23 fevereiro, 2011

Muito trabalho para coisa nenhuma

A imprensa quis levantar poeira com a foto de Ronaldo Fenômeno fumando dentro de sua casa, na festa que deu para Anderson Silva, lutador do MMA. Ronaldo queixou-se: "Sempre respeitei os fotógrafos e sempre tentei ajudar, só que dessa vez passaram do limite!" E ameaçou processar o fotógrafo. Veja escreveu que Ronaldo fuma desde os tempos do Real Madrid, cerca de dois maços de Marlboro por dia.

É claro que o cigarro não arranhou a imagem do ídolo. Da mesma forma que Ronaldo nunca foi julgado pelo contrato que mantém com a AmBev há mais de dezessete anos, renovado no ano passado até 2020. A imprensa faz estardalhaço porque Ronaldo fuma e não diz nada quando ele promove a venda de cerveja, incitando milhões de jovens a beberem, apesar dos nossos problemas gravíssimos de alcoolismo e de já ocuparmos o primeiro lugar mundial no consumo de álcool.

Somos um país de ética pervertida, de moral frouxa e elástica. Um deputado norte-americano demitiu-se da função, porque mostrou o corpo atlético na internet. Envergonhou-se do que considerou um despudor. No Brasil, ninguém deu a mínima para a nebulosa história de Ronaldo com os três travestis, para as acusações de uso de cocaína e prática de sexo sem preservativo. O Fenômeno queixou-se chorando: "Minha carreira acabou." Acabou nada.

Ronaldo renovou todos os contratos milionários que fazem dele o dono de uma fortuna de um bilhão de reais. Além dos milhões anuais recebidos da Nike, Claro, Vale e Hypermarcas, ele embolsa 2,5 milhões de dólares por ano da AmBev, para aliciar as pessoas a beberem cerveja. Sempre me escandalizava quando o ídolo, muito jovem ainda, levantava um dedo para cima após um gol, marca publicitária da cerveja Brahma, a número 1.

A torcida brasileira estava se lixando para o tabagismo de Ronaldo. Ela queria saber apenas se ele fazia gols, se levava o time para a final dos campeonatos e trazia a vitória. A obesidade de Ronaldo preocupava apenas porque ele não rendia em campo. Mas, se ele chegasse à marca dos 34 gols em 47 jogos, que alcançou no Internazionale de Milão, poderia pesar duzentos quilos. Ninguém se importa que Ronaldo influencie os jovens a beber. Todos acham bacana ele ganhar os anuais dois milhões e meios da AmBev. No Brasil, herói é quem se dá bem e ganha muito dinheiro a qualquer preço. Basta ver a moral do Big Brother.

Devastaram a carreira do nadador norte-americano Michael Phelps, que ganhou oito medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, depois que o flagraram fumando maconha. Seus assessores não conseguiram negociar com o tablóide que a foto não fosse publicada e o caso abafado. É verdade que maconha é uma droga ilícita. O álcool, responsável por acidentes de trânsito, transtornos de comportamento e violência, é lícito e pode-se até fazer propaganda dele, incitando os jovens a beber.

O jogador Edmundo Animal envolveu-se em acidente de carro com vítimas e estava bêbado. Deputados envolvem-se em acidentes de carro com vítimas, estando bêbados. E o que acontece? Nada. A justiça continua cega? Que mal o tabagismo de Ronaldo faz às pessoas, se ele não fuma em lugares públicos e faz questão de não ser visto fumando?

O tabagismo de Ronaldo só faz mal a ele mesmo e aos fumantes passivos que estiverem por perto. Ronaldo atenta contra a própria saude, escolhendo morrer com câncer de pulmão, próstata, bexiga, língua e outros. É um livre arbítrio. Nenhum fumante sofre acessos de violência, comete acidentes de trânsito, mata ou morre por fumar tabaco. Todo o estardalhaço contra a indústria do fumo é justo. E contra o álcool, mil vezes mais preocupante para a segurança e a saude pública, não se faz nada?

Condena-se Ronaldo por fumar, mas ninguém o critica por induzir as pessoas ao alcoolismo. A torcida do Corinthians pichou paredes, depredou carros, jogou pedras no ônibus do time porque ficou fora da Libertadores. Os milhares de brasileiros vítimas de bêbados não jogaram uma única pedra em Ronaldo, nem escreveram um único abaixo assinado pedindo que ele pare de incitar as pessoas ao alcoolismo.

E Ronaldo sobrevive, espertamente, como bem escreveu Shakespeare na comédia Muito barulho por coisa nenhuma: "Pensais que me importam uma sátira ou um epigrama? Não, se um homem se deixa abater pelo que os outros pensam, nada de proveitoso conseguirá para si."

Autor: Ronaldo Correia de Brito é médico e escritor. Escreveu Faca, Livro dos Homens e Galiléia.

Fonte: Terra Magazine

18 fevereiro, 2011

Álcool mata mais que AIDS, tuberculose e violência

O álcool causa quase 4% das mortes no mundo todo, mais do que a Aids, a tuberculose e a violência, alertou a OMS (Organização Mundial da Saúde) nesta sexta-feira (11/02/11).

O aumento da renda tem provocado o consumo excessivo em países populosos da África e da Ásia, incluindo Índia e África do Sul. Além disso, beber em excesso é um problema em muitos países desenvolvidos, informou a agência das Nações Unidas.

No entanto, as políticas de controle do álcool são fracas e ainda não são prioridade para a maioria dos governos, apesar do impacto que o hábito causa na sociedade: acidentes de carro, violência, doenças, abandono de crianças e ausência no trabalho, de acordo com o relatório.

Cerca de 2,5 milhões de pessoas morrem anualmente por causas relacionadas ao álcool, disse a OMS em seu "Relatório Global da Situação sobre Álcool e Saúde".

"O uso prejudicial do álcool é especialmente fatal em grupos etários mais jovens e beber é o principal fator de risco de morte no mundo entre homens de 15 a 59 anos", afirma o relatório.

Na Rússia e na CEI (Comunidade dos Estados Independentes), uma em cada cinco mortes ocorre devido ao consumo prejudicial, a taxa mais elevada do planeta.

A bebedeira, que muitas vezes leva a um comportamentos de risco, agora é prevalente no Brasil, Cazaquistão, México, Rússia, África do Sul e na Ucrânia, e está aumentando entre outras populações, segundo a OMS.

"Mundialmente, cerca de 11% dos consumidores de álcool bebem bastante em ocasiões semanais; os homens superam as mulheres em quatro a cada uma. Eles praticam constantemente um consumo de risco em níveis muito mais elevados do que as mulheres em todas as regiões", disse o relatório.

Em maio passado, ministros da Saúde dos 193 países-membros da OMS concordaram em tentar conter o consumo excessivo de álcool e de outras formas crescentes do uso excessivo por meio de altos impostos sobre bebidas alcoólicas e restrições mais rígidas de comercialização.

Fontes :
Correio do Estado

OMS

16 fevereiro, 2011

Mecanismo de Ação da Ibogaína

É muito importante atualizar a explicação científica sobre o mecanismo de ação da ibogaína, explicação esta que era prevalente na época de 1994 a 2004, de que o efeito anti-dependência era devido a um metabólito de longa duração, a nor-ibogaína. Esta nor-ibogaína ligar-se-ia fracamente a receptores opióides e elevaria os níveis de serotonina. Como muitas explicações, esta revelou-se, atualmente, apenas parcialmente verdadeira.

Em 2005, uma pesquisadora da Universidade da Califórnia, Dorit Don, descobriu a razão pela qual ibogaína é efetiva contra um amplo espectro de drogas aditivas, incluindo metanfetamina e cocaína. Dentro de 6 horas após sua administração, a ibogaína provoca um aumento de 6 a 12 vezes na expressão de um fator de crescimento (GDNF – Glial Cell Derivated Neurothrofic Factor) que não apenas estimula o crescimento dos axônios dos neurônios dopaminérgicos e suas interconexões, mas também provoca um feedback positivo estimulando a fabricação de mais GDNF, fazendo com que a regeneração neural continue mesmo quando a substãncia já foi eliminada do organismo, explicando seu efeito duradouro a longo prazo

Assim sendo, o efeito da Ibogaína ocorre atraves de 3 estágios:

- a combinação do bloqueio (antagonismo) dos receptores NMDA, (como a ketamina), dos receptores nicotínicos alfa 3 beta 4 (como a bupropiona) e agonismo em relação ao receptor opioide kappa, (como a Salvia divinorum), o que faz com que a pessoa consiga perceber o efeito novamente das suas próprias endorfinas, eliminando a abstinência em 30 minutos e a fissura (craving) em 45 minutos;

-uma dose alta de ibogaína ocupa todo o aparato enzimático de metabolização no fígado, fazendo com que a ibogaína excedente e não metabolizada de imediato seja depositada no tecido gorduroso, sendo tambem aos poucos então transformada em nor-ibogaína e elevando de forma consistente e duradoura os níveis de serotonina, melhorando o humor por até 12 semanas;

-Dentro de 48 horas da ingestão, neurônios por todo o cérebro estão produzindo novos receptores de dopamina, (efeito do GDNF), então o paciente não precisa do uso de drogas para aumentar seus níveis de dopamina artificialmente. Este é o efeito mais importante, pois sem dopamina em quantidades adequadas, a maioria dos pacientes recai.

Apenas para esclarecer... me desculpem os leitores leigos e não afeitos a tal profundidade de explicações, mas estas são informações importantes.

Sobre GDNF