03 setembro, 2013

Respeitar a ibogaína!!

       O atual momento da ibogaína merece uma tomada de consciência e um grande senso de responsabilidade das pessoas... Estão aparecendo a cada dia novas pseudo-clínicas, todas alardeando uma experiência e um conhecimento que não possuem, buscando atrair os incautos pacientes e familiares que, desesperados, tentam qualquer coisa sem pensar direito no que estão fazendo.

Como sempre dizemos, o tratamento com ibogaína é um procedimento que não é isento de riscos, deve ser feito em ambiente médico-hospitalar, com o paciente internado, para ser protegido e monitorado. O paciente deve estar limpo de drogas e de remédios por um tempo variável, de acordo com cada situação individual, e deve ser submetido a uma bateria de exames antes do procedimento. E a medicação utilizada, deve ser GMP, ou seja, fabricada segundo as boas práticas farmacêuticas.

Não confie em locais que usam, como diferencial para fazer propaganda, o argumento de que não é necessária internação, nem exames e nem abstinência prévia. Pelo menos  24-48h de internação são necessárias sim, para inclusive  proteger o paciente de qualquer evento adverso .

Existem pessoas que não entendem do assunto e tentam, com essa "facilitação" do tratamento, atrair os desavisados. Mas com essas atitudes colocam em risco a saúde dos pacientes. Muito menos aceite que a medicação seja fornecida para tomar em casa, isso é um risco enorme.

Não confie em locais e sites que dão a entender que a ibogaína é a "cura" da dependência química, isso é simplificar demais um problema sério.

Desde que se descobriram os efeitos anti-dependência da ibogaína, em 1962, ocorreram cerca de 20.000 tratamentos em todo o mundo. Nestes 20.000 tratamentos, ocorreram 19 mortes, todas relacionadas a problemas de saúde prévios ( que teriam sido detectados se o paciente tivesse feito um check-up antes do procedimento) e também a uso de drogas muito perto do uso da ibogaína ( o que teria sido evitado se o paciente estivesse sob vigilância especializada).

Então, não confie em pessoas que menosprezam o poder da substância, que não entendem do assunto e visam apenas lucro.

Não confie tambem em locais que indicam a ibogaína como uma panacéia, que cura tudo, desde a dependência até queda de cabelo. Claramente, isso é uma tentativa de angariar mais pacientes e aumentar os lucros.

Mesmo sendo derivada de uma planta, certos cuidados devem ser tomados. Não é toda medicação derivada de plantas que é "tranquila" ou "fraquinha", quem fala isso demonstra que não entende do assunto.

A ibogaína é muito eficiente, principalmente se comparada aos outros tratamentos disponíveis, mas para atingir bons resultados, é necessária uma expertise que alguns locais que fazem propaganda disseminada não possuem.

Apenas a título de informação, aqui está o link para um trabalho científico comentando essas mortes às quais me referi. Observe como no texto é dito que esses casos todos foram de pacientes com problemas de saúde prévios, usando medicação de origem desconhecida...Exatamente o que se está oferecendo por aí...Isso mostra que não é um exagero tomar certas precauções para que tudo corra bem, não é mesmo?


25 junho, 2013

Conselhos antes de fazer um tratamento com Ibogaína

Fonte: ICEERS



Interessado em tomar iboga?

Se você está interessado em participar de uma sessão de iboga para o tratamento da dependência, a psicoterapia ou o crescimento pessoal, há questões muito importantes que você deve estar ciente. Este etnobotânico pode ter um grande potencial terapêutico, se utilizado em condições controladas, assim como alguns riscos se utilizados de modo não profissional. Aqui você encontra informações sobre questões importantes envolvidas no uso da iboga.

Tomando a decisão

Decidindo a tomar iboga

A decisão de tomar a ibogaína deve ser sempre sua, não do seu pai, mãe, marido, esposa ou amigo. É algo sério que pode não ser fácil e requer um difícil trabalho pessoal. A verdadeira motivação deve ser a base para esta decisão. Se não, provavelmente não ocorrerá o resultado que seu parente esperava, o que poderia até mesmo causar culpa e conflito entre o relativo e o indivíduo se a experiência for muito desafiadora.

As questões-chave na tomada de tal decisão são: "Por que eu quero tomar ibogaína? Estou disposto a enfrentar meus aspectos pessoais mais difíceis de uma forma tão drástica?" Há outras alternativas para a ibogaína, seja para o tratamento da dependência, a psicoterapia ou o crescimento pessoal. Alguns podem ser mais eficazes do que outros, alguns mais lentos, outros mais rápidos. A ibogaína é uma ferramenta terapêutica extremamente eficiente, mas sua potência e a experiência induzida pode ser demais para algumas pessoas.

Esteja informado sobre os potenciais riscos e benefícios, critérios de exclusão e efeitos antes de decidir se deseja ou não ir em frente.

Centros de ibogaína

Ao escolher um centro de ibogaína, um programa de psicoterapia ou uma sessão de crescimento pessoal, existem alguns fatores importantes para se levar em conta. Os preços desses programas variam de 300 a 15 mil euros ou mais, e as intervenções, protocolos, ajustes e funcionários variam muito. O preço não deve ser o principal fator para você basear sua decisão. O que é mais importante é a qualificação, as normas de segurança e ética profissional do centro. A desintoxicação de drogas usando a ibogaína é uma intervenção médica, para a qual uma equipe médica (um médico e/ou psiquiatra), é essencial, bem como um psicólogo ou psicoterapeuta. Alguns centros também têm naturopatas, professores de yoga, massagistas, etc, o que é uma grande adição, mas a equipe médica e o apoio psicológico é essencial para garantir uma intervenção segura e eficiente.

Se você está procurando uma sessão de crescimento psicoterápico ou pessoal com a ibogaína, o procedimento médico é menos crítico, portanto, um provedor de ibogaína experiente com um médico de plantão para eventuais eventos adversos na maioria dos casos é suficiente, mas somente se um exame médico foi realizado antes da sessão.

Há também provedores de tratamento fazendo-os em quartos de hotel, apartamentos ou casas, alguns com, outros sem conhecimento médico. Alguns exigem exame médico e psiquiátrico, outros não. Alguns trabalham escondidos em um país onde a ibogaína é ilegal, outros no contexto devidamente regulamentado. Estas sessões podem implicar um risco maior do que os de centros que têm uma equipe médica experiente, mas às vezes não se tem escolha por causa das limitações financeiras ou questões de passaporte, tornando-se impossível viajar para outro país, etc

Há também vendedores on-line da casca da raiz da iboga, extratos de iboga (alcalóides totais - TA, Precursores alcalóides totais - PTA) ou ibogaína HCL. A qualidade e potência de tais produtos variam bastante, e os lotes podem ser misturados com outras substâncias potencialmente perigosas. Alguns oferecem ofertas de tratamento por e-mail ou skype, mas isso não é seguro de jeito nenhum. Tomar a ibogaína sozinho é perigoso. Um provedor experiente presente durante a sessão é crucial.

Como escolher o centro adequado

Outro fator importante é a transparência das pessoas responsáveis pelo centro. É uma obrigação ética dos centros que fazem intervenções médicas mencionar os membros da equipe com seus nomes completos, títulos, formação e experiência no site. Se este não é o caso, não há nenhuma garantia de que o que eles escrevem em seu site é o que você vai encontrar quando você chegar no centro. Alguns centros podem não citar nomes por causa de possíveis implicações legais, ou seja, não está funcionando com a devida licença.

Se eles não te pedirem um exame médico (no mínimo ECG, exame de sangue com o painel de fígado) e psicológico ou psiquiátrico como condição para se inscrever no programa, este deve ser um alerta sobre a responsabilidade dos funcionários. Se contra-indicações surgem nos exames, e os critérios de exclusão não forem respeitados, ocorre um aumento considerável no risco de um evento adverso. No entanto, devido à natureza destrutiva de algumas dependências químicas, determinar se a intervenção é um risco muito grande para você pode ser complexo de se determinar. Muitos tratamentos contra o câncer, por exemplo, têm um risco elevado, mas, como o câncer pode ser uma condição com risco de vida, o paciente é livre para escolher o risco que ele está disposto a tomar para curar o câncer. No caso de dependência grave, este é também o caso. É importante, no entanto, estar consciente sobre os riscos de que um tratamento com a ibogaína pode carregar para o sua saúde. Centros ou pessoas que trabalham com a ibogaína devem sempre ter um protocolo de emergência e estar próximos de um hospital.

Além dos fatores mencionados anteriormente, é aconselhável ter uma conversa ao vivo (skype, telefone ou pessoalmente) com a pessoa responsável pelo centro. A filosofia do centro, a sensibilidade da pessoa e conexão pessoal que você pode sentir vai te atrair mais para um centro ou uma pessoa do que para outra.

Critérios de exclusão e riscos

A ibogaína é uma ferramenta experimental que não passou por ensaios clínicos que desvendaram seus mecanismos exatos da ação e, portanto, há conhecimento limitado sobre seus fatores de risco. Muito ainda está para ser aprendido de futuros estudos científicos, a prática ancestral da Bwiti e o uso atual da ibogaína em centros de tratamento.

Riscos para a saúde física

A maior preocupação dos riscos conhecidos relacionados com a utilização da ibogaína é que ela abaixa a taxa cardíaca (bradicardia) e prolonga o intervalo QT, uma medida do tempo entre o início da onda Q e no final da onda T no ciclo elétrico do coração. Portanto, as pessoas com histórico de ataque cardíaco, sopros cardíacos, arritmias, cirurgia cardíaca ou obesidade grave não devem tomar ibogaína. Um eletrocardiograma é o teste mínimo exigido, mas um ECG de esforço ou 24 horas Holter e ecocardiograma aumentam a possibilidade de detectar anormalidades importantes. A presença de um médico qualificado (de preferência especializado em cardiologia e medicina de emergência) presente durante a sessão para monitorar o coração aumenta a segurança do tratamento de forma significativa.

Outro fator de risco é a embolia pulmonar. Isso acontece quando há a formação de coágulos sanguíneos nas veias, como as que podem ocorrer devido à imobilização durante longas viagens de avião, um acidente de carro, ou de doenças relacionadas com o sangue. Quando estes coágulos do sangue são bombeados através do corpo durante a sessão com a ibogaína, eles podem acabar nos pulmões, onde podem provocar uma embolia com o risco de sufocação. O risco de embolia pulmonar pode ser reduzido fazendo alguns esportes ou exercícios de movimentação depois de longas viagens e não iniciar o tratamento logo no momento da chegada. Indivíduos com problemas de sangramento, coágulos de sangue crônicos ou aquelas pessoas que tenham sido recentemente envolvidos em acidentes que causaram hematomas e hemorragias devem ser excluídos deste tratamento.

Asma, câncer, disfunção cerebelar (por exemplo doença de Meneire e dificuldade em manter o equilíbrio), desmaios crônicos, diabetes, enfisema, epilepsia, doenças do trato gastrointestinal (por exemplo, doença de Crohn, Doença Inflamatória Intestinal), problemas ginecológicos, HIV, AIDS, Hepatite C (se ativa e com enzimas hepáticas 200% acima do normal), problemas renais / doença renal, problemas hepáticos, problemas pulmonares ou doença respiratória, paralisia, gravidez, convulsões, acidente vascular cerebral, problemas de tireóide, tremores, tuberculose e úlceras são contra-indicações na maioria dos lugares, mas alguns centros aceitam as pessoas com certas condições, o que pode aumentar o risco de intervenção.

Outra causa de eventos adversos é a interação da ibogaína com outros medicamentos ou produtos farmacêuticos. Antes de tomar ibogaína, o indivíduo não deve usar a droga pelo período de tempo necessário para que essa seja suficientemente metabolizada. Isto depende da meia-vida da droga e é diferente para cada uma das substâncias. O pessoal do centro de tratamento onde você está indo para tomar ibogaína deve ajudá-lo a diminuir ou parar o uso de drogas e medicamentos sujeitos a receita médica de uma maneira segura. Além disso, substâncias ou alimentos que são discriminadas pelas enzimas CYP 450 2D6 devem ser evitados, pois podem interagir com a ibogaína, potencializando seu efeito de bradicardia e prolongamento do intervalo QT. Há listas disponíveis na internet de tais substâncias. Produtos contendo quinino e toranja pertencem a este grupo, e devem ser evitados antes do tratamento da ibogaína.

Como existem muitos materiais diferentes sobre iboga disponíveis, trabalhar com materiais de potência e composição química desconhecida é outro fator de risco. É importante que a pessoa que administra o tratamento conheça o material que você está a receber de modo que este possa ser doseado corretamente. Você tem o direito de saber quais os materiais que o provedor do tratamento usa, a potência e as doses que você terá.

Riscos para a saúde psicológica

Apesar de alguns centros aceitarem pessoas com transtornos psiquiátricos, como transtorno bipolar, transtorno de personalidade incerta, etc, e alguns relatam melhora de sua condição, mas nada se sabe sobre os efeitos da ibogaína em tais transtornos e os riscos envolvidos. É uma área muito arriscada. Nos distúrbios gerais, psiquiátricos, como os mencionadas acima, assim como as pessoas com esquizofrenia e um histórico de psicose, estão excluídos deste tratamento, porque a ibogaína pode desencadear ou piorar os sintomas. Além disso, a interação com certos medicamentos psiquiátricos pode ser perigoso. O teste psiquiátrico completo e a supervisão de um psiquiatra é importante antes de fazer um tratamento com a ibogaína se você tiver quaisquer condições psiquiátricas, e se você está utilizando medicamentos prescritos.

Além dos riscos psiquiátricos, a ibogaína é um composto psicoativo muito potente que pode induzir uma experiência introspectiva que nem sempre é fácil. Pode surgir severa ansiedade em tais episódios e, em casos mais graves, estados de paranóia. Um provedor experiente pode apoiar o indivíduo em tais casos, e ajudá-lo a superar as difículdades. A preparação adequada com a orientação de um terapeuta pode ajudar muito a ganhar confiança, entrar na experiência com a mentalidade adequada, e estar preparado para eventuais experiências difíceis.

Benefícios

A ibogaína tem sido consistentemente observada em relação a bloquear a síndrome de abstinência de opiáceos aguda com uma única administração em humanos e em grande volume de pesquisas em animais. O tratamento com a ibogaína é seguido por um período de duração variável de reduzido desejo por substâncias múltiplas, incluindo estimulantes, opiatos, benzodiazepinas, álcool e nicotina. A ibogaína foi avaliada como tendo propriedades anti-depressoras após a administração, o que se acredita ser devido a metabólito nor-ibogaína da ibogaína, mas isto nem sempre é o caso. O prazo de semanas ou meses após a administração da ibogaína em que o desejo é reduzido é uma oportunidade extremamente valiosa para um viciado recuperar a perspectiva sobre a sua vida e remodelá-la com o apoio de terapia e orientação adicional. A ibogaína também tem um forte efeito sobre o metabolismo celular, permitindo que o organismo se adapte a um novo estado (por exemplo, no processo de desintoxicação).

A experiência onírica introspectiva após a administração da ibogaína é freqüentemente relatada como sendo profundamente psicoterapêutica. Tradicionalmente, um espelho é colocado em frente aquele que vai iniciar a experiência para que possa olhar para si mesmo. Este é exatamente o que a experiência com a ibogaína proporciona: a confrontação com um trauma passado, com os medos, as responsabilidades, a relação com os pais, filhos, parceiro, etc. Ao enfrentar os obstáculos da vida que podem inibir um crescimento natural ou bom funcionamento da sociedade, a ibogaína pode catalisar uma mudança profunda na vida diária, a direção que você está dando a sua vida, comportamento, dinâmica interpessoal, etc .Por esta mesma razão, a ibogaína também tem sido usada na terapia psicolítica com dose mais baixa.

Preparação

Com a decisão de participar de uma sessão de ibogaína vem o início da preparação. É muito possível que você vá encontrar uma profunda experiência transformadora que poderá ter um impacto drástico na sua vida e irá iniciar mudanças estruturais que podem transformar as coisas de cabeça para baixo. Quanto melhor você estiver preparado quando entrar, mais você vai retirar dela e mais suave o processo será. Tradicionalmente, na experiência com a ibogaína, acredita-se proporcionar um processo de morte e renascimento, em que o iniciado "visita seus ancestrais” e renasce como um adulto ou uma pessoa curada. A experiência com a ibogaína é muitas vezes um processo introspectivo em que se lida com o seu passado, o relacionamento com os pais, traumas, responsabilidade, medos, decisões, etc. Incidindo sobre estes aspectos em sua vida durante o preparo, de preferência com a ajuda de um terapeuta experiente, permitirá que a sessão com a ibogaína catalise esse processo drasticamente.

Preparação psicológica e plano pós-tratamento

As pessoas que têm medo podem fazer exercícios de respiração durante o preparo, o que irá ajudar durante os momentos difíceis da experiência. Respirar profundamente na parte inferior dos pulmões, e incidindo sobre o ritmo da respiração pode acalmar e ajudar não a resistir à experiência, mas a deixa-la fluir.

Em uma minoria dos centros de ibogaína, o programa inclui a terapia motivacional, terapia familiar, ou outras técnicas. Envolver a família ou parceiro neste processo pode aumentar a eficácia da sessão com a ibogaína e ter um impacto benéfico de longa duração em toda a estrutura familiar, especialmente no caso de vício grave onde, muitas vezes, a culpa deteriora o relacionamento com os parentes do indivíduo .

Para chegar a abstinência prolongada em caso de dependência de drogas, é fundamental desenvolver um plano de pós-tratamento com um terapeuta, ou, se você está em um programa de reabilitação de drogas, com os responsáveis no centro. Sem estratégias claras para fazer uma mudança na dinâmica pessoal, profissional e social que foram relacionados ao abuso de drogas, é muito provável que a abstinência não vai durar. A ibogaína abre o que é chamado de uma "janela de oportunidade" por semanas ou meses após a sessão real em que o desejo é significativamente diminuído. É importante usar esse tempo para colocar o plano pós-tratamento em prática.

Preparação física

Outro elemento importante é a preparação física; a experiência com a ibogaína é longa e pode ser pesada, então quanto a melhor condição física de uma pessoa, mais fácil e mais segura a experiência será. Alimentação saudável, suplementos vitamínicos e minerais, sais minerais, especialmente durante os dias antes da sessão, e abundância de líquidos são ideais.

O exercício regular também vai ajudar a melhorar a sua condição. No dia da sessão, você pode beber muita água e bebidas ricas em sais minerais após um café da manhã leve, então você estará bem hidratado antes da sessão. Depois disso, é aconselhável parar de beber por algumas horas antes da sessão, porque chegar ao banheiro pode ser uma tarefa extremamente difícil, devido à ataxia induzida pela ibogaína.

É extremamente importante ser honesto sobre o uso de drogas nos dias antes do tratamento. Medo da abstinência pode ser uma razão para os viciados mentirem sobre a última dosagem preparada por eles antes do tratamento com consequências potencialmente fatais. A abstinência será bloqueada pela ibogaína.

No caso dos opiáceos, a ibogaína é geralmente administrada quando os sinais de abstinência estão chegando.

Alguns centros optam por uma abstinência guiada por um período de tempo antes da administração, no caso de estimulantes. Esta desintoxicação anterior aumenta a segurança da sessão da ibogaína significativamente. No caso de uma dependência grave de álcool ou de benzodiazepinas, o seu uso não pode ser interrompido imediatamente com uma desintoxicação pela ibogaína. Uma apreensão de abstinência aguda pode ser a consequência fatal. O uso de álcool e benzodiazepínicos tem que diminuir antes da ibogaína ser administrada.

A sessão

Durante a administração da ibogaína é importante seguir as orientações do provedor, e se você tiver quaisquer dúvidas, perguntas, medos, etc, avise-o antes do início da sessão. Alguns provedores trabalham com música gravada ou ao vivo, outros com o silêncio. Você pode ter suas dúvidas pessoais sobre a configuração. Uma dose teste é administrada antes da dose completa para ver o quão sensível a pessoa é e para detectar possíveis reações alérgicas. A dose de teste reduz a abstinência de forma significativa na maior parte dos casos. Depois disso vem a dose completa.

A Experiência

A primeira fase é como limpar as pastas e arquivos em um disco rígido de computador. Durante esta fase a pessoa está sempre consciente do fato de que ela tomou ibogaína e do lugar que ela está. Fechando os olhos lhe permitirá ir mais fundo com a experiência, abri-los pode diminui-la. Quando as coisas se tornam muito intensas, isso pode ajudar a se conectar com o mundo exterior por um momento. Respirar profundamente algumas vezes também pode ajudá-lo a relaxar. É importante não mexer a cabeça muito porque isso vai causar náuseas. Algumas pessoas vomitam durante a experiência, mas este nem sempre é o caso.

É importante que exista sempre um provedor com o indivíduo durante a experiência. No caso de um tratamento de desintoxicação de droga, é aconselhável (se possível) ter um médico presente durante toda a experiência. Depois, uma enfermeira experiente pode continuar.

Após a primeira fase terminar, o que dura cerca de 2-8 horas, começa a fase de integração. Agora você pode comer uma fruta e beber alguns líquidos novamente. Para metabolizadores rápidos, as visões podem se extinguir completamente após esta fase; metabolizadores lentos podem continuar a ter visões. Pode parecer que a fase visionária não forneceu qualquer visão ou avanço terapêutico devido ao seu ritmo extremamente rápido, a sobrecarga de informações e a falta de integração emocional. No entanto, embora as visões possam se extinguir, a experiência não terminou, em um processo cognitivo todas essas informações e experiências da primeira fase agora começam a ganhar significado, e revelam perspectivas na segunda fase. Não é necessário nenhum terapeuta para este processo, tal como este pode interferir com ele. Esta integração pode durar cerca de 24 horas e é como a desfragmentação do disco rígido do computador. Quando a noite cai de novo, você ainda pode ter "light trails" em sua visão. Sair para o mundo real ou para a natureza depois dessas 36 horas pode ser uma experiência intensa já que você estará altamente sensível. É importante tentar relaxar, dormir um pouco. Algumas pessoas têm uma menor necessidade de sono após a experiência com a ibogaína, mas não todos.

Ao terminar a sessão

É sábio não chamar a sua família ou parentes antes das 36 horas se passaram para não interferir com o processo. O provedor pode deixá-los saber após a primeira fase que você está indo bem. Nos dias seguintes, você deve descansar, caminhar na natureza, comer uma alimentação saudável, beber muita água e se recuperar. Em caso de graves dependências de drogas como o da metadona, doses de reforço podem ser necessárias durante as semanas seguintes para bloquear eventual abstinência residual.

Integração e Acompanhamento

Após a sessão, é aconselhável continuar o seu processo terapêutico para integrá-lo corretamente e começar a colocar em prática o que você absorveu da sessão. Além disso, no caso da família ou do parceiro estar envolvido no processo de preparação, este deve agora ser continuado na integração e seguir de fase na forma de terapia de família ou, simplesmente, sob a forma de um diálogo com o indivíduo. Se você desenvolveu um plano de cuidados pós-sessão, este deve ser seguido; coisas como deslocalização, indo para uma comunidade terapêutica, assistência social, etc. Alguns centros oferecem um continuo programa de cuidados pós-sessão ou colaboração com uma organização local, mas a maioria deles não .

Nos meses após a sessão, você vai encontrar-se em um processo de re-definição de quem você é, onde você quer ir com a sua vida e as mudanças que você precisa fazer. Durante a ocorrência dos processos subconscientes da experiência, o que você vai experimentar mais tarde, quando você voltar para a sua vida diária. Este é um processo de descoberta e de remodelar a sua relação com o ambiente e com si mesmo. Este processo pode levar meses, então certifique-se que você não tem uma agenda cheia após a sessão.

Recaída

Se você decidir voltar a usar a droga, por qualquer razão, tenha cuidado com a dosagem. Sua tolerância será muito menor e sua dose regular pode ser uma overdose. Se ocorrer uma recaída, isso não necessariamente significa que todo o processo tenha sido para nada, porque observando o porque da recaída ter acontecido pode te ensinar aprender com ela e voltar ao caminho correto. Em contraste com a terapia de substituição, tais como programas de metadona, a ibogaína capacita o indivíduo a assumir o controle sobre sua própria vida novamente. Algumas pessoas fazem uma segunda sessão de ibogaína meses mais tarde para continuar o processo de recuperação.

Há também relatos de pessoas participando de sessões de ayahuasca durante o processo de preparação alguns meses antes e meses depois da sessão de ibogaína, potencialmente, complementando o processo terapêutico. Você encontra mais informações para as pessoas interessadas em tomar ayahuasca aqui.

Meu comentário: esse texto é apenas uma repetição do que sempre digo, tratamento com ibogaína é um procedimento médico, deve ser sempre feito sob supervisão médica. Assim se evitam muitas complicações. 

Cuidado com espertinhos tentando lucrar em cima do sofrimento alheio!!!

16 junho, 2013

O problema está na jaula


Denis Russo Burgierman

Fonte: Superinteressante

3 de junho de 2013
As leis que temos hoje proibindo as drogas foram em grande parte inspiradas por pesquisas científicas realizadas nos Estados Unidos na década de 1960 com ratinhos presos em gaiolas. Cada ratinho ficava trancado sozinho em uma jaula pequena, com um canudo preso a uma veia. A cada vez que o bicho puxava uma alavanca, uma dose de morfina, heroína ou cocaína era despejada em sua corrente sanguínea. Os resultados eram assustadores: a maioria dos animais se afundava nas drogas. Alguns passavam o dia inteiro puxando as alavancas e ficavam tão viciados que se esqueciam de comer e beber e acabavam morrendo de fome. Conclusão: drogas são substâncias mortíferas, que causam dependência severa e matam.
Bom, se ratinhos saudáveis transformam-se em zumbis com uma dose, o mesmo deve acontecer com humanos, certo? Melhor então proibir tudo e punir severamente os infratores, para evitar que meninos e meninas tenham o mesmo destino desses pobres roedores. É essa a lógica da política de Guerra às Drogas.
Aí, no final dos anos 70, um psicólogo canadense chamado Bruce Alexander teve uma ideia. Ele resolveu repetir o experimento, mas, em vez de trancar as cobaias numa solitária, construiu um parque de diversões para os bichinhos – o Rat Park. Tratava-se de uma área grande, 200 vezes maior do que uma jaula, cheia de brinquedos, túneis, perfumes, cores e, o mais importante, habitada por 16 ratinhos albinos. Ratos brancos, como humanos, são seres sociais – adoram brincar uns com os outros. Eles são muito mais felizes em grupo. Outros 16 ratinhos tiveram sorte pior – foram trancados nas jaulas tradicionais, sem companhia nem distração. Ambos os grupos tinham acesso livre a dois bebedores – um jorrando água e o outro, morfina.

O Rat Park
Os ratos engaiolados fizeram o que se esperava deles: drogaram-se até morrer. Mas os do Rat Park não. A maioria deles ignorou a morfina. Podendo escolher entre morfina e água, os ratinhos do parque no geral preferiam água. Mesmo quando os ratos do Rat Park eram forçados a consumir morfina até virarem dependentes, eles tendiam a largar o hábito assim que podiam. O consumo da droga entre eles foi 19 vezes menor do que entre os ratinhos enjaulados.
Ou seja, o problema não é a droga: é a jaula. O que é irônico considerando que nossa política de drogas tem como premissa justamente enjaular na cadeia os dependentes.
Hoje entende-se bem como funciona a química da dependência no cérebro. O centro da questão é um químico chamado dopamina, o principal neurotransmissor do nosso sistema de recompensa. Quando animais sociais ficam isolados e sem estímulos, seus cérebros secam de dopamina. Resultado: um apetite enorme e insaciável pela substância. Drogas – todas elas – têm o poder de aumentar os níveis de dopamina no cérebro, aliviando essa fissura. O nome disso é dependência.
Ou seja, não é a droga que causa dependência – é a combinação da droga com uma predisposição. E o único jeito de curar dependência é curar essa predisposição: dando a esse sujeito uma vida melhor, como Bruce Alexander fez com os ratinhos do Rat Park.
Hoje a maioria dos países desenvolvidos entendeu isso e criou políticas públicas de cuidado e acolhimento para resolver o problema da droga. O melhor exemplo disso é Portugal, que há apenas dez anos vivia uma emergência pública com um surto de dependência em heroína, e hoje é considerado inspiração para o mundo em termos de políticas de drogas bem sucedidas. O que Portugal fez foi abrir consultórios nas cracolândias de lá, com um atendimento de boa qualidade, que trata os dependentes com respeito, tenta enriquecer suas vidas, estimula o convívio social, incentiva-os a buscar ajuda, oferece a eles ambientes tranquilos, acolhedores. Os resultados foram espetaculares.
Mas, enquanto o mundo muda em resposta às novas descobertas científicas, o Brasil continua endurecendo suas leis. Em vez de buscar inspiração em Portugal, copia experiências das ditaduras da Ásia, com cadeia, imposição de tratamento, até mesmo conversão forçada a certas igrejas, que recebem dinheiro público para “tratar” drogados usando a Bíblia. Um político paulista disse que sua estratégia para resolver o problema na cracolândia era causar “dor e sofrimento” para expulsar os dependentes de lá – ou seja, aumentar o estresse. É justamente a receita para matar ratinhos. E para aumentar o consumo de drogas.

Clique aqui para ler uma história em quadrinhos que conta a história do Rat Park (em inglês)

Meu comentário: bem, isso mostra como o encarceramento, as internações involuntárias, e a violência, apenas pioram o problema.

13 junho, 2013

O problema não está no Crack, está na alma

Denis Russo Burgierman

Fonte: Superinteressante

De cada 100 pessoas que experimentam crack, algo em torno de 20 tornam-se dependentes. É um número assustador, preocupante, claro, mas é importante notar uma coisa: é a minoria. O crack é mais viciante que a maconha (9%), menos do que o tabaco (32%, a taxa mais alta entre as drogas). Mas a grande questão é a seguinte: o que faz com que algumas pessoas que experimentam as drogas fiquem dependentes e outras não?
Segundo o médico húngaro-canadense Gabor Maté, a resposta é simples: as pessoas que se afundam nas drogas são as mais frágeis. Gabor é um dos especialistas mais respeitados do mundo em dependência e esteve no Brasil esta semana. Sua palestra, no Congresso Internacional sobre Drogas que aconteceu no fim de semana em Brasília, foi imensamente esclarecedora.
“Em 20 anos trabalhando com usuários em Vancouver, eu nunca conheci nenhum dependente que não tivesse sofrido algum tipo de abuso na infância – abuso sexual ou algum trauma emocional muito grave”, ele disse. Ou seja: dependentes de drogas são sempre pessoas com fragilidades emocionais causadas por traumas na infância.
O momento mais polêmico da palestra foi quando ele afirmou algo que ninguém esperava ouvir: “drogas não causam dependência”. Como assim não causam? E aquele bando de gente esfarrapada no centro da cidade? Ele explica: “a dependência não reside na droga – ela reside na alma”. É que quem sofreu abusos severos na infância acaba tendo sua química cerebral alterada e cresce com um eterno vazio na alma. Frequentemente esse vazio acaba sendo preenchido com alguma dependência. “Pode ser uma droga, ou qualquer outro comportamento que traga algum alívio, ainda que temporário: compras, sexo, jogo, comida, religião, internet.”
A cura para a dependência, portanto, não é a destruição da droga: é o preenchimento do vazio na alma. Gabor, aliás, sabe muito bem do que está falando. Ele próprio, afinal, sente esse vazio. Ele nasceu em Budapeste em 1944, durante a ocupação nazista, com a mãe deprimida, o pai preso num campo de trabalhos forçados, os avós assassinados pelos alemães. Quando cresceu, para aliviar a dor emocional que sentia, desenvolveu uma dependência: “virei um comprador compulsivo”.
O sofrimento que Gabor sente está óbvio em seu rosto: nos seus traços trágicos, nos olhos tristes. Mas ele encontrou paz: seu trabalho ajudando dependentes lhe trouxe sentido na vida e esse sentido preencheu, ao menos em parte, o vazio.

Em resumo: crianças que foram muito mal-tratadas acabam virando adultos “viciados”. E aí o que nossa sociedade faz? Trata mal essas pessoas. “Nós punimos as mesmas crianças que falhamos em proteger”, diz Gabor.
Na semana passada, uma pesquisa do Datafolha mostrou que o maior medo dos paulistanos é o de perder seus filhos para as drogas. É um medo compreensível e do qual eu, como um quase pai (minha primeira filha nasce no mês que vem), compartilho. Mas esse medo não pode justificar políticas repressivas e violentas, que impõem tratamento religioso forçado e dá poder ilimitado à polícia. Isso só vai aumentar o estresse na vida de gente que já é frágil – e é sabido que estresse piora a dependência.
Hoje já está claro que o único jeito de lidar com gente que tem um vazio na alma é com compaixão. O que essas pessoas precisam não é de cadeia nem de conversão forçada nem de projetos de lei medievais como o que está tramitando agora no Congresso, com apoio do governo federal – é de compreensão e de ajuda para encontrar algo que ajude a dar sentido para as suas vidas.
Em 2000, uma pesquisa em Portugal revelou que as drogas eram o maior problema do país. No ano seguinte, o governo português teve a coragem de montar um novo sistema, muito mais barato para o contribuinte, comandado pelo ministério da saúde, sem internações compulsórias nem violência policial.
Ano retrasado, a pesquisa foi repetida e drogas nem apareceram na lista dos dez maiores problemas portugueses. O problema havia sido resolvido. Com compaixão.

27 fevereiro, 2013



O Centro Internacional para Educação, Pesquisa & Serviço em Etnobotânica (ICEERS) é uma organização filantrópica dedicada a:

1) A integração da Ayahuasca, Iboga e outras plantas tradicionais como ferramentas terapêuticas na sociedade moderna.
2) A preservação das culturas indígenas que vem utilizando estas espécies de plantas desde a antiquidade, de seu habitat e dos seus recursos botânicos.

A ICEERS dedica-se a mesclar as forças do conhecimento etnobotânico dos povos indígenas e a moderna prática terapêutica, respondendo à urgente necessidade de ferramentas eficientes para o desenvolvimento pessoal e social.

Sugiro uma visita ao site da ICEERS

Eles tem textos em ingles e espanhol, com ótimo nível científico, respondendo várias dúvidas sobre ibogaína e ayahuasca, tratamento de dependência química com ibogaína, e assuntos correlatos. 


18 janeiro, 2013

Pensando em tomar ibogaína? Leia isto primeiro

Postagem do ano passado, mas republicada pois é de grande interesse

Existem muitas pessoas que, por ouvir relatos de conhecidos, por pesquisas na internet e por indicação de profissionais da área, resolvem fazer um tratamento com ibogaína. Mas como saber, nessa situação, que o tratamento que está sendo oferecido é de boa qualidade? Que as pessoas envolvidas são corretas e sabem com o que estão lidando? Isso é um problema sério, pois infelizmente nos ultimos meses tem aparecido uma boa quantidade de pessoas, principalmente na internet, oferecendo ou o tratamento com ibogaína ou a substância em si. Então listei abaixo algumas dicas que podem tornar sua decisão mais confiável, e o mais importante, livre de riscos. Para seu bolso e para sua saúde.

O primeiro ponto é, que tipo de ibogaína tomar? Existem as opções de HCL, TA (total alkaloids) e RB (root bark, que é a raiz "in natura"). Em um contexto médico, para tratamentos, o ideal é a ibogaína HCL GMP, ou seja, ibogaína medicinal, o remédio mesmo, com 98 a 99% de pureza, fabricada segundo as boas práticas de manufatura farmacêutica, o que garante essa pureza e a qualidade da substância.

Existe muita pouca quantidade de ibogaína medicinal disponível e o laboratório fabricante NÃO vende pela internet, então aqui vai o primeiro conselho: não compre ibogaína pela internet, você não saberá o que está comprando, pode ser de péssima qualidade ou nem mesmo ser a substância. Isso se entregarem alguma coisa, porque esse pessoal normalmente pede o dinheiro adiantado e não envia a compra. A principal fonte desses golpes é Camarões, mas infelizmente no Brasil eles existem tambem.

A medicação é mesmo cara, então fique atento, lugares que oferecem tratamentos/medicamentos muito baratos não estão oferecendo medicação de boa qualidade.

Segundo ponto importante : onde tomar?
O tratamento para dependência química com ibogaína é considerado um procedimento médico, e como tal, deve ser realizado em ambiente hospitalar e/ou que tenha recursos de hospital. Isso inclui, principalmente, a presença de um profissional médico com experiência no assunto, visto que o simples fato da pessoa ser formada em medicina não lhe gabarita a fazer essa aplicação. É preciso experiência na área, visto que no curso tradicional de medicina nem se toca nesse assunto. Isso é fundamental para a segurança do paciente. Procure tratamentos que ofereçam acompanhamento médico especializado.

Evite lugares onde o tratamento é feito por não médicos, por curiosos, interessados em ganhar um dinheiro em cima do sofrimento dos pacientes. Evite pessoas não experientes (peça que o profissional comprove a experiência, não basta só falar que é experiente). Muitas vezes o que se alega é que são utilizadas doses baixas, o que dispensaria a necessidade da presença do médico. Isso não é verdade. A presença do médico é fundamental SEMPRE, independente da dose.

Clinicas que fazem propaganda disseminada pela internet (Twitter/Youtube/Sites de comércio eletrônico) tambem não são recomendadas, esse comportamento mostra que o que se visa é o lucro, não exatamente o bem estar do paciente.

Existem anuncios na internet de clínicas que de maneira mentirosa se dizem tradicionais e pioneiras na área, quando na verdade trabalham no ramo há poucos meses e veem no tratamento apenas a chance de lucrar, sem saber realmente exatamente o que estão fazendo.Não fazem exames clínicos nem laboratoriais nos pacientes, não avaliam se eventuais medicamentos que o paciente possa estar tomando interferem na aplicação da ibogaína...Chegam a oferecer que o tratamento seja realizado em casa!!!
Existem infelizmente muitos espertinhos visando apenas lucro nessa área, muito cuidado. Tanto se visa o lucro que estão sendo abertas até franquias dessas clínicas, e as mesmas estão fabricando até shampoo de ibogaína, para se ter uma idéia do nível que chega a coisa.Ou seja, vêm a doença dos outros como fonte de lucro apenas.


Cuidados antes da experiência:
Exatamente por ser uma medicação de efeito forte, com vários efeitos colaterais, é preciso uma avaliação clínica adequada do paciente antes do tratamento, a realização de exames médicos e laboratoriais, orientação quanto a eventuais medicamentos que a pessoa possa estar tomando, avaliação psicológica/psiquiátrica prévia e o compromisso de acompanhamento psicológico pós tratamento. Evite lugarem que oferecem soluções mágicas e rápidas, sem preparação pré-tratamento, e sem orientação para acompanhamento pós.

Concluindo:
Qualquer tratamento médico tem um risco inerente ao procedimento; estas orientações visam eliminar os riscos oriundos de tratamentos feitos por pessoas sem competência, com medicação de má qualidade, em ambientes não adequados.
Boa Sorte!!

Desmistificando a Ibogaína

Estou republicando o texto abaixo, pois o mesmo foi publicado neste blog originalmente em Fevereiro de 2010, e alguns leitores estão tendo dificuldade para encontrá-lo nos arquivos

Desmistificando a Ibogaína
Muito se tem falado a respeito da Ibogaína aqui no Brasil nos últimos tempos... bem e mal, com discussões apaixonadas, e, às vezes, desprovidas de cunho científico e repletas de preconceito.

Para quem não sabe, Ibogaína é uma substância extraída da planta Tabernanthe iboga, originária do Gabão, e planta sagrada utilizada nos rituais da religião Bwiti, religião e rituais estes existentes desde a pré-história. Em 1962 Howard Lotsof, na época dependente de heroína, descobriu que uma única dose de Ibogaína foi suficiente para curar a dependência sua e de alguns amigos. A partir daí surgiu com força uma rede internacional de provedores de tratamentos para dependência em todo o mundo, alguns oficiais, outros underground. Desde essa época até hoje cerca de 15.000 pessoas já fizeram o uso médico da substância, com resultados, em sua maioria, muito bons. Realmente os efeitos são surpreendentes, e, em muitos casos, ocorre uma melhora do quadro de dependência significativa, em apenas 24 horas.

Como tudo que é diferente, e como tudo que é inovador, existem também em relação à Ibogaína controvérsias e dúvidas, que tem origem na desinformação e no preconceito, e algumas vezes também em interesses econômicos. Este texto visa esclarecer as dúvidas e orientar as pessoas sobre o assunto. É interessante o fato de que a maioria das pessoas que é contra esse tratamento, não sabe absolutamente nada a respeito, mesmo alguns sendo renomados profissionais da área. É o estilo “não li e não gostei”. Na área da dependência química no Brasil, alguns egos são imensos.

Sempre que se fala de Ibogaína, cita-se o fato de a mesma ser proibida nos Estados Unidos e em mais 3 ou 4 países, sendo em todos os outros (inclusive no Brasil) isso não ocorre. Pelo contrário, o Brasil é um dos pioneiros nesse tratamento e os profissionais envolvidos, apesar de pouco conhecidos aqui, têm reconhecimento internacional. Essa proibição da Ibogaína em poucos países deve-se à desinformação e a interesses econômicos e políticos.

Primeiramente, essa medicação não interessa à grande indústria farmacêutica, visto ser derivada de plantas, com a patente de 1962 já expirada, tendo, portanto, um baixo potencial de lucro.

Alem disso, em muitos locais, o preconceito contra os dependentes faz com que eles sejam vistos como pessoas que não merecem serem tratadas e sim presas ou escorraçadas. Assim sendo, o fato da Ibogaína ter sido descoberta por um dependente químico, para algumas pessoas, já a desqualifica.

Fora isso, o falso conceito de que a planta é alucinógena, gera uma quase histeria em determinados profissionais da área, que mal informados, com má vontade, e baseados em informações conflitantes pinçadas na internet, repassam informações errôneas adiante. A Ibogaína não é exatamente alucinógena, é onirofrênica, (Naranjo, 1974; Goutarel, Gollnhofer, and Sillans 1993), ou talvez seja melhor dizer, remogênica, ela estimula a mente de maneira a fazer com que o cérebro sonhe, mesmo com a pessoa acordada. Isso é comprovado por inúmeros estudos ao redor do mundo, mas é fácil confirmar, basta fazer um eletroencefalograma (EEG) durante o efeito da substância pra se ver que o padrão que vai aparecer é o do sono REM, não de alucinações. Alem disso, a ibogaína não se liga ao receptor 5HT 2a, o alvo clássico de alucinógenos como LSD, por exemplo.

Outra crítica relacionada à Ibogaína, que é sempre citada, são as até agora 14 mortes que ocorreram, em 48 anos, como comentado acima, em cerca de 15000 tratamentos realizados. Isso dá menos de 1 fatalidade em cada 1000 tratamentos, número muito menor por exemplo do que as fatalidades provocadas por metadona, que é outra substância utilizada no tratamento da adicção, e que é de 1 fatalidade para cada 350 tratamentos.
O detalhe, sempre deixado de lado pelos detratores da Ibogaína, é que em todos os casos de fatalidades registrados, comprovadamente se detectou o uso sub-reptício concomitante de heroína, cocaína e/ou álcool, confirmado por necropsia, o que nos leva à conclusão de que não existem fatalidades relacionadas à Ibogaína e sim à heroína/cocaína/álcool e à mistura dessas substâncias... além disso, poucas coisas no mundo são mais mortais do que usar drogas.. isso sim é perigoso.

Mais outra crítica é sobre o uso em humanos, sendo que no Gabão, há 5000 anos humanos já usam a substância em seus rituais, sem problemas. Já foram feitos vários trabalhos científicos, por cientistas renomados, que comprovam a baixa toxicidade e a segurança do tratamento, desde que feito dentro dos protocolos.

A taxa média de eficácia da Ibogaína para tratamento da dependência de crack é de 70 a 80%, que é altíssima, principalmente se lembrarmos que, além de ser uma doença gravíssima, as taxas de sucesso dos tratamentos tradicionais é de 5%. Incrivelmente, essa taxa de 80% também é alvo de críticas... Porque não são 100%, eles dizem? Já que é tão bom, porque não cura todo mundo? Ora, nenhum tratamento médico é 100%, existem variáveis ponderáveis e imponderáveis que influenciam a evolução dos pacientes, como motivação, características individuais de cada paciente, preparação adequada, com psicoterapia pré e pós tratamento de alto nível, tudo isso faz com que haja variações na eficácia. O fato é que a Ibogaína é hoje, de longe, o tratamento mais eficaz contra a dependência que se tem notícia, em toda a história da humanidade. Feito com os cuidados necessários, é seguro, eficaz, e não existem relatos de seqüelas, nem físicas, nem psicológicas.

Assim sendo, pessoas que vivem da cronicidade da doença, para as quais não interessa que haja cura e sim perpetuação do quadro, e assim, indiretamente, perpetuação dos lucros, se insurgem contra ela.

Em toda a história da humanidade, as inovações, as mudanças de paradigma, sempre foram combatidas.

E apenas mais um detalhe: as outras opções de tratamento, são bastante ineficazes, para que se possa dar ao luxo de não dar à ibogaína a atenção que ela merece.

Postado em 20/02/2010
Atualizado em 08/12/2010, em 17/06/2011,em 07/07/2011 e em 18/01/2013

Entrevista Dartiu Xavier: "A internação compulsória é sistema de isolamento social, não de tratamento"

Interessante entrevista do Prof. Dr. Dartiu Silveira Xavier, um dos mais lúcidos estudiosos de dependência química no Brasil. Desmistifica essa criação da mídia que é a "epidemia de crack" e explica de maneira facilmente compreensível o equívoco que é a internação compulsória ou involuntária.

 

Entrevista Dartiu Xavier: "A internação compulsória é sistema de isolamento social, não de tratamento"

 Psiquiatra discute o tratamento para usuários de crack, a atuação do Estado junto a jovens usuários de drogas em situação de rua e a internação compulsória.

A demonização do crack e uma suposta epidemia que estaria se espalhando pelo Brasil tem progressivamente tomado conta da imprensa e dos discursos dos políticos, como bem ilustrou a disputa eleitoral presidencial no final do ano passado. Assim, um imaginário social mais baseado em medo que em informações tem sido usado para justificar uma série de políticas polêmicas por parte do Estado no já questionável "combate ao crack", normalmente amparado por forças repressivas. Desde o dia 30 de maio, a Secretaria Municipal de Assistência Social da Prefeitura do Rio de Janeiro tem colocado em prática o sistema de internação compulsória para crianças e adolescentes menores de idade usuários de crack em situação em rua. Os jovens são internados em abrigos onde são forçados a receber tratamento psiquiátrico. Atualmente, há cerca de 85 meninos e meninas que já foram recolhidos (contra a vontade) das ruas cariocas.

O modelo tem sido contestado por uma série de organizações sociais ligadas às áreas da assistência social, do direito, da luta antimanicomial, dos direitos humanos, entre outras, que veem na suposta defesa da saúde pública um disfarce para interesses econômicos e políticos ligados à higienização, especulação imobiliária e lobby de clínicas particulares. Em manifesto, a subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) acusa a Secretaria de Assistência Social do Rio de Janeiro de atuar como uma "agência de repressão, prestando-se à segregação e aumentando a apartação social que deveria reduzir, desconsiderando inclusive que o enfrentamento da fome é determinante no combate ao uso do crack, em especial da população de rua". O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) tampouco se mostrou satisfeito com a medida, que entende como inconstitucional. O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) classificou as ações como "práticas punitivas" e "higienistas", em uma postura segregadora que nega o "direito à cidadania, em total desrespeito aos direitos arduamente conquistados na Constituição Federal, contemplados no Estatuto da Criança e do Adolescente – (ECA), no Sistema Único da Saúde – (SUS) e no Sistema Único da Assistência Social – (SUAS)".
Respondendo à acusação de inconstitucionalidade, os defensores e idealizadores da medida atestam que na Lei 10.216, que trata de saúde mental, estão preconizados os três tipos de internação: voluntária, involuntária (sem o consentimento ou contra a vontade do paciente, com aval da família e laudo médico) e compulsória (com recomendação médica e imposição judicial). Já os que se posicionam contra alegam que, na prática, ao invés da ordem de internação compulsória ser impetrada por um juiz após análise de cada caso e com um laudo médico, ela está sendo determinada pelo Poder Executivo, de forma massificada e antes da adoção de outras medidas extra-hospitalares.
O prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (ex-DEM, quase PSD) já afirmou que vê com bons olhos a ideia de implementar modelo semelhante na capital paulista, especialmente na região central da cidade, nas chamadas "cracolândias". O Ministério Público já foi procurado pela prefeitura para assumir um posicionamento acerca da possibilidade, mas declarou que ainda está aguardando um projeto oficial impresso.
O Estado deve se fazer presente para esses jovens em situação de rua? Se sim, de que forma? O fato de serem menores de idade e/ou usuários de drogas lhes tira a capacidade de discernimento? É efetivo o tratamento feito contra a vontade do paciente? Que outros tipos de procedimentos podem ser adotados? No intuito de ajudar a responder essas e outras perguntas, a Caros Amigos conversou com o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e diretor do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes (PROAD), onde trabalha com dependentes químicos há 24 anos.


Caros Amigos - A internação compulsória não faz parte de nenhuma política pública, certo? Quando que esse dispositivo costuma ser usado? Não é só em casos específicos de possibilidade de risco da vida?
Dartiu Xavier - Sim. Todo uso de drogas pode trazer algum risco de vida, mas a internação compulsória é um dispositivo para ser usado quando existe um risco constatado de suicídio. A outra situação é quando existe um quadro mental associado do tipo psicose, seria quando a pessoa tem um julgamento falseado da realidade: se ela acha que está sendo perseguida por alienígenas ou se acredita que pode voar e resolve pular pela janela. Nessas situações de psicose ou um risco de suicídio é quando poderíamos lançar mão de uma internação involuntária.

Houve outros momentos da história em que a internação compulsória foi usada desse modo que está sendo implementado no Rio de Janeiro e prestes a ser em São Paulo?
Foi usada, principalmente, antes da luta antimanicomial. Tanto que existe até aquele filme, O bicho de sete cabeças, com o Rodrigo Santoro, que mostra os abusos que se faziam. No caso era um usuário de maconha que foi internado numa clínica psiquiátrica contra a sua vontade. Isso, hoje, é juridicamente uma coisa muito complicada, de modo geral não é mais aceito. Mas, infelizmente ainda acontece hoje em dia. Volta e meia sou chamado para atender alguém que foi internado compulsoriamente contra a vontade, sem citação de internação.
Quais são os efeitos de ansiolíticos e calmantes injetáveis? Você acredita que essas substâncias que estão sendo usadas nas clínicas do Rio são medicamentos adequados para crianças usuárias de crack?
Eu não sei efetivamente o que está sendo feito nessas clínicas no Rio. O que eu sei é que a gente não tem o aparelho de Estado nem que dê conta das internações voluntárias. Ou seja, você pega uma pessoa que tem uma dependência química associada com psicose ou risco de suicídio e temos todas as indicações médicas e até a anuência do paciente de ser internado – estou falando da internação voluntária –, ainda assim não temos estrutura para atender essas pessoas. O que acontece é que se está recorrendo a um modelo considerado ultrapassado, um modelo carcerário, dos grandes hospícios. Então, mesmo para as internações voluntárias acaba sendo usado um modelo de internação ineficaz. Se não temos estruturas nem para as internações voluntárias, imagine para as compulsórias.

O ansiolítico é um calmante forte?
Sim, ele vai diminuir a ansiedade da pessoa. Você pode usar também antidepressivos que diminuam a vontade da pessoa de usar aquela droga. Mas são paliativos, porque, na verdade, o grande determinante para a pessoa parar de usar a droga ou não, é a força de vontade. Por exemplo, eu quero parar de fumar, então eu posso tomar um calmante para diminuir esse meu desejo absurdo de fumar, mas se eu não tiver a motivação da minha decisão de parar, não haverá calmante que me faça parar de fumar. Ele não age por si só. Daí um dos problemas de tratar alguém que não está convencido de ser tratado.

Você afirma que o número de dependentes de drogas é muito inferior ao número de usuários, que não tem problemas com o consumo de drogas.
Exatamente. Para maconha e para álcool é menos de 10% dos usuários que se tornam dependentes. Para crack, por volta de 20% a 25% que se tornam dependentes, os outros permanecem no padrão de uso recreacional. Nem todo consumo é problemático.

Com esse sistema, então, corre-se o risco de internar usuários que não são dependentes de fato?
É muito provável que isso aconteça. Sobretudo porque existe uma lógica muito perversa da internação compulsória que atribui a situação de miséria e de rua à droga, quando, na realidade, a droga não é a causa daquilo, ela é consequência. Acredito que o trabalho feito nas ruas, nas cracolândias e com crianças de rua deveria ser no sentido de resgate de cidadania, moradia, educação, saúde.

O que você acha do tratamento da dependência sem que a pessoa tenha o desejo de ser tratada? Existe possibilidade de eficiência?
A eficácia é muito baixa. Existem estudos mostrando que nesses modelos de internação compulsória o máximo que se consegue de eficácia é 2%, ou seja, 98% das pessoas que saem da internação recaem depois. Certamente, porque a pessoa não está nem convencida a parar.

O Estado, de modo geral, vem se omitindo há décadas a respeito da situação de jovens moradores de rua em situações de vulnerabilidade. Por que você acha que começaram a agir agora, e desse modo?
Acredito que é por conta de uma diversidade enorme de variáveis. O que tem se falado muito é que é uma medida higienista de tirar as pessoas das ruas e que começou no Rio de Janeiro por causa da proximidade de Copa e Olimpíadas. É uma forma de tirar os miseráveis das ruas. Já vi, também, tentativas de implementação de internação compulsória por uma questão política, necessidade de o governante mostrar que está fazendo alguma coisa pela população, pelos drogados, apesar de ser uma coisa que não funciona pode render votos.

Para inglês ver.
Exatamente, para inglês ver. No caso da Copa e das Olimpíadas, literalmente para ingleses e outros gringos verem.

O tema da internação tem gerado bastante polêmica. Um dos argumentos apresentados aos que se posicionam contra a internação é de que se trata de menores de idade, e o Estado tem a obrigação de fazer-se presente, de cuidar das crianças e adolescentes. O que você acha disso e o que considera que deveria ser uma boa medida por parte do Estado nessas situações?
Acho que o argumento é válido e acho que é verdade que o Estado realmente tem que cuidar dessas crianças. Só que não acho que isso seja cuidar. Cuidar é dar moradia, educação, saúde. Não é colocar a pessoa em um cárcere psiquiátrico, em um manicômio. Porque é isso que vai acontecer: vão ser grandes depósitos de crianças desfavorecidas e que usam drogas.

Muitos dizem que a internação compulsória para essas crianças e jovens mascara um problema maior, o da desigualdade social, da falta de educação, moradia, saúde etc. Porém, os que defendem a internação afirmam que é uma medida para algo emergencial. Você vê alternativas que respondem à emergência que alegam para a situação?
Esses trabalhos das equipes multidisciplinares de rua que já fazem um trabalho, mas que deveriam ser aumentados. O trabalho deve ser na rua. As redes de CAPS [Centro de Atenção Psicossocial] são um bom exemplo e deveriam ser ampliadas.

Como funcionam?
Da seguinte forma: uma equipe multidisciplinar que tem familiaridade exclusiva com o problema das drogas vai fazendo um trabalho muito de formiguinha, porque cada caso é um caso. Eles vão identificar qual é a problemática daquela pessoa, porque a pessoa está na rua, se é por uma questão familiar, se é por uma questão de abandono total, ou seja, cada situação tem que ser vista na sua singularidade justamente para ver como que entra a droga nessa singularidade.
Fizemos um trabalho na rua uma vez com umas adolescentes que usavam drogas e perguntamos o motivo do uso, elas disseram "Olha tio, a gente usa drogas porque para comer a gente precisa se prostituir. A gente é muito pequena, para ter uma relação sexual com um adulto a gente precisa se drogar, senão a gente não aguenta de dor". Quem diria que o problema dessas meninas é a droga? Eu acho que é o último problema dessas meninas.

A necessidade da internação compulsória para crianças e adolescentes é apresentada com base em duas premissas que fundamentariam a não possibilidade de tomarem decisões por si próprios: a de que são menores de idade e a de que sendo dependentes de crack não poderiam pensar com sanidade. O fato de usarem essa última justificativa abre precedente para a internação compulsória de adultos?
Certamente. E essa segunda justificativa cai por terra na hora que pensamos naquele dado que eu falei, dos usuários de crack 75% a 80% são usuários recreacionais: são pessoas que trabalham, são produtivas, que tem família. No meu consultório particular, eu atendo executivos que são usuários recreacionais de crack, você vai dizer que o crack torna a pessoa incapaz de pensar? Não, não se pode atribuir isso ao crack. Poderíamos fazer o mesmo raciocínio com o cigarro. O indivíduo não consegue parar de fumar, está se matando, vai ter um câncer, então ele é considerado incapaz? Bom, ele é capaz de ganhar dinheiro, de ter relações sociais, de tomar uma série de decisões na vida, não dá para atribuir isso ao cigarro.

O que, por exemplo, o secretário municipal de Assistência Social do Rio, Rodrigo Bethlem, fala é que o crack é diferente de qualquer outra droga porque "faz com que a pessoa perca a noção completa da realidade".
Isso não é verdade. Não existe isso. O crack é como a cocaína, ou seja, a pessoa não perde a noção da realidade. A questão é que a compulsão pelo uso é muito intensa.

Fale um pouco sobre as condições a que os doentes mentais internados geralmente são submetidos no Brasil.
É muito complicado. É um sistema que ainda guarda muito da herança do sistema carcerário, o sistema dos manicômios. Por exemplo, um dos hospitais que tem sido citado pela mídia como modelo aqui em São Paulo de possibilidade de tratamento de dependentes é uma estrutura psiquiátrica. Esse hospital, eu não posso dizer o nome por questão de segurança, está sob intervenção do Ministério Público por maus tratos aos pacientes. E é um hospital que é considerado modelo. O que devemos esperar dos outros, que nem são vendidos como modelos? Na verdade, o que é preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como tratamento para dependentes é a internação de curto prazo só para fazer a desintoxicação, cerca de 15 dias, no máximo 30 dias, e em unidades dentro do hospital geral. Por isso que eu montei há 10 anos atrás uma estrutura dentro do hospital geral para esses casos de internação.

Aqui no Brasil são poucos os hospitais que tem essa unidade?
Pouquíssimos. Em geral, aqui no Brasil se usa o modelo manicomial ainda.

Como funciona o modelo manicomial?
É o modelo onde o indivíduo fica internado meses ou anos, não recebe atendimento multidisciplinar, não vai ser submetido à psicoterapia, recebe algum tipo de medicação – nem sempre é a medicação adequada para ele. Eu fiz um estudo há cinco anos atrás com 300 dependentes internados em hospitais psiquiátricos. Para se ter uma ideia, 90% deles, embora tivessem supostamente sendo atendidos por médicos psiquiatras, não tinha tido seu diagnóstico psiquiátrico identificado! Eles tinham depressão, fobia social, enfim, isso não foi identificado. Ou seja: é um sistema de depósito, não é um sistema de tratamento. Por isso que eu chamo de sistema carcerário, é de isolamento social, não de tratamento.

Você afirmou que "a dependência de drogas não se resolve por decreto. As medidas totalitárias promovem um alívio passageiro, como um 'barato' que entorpece a realidade". Você acha que existe a ilusão por parte dos idealizadores desse sistema de que medidas como a internação compulsória resolvam o problema ou você acredita que, de fato, a intenção é maquiar a realidade?
Eu conheço gente bem intencionada que acredita nisso. Mas é claro que pessoas mal intencionadas também estão envolvidas nisso. Por exemplo, eu estava conversando com o Dráuzio Varella, que é a favor da internação compulsória. Ele dava os prós e eu os contras, e foi interessante porque ele é uma pessoa muito bem intencionada. Não sei se ele mudou de ideia depois que conversamos, mas acredito que tenha relativizado uma série de coisas que ele pensava. O Dráuzio é uma pessoa que eu considero que está autenticamente defendendo essa ideia, com embasamento coerente, só que não vai funcionar. Foi o que eu falei para ele.

Em São Paulo, a gestão Kassab pretende permitir que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) leve à força pessoas que não aceitarem serem retiradas da rua. Pretende, também, implementar um sistema de "padrinhos", que seriam profissionais nomeados nas centrais de triagem para acompanhar um paciente durante a sua internação compulsória, até estar supostamente apto para uma "reintegração social". O que você acha desse sistema?
Esse sistema vai furar, porque é uma ingerência na vida privada das pessoas, é contra o direito de ir e vir, contra os direitos humanos. E, na verdade, o que vai acontecer é que isso vai funcionar – funcionar entre aspas porque não será eficaz – nas populações carentes. Porque quem é classe média e alta e tiver fumando crack na rua, vai ser pego mas o papai vai colocar ele numa clínica chique, vai ficar uma semana, e vai para casa depois. Então é um sistema bastante questionável do ponto de vista ético, porque vai ser aplicado nas populações "indesejáveis". Além disso, grande parte das pessoas que eu vejo defenderem a internação compulsória são donos de hospitais psiquiátricos que vão se beneficiar diretamente com isso.
Você concorda com esse discurso que tanto aparece na mídia de que o crack é mesmo um dos maiores problemas do Brasil?
Não, isso é uma fabricação. Não existe essa epidemia de crack de que tanto se fala. Não estou dizendo que a dependência de crack não é uma coisa grave, é gravíssima. No meu serviço eu atendo 600 pessoas por mês, metade ou 40% é dependente de crack. Então, o problema existe e o problema é sério. Só que ele não aumentou. Eu atendo essa frequência de dependentes há 15 anos. O que se criou é a ideia falsa de uma epidemia de crack quando o grande problema da saúde pública do Brasil dentro da área de drogas ainda é o álcool, sem dúvidas. Eu não sei qual foi o mote disso. Os estudos que o próprio Ministério da Saúde e a SENAD [Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas] divulgam não comprovam a existência de uma epidemia de crack.

Por que, apesar desse discurso demonizador do crack, você acha que as pessoas continuam buscando o crack? Quais são os efeitos positivos que faz com que a demanda persista?
Se a gente for ver a heroína na Europa e nos Estados Unidos – a heroína não é uma droga muito discutida comparada ao crack – conseguimos fazer prevenção, tratamento, mas sempre aparecem novos usuários. Tem pessoas que tem esse comportamento de risco, em geral são pessoas impulsivas, mas é algo turbinado por uma situação de exclusão social.

Qual a importância da redução de danos?
A redução de danos é um conjunto de estratégias que a gente usa para aquelas pessoas que não podem parar de usar drogas, ou porque não querem ou porque não conseguem. Normalmente, o que se fazia antigamente era 'olha, não deu certo o tratamento, o indivíduo não ficou abstinente, então sinto muito, vai continuar dependente'. A redução de danos surgiu justamente para essas pessoas que não conseguiram se tratar ou que não aceitaram o tratamento, mas que são formas e estratégias para diminuir os riscos relacionados ao consumo. Então por exemplo, teve um estudo sobre redução de danos publicado há anos atrás fora do Brasil, a respeito de um grupo de usuários de crack que não conseguia se tratar de forma nenhuma. Mas começaram a relatar que quando eles usavam maconha, conseguiam segurar e não usar crack. Eu acompanhei esse grupo de pessoas por um ano e para a nossa surpresa, 68% deles abandonou o crack através do uso de maconha. Depois de três meses tinham abandonado o crack. Até brinquei na época que as pessoas falam que a maconha é porta de entrada para outras drogas, mas ela pode ser porta de saída também.
Gabriela Moncau é jornalista.

Fonte: Caros Amigos