP Nº 02, de 29-10-2015 A pesquisa científica com o uso de substâncias alucinógenas ou onirofrênicas, inclusive para o desenvolvimento de opções de tratamento para o uso problemático de substâncias psicoativas, deve ser estimulada financeiramente pelas instituições de fomento de modo a garantir a realização de pesquisas quantitativas, qualitativas e estudos clínicos aleatorizados controlados. 

Enunciado CONED-SP Nº 03, de 29-10-2015 Os compostos semissintéticos ou sintéticos baseados nos princípios ativos da Tabernanthe iboga e outras espécies do gênero Tabernaemontana (família Apocynaceae), devem ter o seu potencial terapêutico no tratamento do uso problemático de substâncias psicoativas investigado por intermédio de pesquisa científica. 

Enunciado CONED-SP Nº 04, de 29-10-2015 Os princípios ativos derivados da Tabernanthe iboga e outras espécies do gênero Tabernaemontana (família Apocynaceae), particularmente as formulações de ibogaína, somente podem ser administrados, para o tratamento do uso problemático de substâncias psicoativas, em ambiente hospitalar, com supervisão e controle médicos, atendendo ao exercício da profissão e às recomendações da boa prática clínica, incluindo criteriosos exames clínicos e psiquiátricos, bem como avaliação psicológica e acompanhamento psicoterapêutico.  

SÃO PAULO. Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas. Comunicado. Diário Oficial do Estado de São Paulo, v. 126, n. 8, Poder Executivo, Seção I, 14 de janeiro de 2016, p.8.




 


 

08 abril, 2015

Abstinência Pré-Ibogaína

Bem, muitas perguntas são dirigidas ao blog, sobre a necessidade ou não da abstinência prévia de 30 dias antes da aplicação. A maioria das clínicas que existem por aí não pedem essa abstinência, e usam até essa conduta como estratégia comercial, tipo, "aqui você pode tomar ibogaína na hora, não precisa esperar". O fato é que isso demonstra desconhecimento do assunto. Fizemos essa pergunta ao Dr. Bruno Rasmussen, (brunodrc@terra.com.br) médico, um dos autores do trabalho sobre ibogaína publicado pela UNIFESP, e ele explicou o seguinte:

"O período de 10 a 15 dias após a parada de uso de cocaína ou crack, é um período onde o coração da pessoa usuária está se adaptando ao não-uso, ou à abstinência. Por isso, ele bate mais devagar do que o normal nessa fase. Isso está bem estudado cientificamente, e essa situação é chamada de alargamento do intervalo QT.
O que ocorre é que durante o efeito da ibogaína esse fenômeno também ocorre, o alargamento do intervalo QT, o que leva também a uma certa bradicardia (coração batendo mais devagar).
Se você aplicar ibogaína, que alarga o intervalo QT, nessa fase, onde ele já está alargado, pode desencadear uma bradicardia importante, significativa, que por sua vez pode desencadear outras arritmias e até risco de morte.
Então, a aplicação de ibogaína antes de 30 dias de abstinência é formalmente contra-indicada do ponto de vista médico, por questões de segurança."

Assim sendo, atenção, se o local onde você pretende se tratar não demonstrar conhecimento dessa situação ou banaliza-la, fuja. Eles simplesmente não sabem o que estão fazendo.

Um outro detalhe importante, é que nessa fase também a ibogaína faz menos efeito e a abstinência após o tratamento não dura muito. Se você conhece alguém que tomou ibogaína e não teve um bom resultado, pergunte se essa pessoa ficou abstinente por 30 dias... a maioria das vezes não, esse é o principal motivo de insucesso neste tipo de tratamento.

14 outubro, 2014

Querendo entender sobre ibogaína?

Nas últimas semanas o interesse das pessoas pela ibogaína tem aumentado, consequência de notícias promissoras vindas de uma pesquisa da UNIFESP que mostrou uma eficácia boa desse tipo de tratamento.

Assim, para facilitar, já que o Blog tem muitas postagens, aqui está uma lista das postagens mais importantes para quem quer começar a se informar sobre o assunto.


Desmistificando a ibogaína

Pensando em tomar ibogaína? Leia isto primeiro

Conselhos antes de fazer um tratamento com ibogaína

Cuidado com os tratamentos piratas!



Ibogaína na grande mídia

 
A reportagem abaixo se refere ao trabalho da equipe da UNIFESP e do Plantando Consciência que publicaram importante pesquisa.
 
 

Contra vício, pesquisa usa substância semelhante à ayahuasca

A pesquisa indicou que a ibogaína é pelo menos cinco vezes mais eficiente para interromper a dependência química do que tratamentos convencionais

Daniel Mello, da

              
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Terpsichore/WikimediaCommons
Preparo de ayahuasca

Preparo de ayahuasca: a ibogaína tem efeitos semelhantes aos da ayahuasca, mas é mais potente

São Paulo - Estudo feito pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) indicou que a ibogaína é pelo menos cinco vezes mais eficiente para interromper a dependência química do que tratamentos convencionais. A substância é extraída da raiz da iboga, planta encontrada em alguns países africanos.

“Ela é usada desde a pré-história em rituais por tribos no Gabão, na África, que professam uma religião que se chama bwiti. Eles usam essa planta em rituais de entrada na vida adulta”, explicou o médico Bruno Chaves, um dos responsáveis pela pesquisa, em entrevista à Agência Brasil.

O estudo foi feito com 75 pacientes, entre usuários de crack, cocaína e álcool, entre janeiro de 2005 e março de 2013. Dos 67 pacientes homens, 55% ficaram livres do vício por, pelo menos, um ano. Entre as oito mulheres, a taxa foi 100%.
Os tratamentos convencionais interrompem o vício em um índice que varia de 5% a 10% dos casos. Os resultados do trabalho inédito foram publicados no The Journal of Psychopharmacology, da Inglaterra, uma importante publicação na área de psicofarmacologia.
Os participantes da pesquisa eram pessoas com histórico de dificuldades em deixar o vício. “A gente tem pacientes nesse grupo que, com 30 anos de idade, registram mais de 30 internações”, exemplificou Chaves.
Eles passaram por uma avaliação psiquiátrica e uma preparação psicológica antes de serem submetidos ao tratamento. “É importante que o paciente esteja motivado para aproveitar o efeito da ibogaína”, acrescentou o médico sobre o processo de seleção.
A ibogaína tem efeitos semelhantes aos da ayahuasca, bebida feita de plantas amazônicas usada em cerimônias religiosas. “A diferença é que a ibogaína é muito mais potente do que a ayahuasca. Para você ter uma ideia, o efeito da ayahuasca dura quatro horas. A da ibogaína dura de 24 a 48 horas”, explicou Chaves sobre a substância, que causa a sensação de expansão de consciência.
"O paciente começa a perceber melhor o que ele representa na vida, qual é a função dele no planeta, quais são as coisas que está fazendo certo, o que está fazendo errado”, detalhou o médico que acompanhou os pacientes durante a administração da medicação.
Na maioria dos casos, com apenas uma dose, o medicamento corta a vontade de usar drogas e impede crises de abstinência. “Ela equilibra a quantidade de neurotransmissores que há no cérebro e isso faz com que o paciente tenha uma sensação de bem-estar definitiva, não é só durante o efeito da medicação. A impressão que dá é que a ibogaína interrompe o processo que leva à dependência química”, explica Chaves.
Ao acabar com o interesse pela droga, o paciente tem, segundo o médico, mais facilidade de seguir com outras etapas do tratamento, como o acompanhamento psicológico, e retomar as atividades cotidianas. Ele alerta, no entanto, para que não seja feito o uso independente da substância, que pode ter feitos colaterais, como tontura, enjoo e confusão mental, durante o período de efeito.
O objetivo agora, de acordo com Chaves, é conseguir financiamento para um estudo mais amplo, com um número maior de pacientes e testes que possam mostrar os efeitos da ibogaína no cérebro.

30 setembro, 2014

Trabalho científico sobre o uso de ibogaína na dependência química


Foi publicado na revista Journal of Psychopharmacology, conceituado periódico científico britânico, o trabalho dos pesquisadores brasileiros da UNIFESP sobre o uso de ibogaína no tratamento da dependência química.

Treating drug dependence with the aid of ibogaine: a retrospective study. Schenberg, Comis, Chaves e Silveira, Journal of Psychopharmacology, 2014. DOI:

É o primeiro trabalho desse tipo publicado no mundo, focando no tratamento de dependência de estimulantes (cocaína, crack).

Já tínhamos falado desse trabalho em um post anterior, quando o projeto foi aprovado pela comissão de ética da UNIFESP.







Os autores desse trabalho são:

Eduardo Schenberg, Neurocientista, Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Psiquiatria
eduardoschenberg@gmail.com

Maria Angélica de Castro Comis, Psicóloga, Instituto Plantando Consciência

Bruno Rasmussen Chaves, Médico Clínico, Instituto Hermelino Agnes de Leão, Ourinhos-SP
brunodrc@terra.com.br

Dartiu Xavier da Silveira, Médico Psiquiatra, PROAD - UNIFESP


Os resultados foram muito bons, 72% dos pacientes ficaram abstinentes por um período mínimo de 1 ano, o que é muitas vezes mais do que os tratamentos habituais, que tem uma eficácia de cerca de 5%.

Não aconteceram reações sérias, nem problemas que não pudessem ser contornados pelos responsáveis pelos pacientes.

A conclusão mais importante do estudo é que "os resultados sugerem que o tratamento com ibogaína, feito em hospital, com acompanhamento médico constante, substância de boa procedência, dose adequada e tratamento psicológico de acompanhamento é eficaz e seguro ."

Interessante que essa conclusão é o que sempre repetimos aqui no blog, tratamento com ibogaína é um procedimento médico, deve ser feito com acompanhamento especializado no assunto, usando ibogaína medicinal, de boa qualidade, não com pessoas iniciantes na área, em ambientes sem estrutura e usando ibogaína de baixa qualidade, isso quando é mesmo ibogaína.


Abaixo, um texto do site Plantando Consciência, um dos parceiros desse trabalho, sobre esse assunto.
O texto vale a pena.


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Plantando Consciência
 
Boghaga

Em Tsogo o verbo boghaga significa “cuidar de”. Na etnomedicina Africana, mais especificamente no Gabão e Camarões, uma planta especial recebeu o nome de eboghe, ou iboga (ou ainda eboga). Para cientistas ocidentais, a planta pertence à família Apocynacae, e recebeu o nome de Tabernanthe iboga. A raiz da iboga é usada há muito tempo em rituais xamânicos da cultura Bwiti para diagnosticar doenças e tratar males da alma. Com elas, os xamãs e os iniciados fazem viagens a reinos incomuns e contactam espíritos, antepassados e obtém informações úteis para o grupo social em que vivem.

bwiti-mougongo

No final do século XIX, durante a colonização da África pelas potências Européias, chegaram na França os primeiros relatos sobre o xamanismo Bwiti. E um exemplar da planta foi coletado na região do Gabão e do Congo por um médico da marinha Francesa. E logo no início do século XX, em 1901, uma molécula foi isolada e cristalizada a partir do extrato da raiz e recebeu o nome de ibogaína. Entre 1939 e 1966 um extrato da planta Tabernanthe manii, que também contém a molécula ibogaína, foi comercializado em comprimidos na França. Era vendido e utilizado principalmente por atletas que o utilizavam como estimulante, que supostamente também aumentava a produção de glóbulos vermelhos no sangue. Mas foi justamente na época em que o Lambarene saiu do mercado Francês que o uso mais intrigante e promissor da ibogaína foi descoberto. E de maneira totalmente inesperada.

howard lotsof pintura reduc

Howard Lotsof era um usuário de psicoativos, e com os amigos gostava de experimentar vários tipos de drogas. Usavam bastante opiáceos, sendo alguns do grupo viciados nas drogas. Certo dia compraram ibogaína de um comerciante, que lhes prometeu uma viagem muito mais louca e forte que qualquer outra coisa. E ele estava certo. O grupo tomou suas doses de ibogaína e alguns tiveram, provavelmente, a viagem mais longa e louca de suas vidas. Profundas alterações na consciência, rememoração de toda a vida e visões de cores, fractais, caleidoscópios e alienígenas são alguns dos efeitos relatados por usuários até hoje. Mas o efeito mais surpreendente de todos só foi notado depois, por Howard Lotsof. Apesar de ser usuário diário de opiáceos, ele só pensou novamente em usar heroína uns 3 dias após a experiência com a ibogaína. E quando isso aconteceu, ele imediatamente se surpreendeu. Aquilo era verdadeiramente incomum. Ele pensava em se drogar o tempo todo, de fato se drogava quase todos os dias. E de repente passou 3 dias com pensamentos em outros lugares, mas não nas drogas.

De lá pra cá a ibogaína se tornou um fenômeno underground nos círculos de abuso de drogas. Mas não porque as pessoas queiram usar ibogaína pra ter viagens loucas, como fez Lotsof, e sim porque as pessoas estão buscando, algumas desesperadamente, se livrar daquilo que a psiquiatria chama de dependência química: o uso abusivo, descontrolado, repetitivo e despropositado de drogas. Hoje estima-se que, no mundo, existem algumas centenas de milhares de usuários de drogas. E uma pequena parcela destes usuários, entre 10 e 20%, são considerados pela psiquiatria como dependentes químicos. Pra estas pessoas, que ficam dependentes, há muitas alternativas de tratamento, tanto no Brasil quanto no exterior. Igrejas, Alcoólicos Anônimos (AA), grupos de ajuda mútua, comunidades terapêuticas e diversas formas de psicoterapia. O problema é que a maioria destas opções, pra maioria dos pacientes, não funciona. Nos melhores casos, cerca de 30% dos participantes de determinado tratamento param de usar drogas. E frequentemente os casos de sucessos ficam abaixo dos 10%.

Outro fator que chama atenção é a quase absoluta falta de tratamentos farmacológicos para a dependência química. Se a medicina se desenvolveu rápida e bruscamente tendo como uma de suas principais ferramentas a farmacologia – comprimidos, pílulas, xaropes e até mesmo injeções – o tratamento da dependência química ficou pra trás. No caso dos opióides, bastante utilizados na América do Norte, há algumas opções de substituição, como por exemplo a metadona, que é oferecida como opção para usuários de heroína e morfina. Mas a metadona também vicia e causa vários problemas de saúde, e é bastante discutível se é um tratamento de fato, ou apenas a troca de uma droga ilegal por uma legalizada. Já no caso das bebidas alcoólicas, cigarro, cocaína e crack, bastante utilizados no Brasil, praticamente não há intervenção farmacológica disponível. Quando as pessoas estão passando pela famosa e difícil fase das fissuras – vontades quase que incontroláveis de usar droga novamente – é comum o uso de fármacos calmantes, os ansiolíticos, ou benzodiazepínicos. Mas isso não é exatamente um tratamento farmacológico para a dependência química propriamente dita, e sim um auxílio para a grande ansiedade que os pacientes sentem nesta fase.

Temos então um problema recorrente em nossa sociedade, de pessoas que abusam de drogas, alguns se viciam, e não temos remédios para ajudá-los a sair desse estilo de vida prejudicial e danoso. E é então como alternativa para ajudar estas pessoas que a ibogaína se destaca. Hoje foi publicado pelo Journal of Psychopharmacology, revista científica especializada em pesquisas variadas sobre substâncias psicoativas, o resultado de nossa pesquisa com ibogaína, conduzida nos últimos 3 anos. De maneira resumida, o que encontramos após entrevistar 75 pacientes dependentes foi que, após participarem no tratamento com ibogaína, 72% foram encontrados abstinentes. Esta taxa de sucesso inclui alguns pacientes que estavam abstinentes, mas com ajuda de outros tratamentos que foram buscar após o tratamento com ibogaína. Mesmo se descontarmos estes da taxa de sucesso, ficamos ainda com 61% dos pacientes se declarando totalmente abstinentes. Isto é ainda mais impressionante quando consideramos que vários destes pacientes já tinham feito outros tratamentos antes, de que começaram a usar drogas muito cedo, antes dos 15 anos (alguns começaram a beber álcool antes dos10) mas não conseguiam parar. E o tempo que ficaram abstinentes é igualmente impressionante: cerca de 5 meses pra quem tomou ibogaínba apenas uma vez e de mais de 8 meses pra quem tomou ibogaína mais de uma vez, sempre no hospital, acompanhado pelo médico responsável.

Mas nem tudo em tratamento de dependência se mede apenas com abstinência. Muitos haviam se divorciado, perdido emprego, abandonado a faculdade e se distanciado dos filhos. Alguns retomaram os estudos, outros voltaram a cuidar dos filhos e teve paciente inclusive que voltou a viver com a ex-mulher. Tudo isso nos indica que de fato a ibogaína tem um potencial extraordinário em ajudar abusadores de drogas a mudarem seu estilo de vida e a se reintegrarem na sociedade, redefinirem suas prioridades e objetivos de vida. Mas fica a questão: como a ibogaína ajuda estas pessoas a largarem um vício que tantos outros tratamentos fracassam? Pra entender melhor o que acontece, precisamos olhar além dos números e escutar estes pacientes, suas histórias, sua experiências psicodélicas com esta poderosa molécula. A jornada interior com a ibogaína é longa, profunda e muitas vezes bem dolorosa, até mesmo apavorante. Mas o resultado pode ser extremamente libertador, caso o paciente esteja disposto a enfrentar seus problemas, dores e traumas. E é aí que a atitude da equipe médica e psicológica pode fazer muita diferença. Algumas destas questões serão tema de um artigo vindouro, mas resultados parciais podem ser acompanhados no vídeo abaixo.



É importante também garantir a segurança de quem toma ibogaína. Em nosso estudo não encontramos nenhum caso de efeitos adversos graves, como surtos psicóticos, e também não houveram fatalidades. Isto é importantíssimo pois há relatos na literatura científica de casos em que o uso de ibogaína resultou em morte. Entretanto, sequer sabemos se nestes casos a substância ingerida foi de fato a ibogaína ou algum extrato contendo outras coisas, ou sequer contendo ibogaína. E também não sabemos a dose. Isto acontece pois em países como os EUA a ibogaína é proibida, simplesmente por ser considerada uma substância psicodélica. E isto leva os tratamentos a serem feitos em condições inadequadas, o que muito provavelmente está relacionado as fatalidades que ocorreram. Mas em uma condição jurídica favorável, como é atualmente no Brasil, verificamos que o tratamento médico feito com ibogaína farmacêutica de pureza bem estabelecida e dose conhecida, em ambiente hospitalar com acompanhamento médico e psicológico, não resultou em qualquer fatalidade ou evento adverso.

Concluímos portanto que sim, a ibogaína possui um potencial extraordinário para ajudar a “cuidar de” pacientes com uso problemático de psicoativos diversos. Sendo este cuidado feito dentro de ambiente terapêutico com acompanhamento médico, substância de procedência conhecida, dose precisamente estabelecida e apoio psicológico para atravessar a profunda jornada interior eliciada por esta substância, podemos estar testemunhando o nascimento de um novo e fascinante tratamento dentro da medicina psicodélica. Mas pra chegar lá, precisamos ainda aprofundar os estudos de segurança e eficácia, o que já estamos elaborando para o futuro próximo das pesquisas do Plantando Consciência.

E desde já fica nosso agradecimento especial a todos os pacientes que, voluntariamente, participaram desta pesquisa! E se você puder colaborar, clique abaixo e faça uma doação pela continuação destes estudos que foram, até o momento, 100% financiados pelo Plantando Consciência (Você também pode doar depositando diretamente em nossa conta corrente no Banco do Brasil, agência 6986-8 conta número 7459-4).

Referência: Treating drug dependence with the aid of ibogaine: a retrospective study. Schenberg, Comis, Chaves e Silveira, Journal of Psychopharmacology, 2014. DOI:

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A ibogaína "cuida" das pessoas, naquilo que elas necessitam, seja o que for.

03 junho, 2014

Como Psicodélicos estão salvando vidas

 
 
Vídeo bastante informativo. É importante nos despirmos de nossos preconceitos e perceber que realmente existem mais opções por aí do que gostariam de que soubéssemos....
A citação à ibogaína está aos 3:28 minutos.
 
Créditos:
 
Link original

26 abril, 2014

Aspectos legais relacionados ao tratamento com ibogaína


Nas últimas semanas temos visto uma inundação de notícias na mídia sobre a liberação, pela ANVISA,  do uso de medicamentos derivados da Cannabis Sativa (popularmente conhecida como maconha), para uso em pacientes (a maioria crianças) com quadros de convulsões incontroláveis.

Essa medida demostra sensibilidade e deve ser louvada. Parabéns à ANVISA.

A agência inclusive divulgou uma nota onde orienta como deve ser feita a importação desse tipo de medicamento.

Nessas situações, o problema não é a substância, mas o uso que se faz dela.

Coincidentemente, algumas destas orientações da ANVISA tambem servem para a ibogaína medicinal.

Apesar da ibogaína não ser restrita nem controlada no Brasil, e muito menos proscrita, como a Cannabis, o fato da ibogaína medicinal de referência não ser registrada no Brasil faz com que ela esteja sujeita às mesmas regras de importação. A diferença é que no caso da ibogaína, não é necessária a autorização prévia, por não se tratar de substância considerada droga ou entorpecente ou precursora nem submetida a regime especial. (Decreto nº 79094/1977 Art. 11, § 3º)

Observe na nota da ANVISA que é importante para que a importação seja legalizada que a medicação seja importada para uso pessoal e que o medicamento a ser importado, apesar de não registrado no Brasil, seja registrado em seu país de origem ou em outros países.

Além disso, para a importação ser legal é necessário que haja uma prescrição médica desse medicamento.

Então chegamos ao ponto: quando a pessoa decide que vai fazer um tratamento com ibogaína, aí então deve começar o processo de importação...com a prescrição do médico o medicamento é comprado no exterior e enviado ao Brasil no nome do paciente.

Essa medicação passa pela ANVISA nos aeroportos e é então liberada, desde que esteja cumprindo todas as normas de envase, rotulagem, lacre de segurança, datas de fabricação e validade, etc.

Então, locais onde se agenda o tratamento e já contam com a medicação disponível, já demonstram apenas aí, a irregularidade da situação, pois deveriam aguardar a encomenda para então comprar o medicamento. Se já tem o medicamento disponível é porque esse "medicamento" (se é que podemos chamá-lo assim, pois não tem origem conhecida nem é fabricado segundo as boas práticas farmacêuticas) entrou no Brasil "por baixo do pano", e fazendo assim, tanto quem vende como quem
compra está violando o artigo 273 do código Penal, sujeitando-se a penas altas.

Então, como já dissemos em outros posts, cuidado com essas ibogaínas "piratas", "similares" ou "genéricas", que são importadas irregularmente e não tem controle de qualidade algum, podendo causar mais prejuízos do que benefícios.

Temos aqui no Brasil uma variedade de profissionais não médicos realizando esses tratamentos, curiosos, massoterapeutas, enfermeiros, e até padres !!!

Algumas dessas pessoas talvez até estejam bem intencionadas, outras com certeza nem tanto, mas todas estão colocando os pacientes em risco.

Fora os casos de pessoas que compram a substância pela internet, pensando em tomar em casa, sem absolutamente nenhuma assistência.

Ibogaína é um procedimento médico. Deve ser realizada em ambiente hospitalar com acompanhamento médico.

A própria ANVISA reconhece isso, quando exige uma receita para que o remédio possa ser importado.

Então, resumindo, existe sim uma maneira de se fazer um tratamento com ibogaína, no Brasil, totalmente dentro da legalidade: basta apenas utilizar-se de medicamento que seja registrado em seu país de origem, validado por uma receita médica, e em nome do paciente, para uso pessoal.

A desvantagem de se fazer assim é que se tem de esperar uns dias pela chegada da medicação e pela liberação da medicação no aeroporto, pela ANVISA, mas será que não vale a pena, para evitar complicações legais depois?