24 novembro, 2010

A política de descriminalização mostra bons resultados em Portugal

fonte: Scientific American

Interessante artigo da conceituada revista Scientific American, que relata a situação em Portugal, após anos de descriminalização das drogas.

Em 2001 o governo portugues deu um passo ousado: descriminalizou a posse e o uso de heroína, cocaína, maconha, LSD e outras drogas até então ilícitas. A lógica era focar na prevenção e no tratamento, e não no encarceramento dos usuários.

Ao contrário das previsões catastrofistas, a situação não piorou, pelo contrário; as mortes dor overdose diminuiram de 400 para 290 por ano, e os novos casos de HIV relacionados ao uso de seringas e agulhas contaminadas diminuíram de 1400 para 400 por ano.

Alem disso, Portugal tambem não virou um "Paraíso das Drogas" nem um destino turístico para usuários, como temiam alguns.

Estes dados constam de relatório do Cato Institute, de Washington.

Walter Kemp, porta voz do Escritório da ONU para Drogas e Crime afirmou que "a descriminalização das drogas em Portugal atingiu seu objetivo primário, que era reduzir os danos à saúde pelo abuso de drogas".

Já a Casa Branca e o DEA se recusaram a comentar o relatório.

Os Cinco Remédios Mais Lucrativos Do Mundo Não Curam Nada

Os 5 remédios mais lucrativos do mundo tem uma característica em comum interessante, além de serem, como já dito, altamente lucrativos: não curam nada. São medicamentos vendidos a preços altíssimos que controlam sintomas, mas não curam a doença de base... servem perfeitamente aos intentos da grande indústria farmacêutica, que procura TRATAMENTOS, não CURAS. Se os remédios curassem problemas, principalmente os crônicos, isso seria um tiro no pé da indústria... por isso ela produz substâncias que controlam os sintomas mas não curam, com a função de deixar o paciente vivo mais tempo para que possa consumir mais remédio.

1. Lípitor (receita bruta 2009 7,5 bilhões de dólares)
Para baixar colesterol e triglicérides, mas precisa tomar para sempre porque se parar sobe tudo de novo...

2. Nexium (receita bruta 2009 6,3 bilhões de dólares)
Para gastrites, úlceras e refluxo. Diminui a acidez no estômago, mas se parar volta tudo como era antes.

3. Plavix (receita bruta 2009 5,6 bilhões de dólares)
melhora a circulação, "afinando" o sangue... como os outros, só faz efeito enquanto está sendo tomado, é para o resto da vida

4. Advair (receita bruta 2009 4,7 bilhões de dólares)
Para asma e bronquite. Diminui a severidade das crises, mas elas cotinuam ocorrendo.

5. Seroquel (receita bruta 2009 4,2 bilhões de dólares)
Para psicoses, depressões e outros quadros psiquiátricos, e como os outros, apenas controla os sintomas.

É claro que estas medicações são extremamente úteis, melhoram muito a qualidade de vida dos pacientes, isto é indiscutível. Mas que não curam, não curam.

Precisa explicar porque a grande indústria farmacêutica (Big Farma) não tem interesse na ibogaína?

Fora isso, a mesma Big Farma patrocina médicos em viagens, congressos, os suborna com presentes, brindes... quem vai ter interesse em mudar esse estado de coisas? Todos estão ganhando... mas e quantos aos pacientes dependentes? Bom, problema deles, quem mandou usar drogas? Para estes, sobra a opção das internações a preço de resort 7 estrelas, que tambem não resolvem nada. Mas pelo menos os donos de clínicas ganham também...

Pergunte a um psiquiatra a opinião dele sobre a ibogaína... se ele já tiver ouvido falar do assunto, (o que é pouco provável, porque a maioria deles só se atualiza com informações vindas da própria indústria), ele vai ser contra... agora você já sabe porque.

16 novembro, 2010

Pode uma sonoridade funcionar como droga?

Chamam-lhes e-drugs ou drogas digitais. São sons binaurais. Custam entre sete e 150 euros em sites especializados.

Por Ana Cristina Pereira

Escolher ficheiro, pôr auscultadores, accionar. Ouve-se um som diferente em cada lado. Aqueles ruídos comercializam-se na Internet como e-drugs - drogas digitais. Têm nomes sugestivos: Orgasm, Peyote, Marijuana, Cocaine, Opium... Há quem lhes atribua sensações de relaxamento, euforia, transe. Mas pode o som estimular o cérebro ao ponto de causar um efeito semelhante ao de drogas como a cannabis, o ópio, a cocaína ou o LSD?

Abundam descrições em sites da especialidade, como o i-doser. Nome de código "Sweet Lemon" escreveu: "Rebenta com a minha cabeça, não a expande apenas. Acabei agora de experimentar o Peyote e foi esquisito. Finalmente, parei de pensar no que ia acontecer enquanto ouvia [aquela música] e bum. Bateu. Reparei como a linha onde a parede e o tecto se tocam era engraçada. Parei de focar e vi sangue roxo a escorrer pelo canto da minha visão periférica. Olhei para trás e desapareceu e vi a outra parede tornar-se roxa e, depois, as luzes tinham chamas roxas a atravessar o tecto. Vinte minutos de loucura. Experimenta!"

No mesmo fórum sobre os eventuais efeitos das e-drugs, estusiásticas opiniões como aquela convivem com opiniões reticentes ou cépticas. Como esta, nome de código "Kurwik": "Experimentei o Peyote três vezes e nada aconteceu. Senti apenas um pouco de medo. Fora disso, nada. Total perda de dinheiro. Vou tentar algum Ecstasy e Excite. Se não funcionar, adeus, caixote do lixo."

A moda está a apanhar adolescentes em muitos pontos do planeta, à boleia das redes sociais. Encontrámos Nick Ashton, fundador do i-doser, numa delas - no Facebook. Por e-mail, em respostas muitíssimo curtas, o jovem norte-americano assegurou que, desde que foi activada, em 2005, a página foi visitada "por milhões". "A nossa aplicação foi descarregada 1,5 milhões de vezes."

Rituais de iniciação

O fenómeno é novo, mas o princípio não é, adverte Maria do Carmo Carvalho, autora de Culturas Juvenis e Novos Usos de Drogas em Meio Festivo (Campo das Letras, 2007): "Sonoridades em frequências muito baixas, durante um longo período, com cadências muito repetitivas, são usadas ancestralmente para induzir estados alterados de consciência."

A investigadora da Universidade Católica Portuguesa fala em "tribos africanas, que produzem modos de realização da cura associados à espiritualidade". Cita um artigo de Uwe Maas e Suster Strubelt sobre o uso de música nos rituais de iniciação no Gabão: "A música é usada por culturas tradicionais em todo o mundo para criar e acompanhar estados de transe". Analisaram as composições e a sua funcionalidade e escreveram: "Supomos que a música potencia o efeito da droga ibogaína que é usada durante o ritual de iniciação".

Não é preciso ir a África. Basta pensar no transe em que entram alguns crentes durante cerimónias de certas seitas. Sem drogas. "Esses estados de transe acontecem com pessoas que estão predispostas a isso e que têm uma certa susceptibilidade", explica o neurologista João Massano.

"Sweet Lemon" pode estar a dizer a verdade e "Kurwik" pode estar a dizer a verdade também? "Há pessoas que têm uma capacidade invulgar de ouvir determinados sons ou de ver determinadas cores ou formas", torna o investigador da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. "Chamam-se sinestesias. Mas são alucinações muito simples, nada comparáveis às provocadas por drogas químicas."

O neurologista traz à conversa o efeito placebo. O método é muito usado na investigação científica: para se distinguir os efeitos de um fármaco da cura por sugestão, um grupo toma um princípio activo, outro um placebo. "Às vezes, há melhores resultados no grupo do placebo."

Pedimos a um músico para experimentar. Deitado, no escuro, com auscultadores, experimentou o simulador de óxido nitroso. Nada. Experimentou um simulador de "substâncias que se encontram na pele de algumas espécies de sapos". Apesar de mais relaxado, tornou a nada sentir. "Tinha uma série de pensamentos a correr pela cabeça, mas, ao fim e ao cabo, não era muito diferente de quando estou prestes a adormecer." Não desistiu. Experimentou um simulador de LSD. Nada. Experimentou um relaxante. "Era extremamente irritante." Desistiu.

"Não fiz a experiência desconfiado. Estava mesmo com esperança que funcionasse, apesar de duvidar muito de algumas das descrições dos produtos", comenta. Faz uma ressalva. Lembra que só usou downloads ilegais. "Sabe-se lá se este material está corrompido."

"Para alguém sentir os efeitos de uma droga, tem de haver quem lhe explique. Senão, a pessoa que está a experimentar não sabe ler o que está a sentir", sublinha Maria do Carmo Carvalho. E os vendedores de e-drugs sabem-no. Uma curta busca ao YouTube conduz a múltiplos vídeos, algumas com centenas de milhares de pageviews. Há os que ensinam a usar; os que mostram miúdos, de auscultadores, a "consumir"; por baixo, o inevitável debate.

"Acho que temos de ter alguma frieza em analisar isto", adverte João Massano. "Não sei quantos destes relatos [arrebatados] são fabricados. Estive a ver se há testes científicos que comprovem os efeitos e não os encontrei - não há. Nunca grupos independentes fizeram testes científicos a isto. Analisei diversas situações. Numa delas, especifica-se as frequências dos sons utilizados para produzir um efeito. Algumas das frequências referidas não são audíveis pelo ser humano. Isso levou-me a pensar que isto é só um negócio."

"Quantos dos testemunhos serão estratégia de marketing?", questiona o neurologista. Alguém está a ganhar dinheiro com a venda destes sons binaurais. Os preços dos ficheiros oscilam entre sete e 150 euros. Podem descarregar-se alguns de graça. E não falta quem saiba como descarregar alguns ilegalmente.

Parece tudo muito profissional nos sites que vendem sessões de 15 a 30 minutos. Nick Ashton, por exemplo, diz que estiveram "cinco anos" a pesquisar. No site, refere-se que grande parte do tempo foi gasto em testes. Para Nick Ashton, isto é só uma forma "legal" e "sem efeitos secundários" de "simular um estado de espírito ou uma experiência". E isso, para Maria do Carmo Carvalho, é "interessante". Nos contextos festivos juvenis, como o das raves, "a experiência é global". Há os lugares, as músicas, os pares, as drogas. Aqui, a função exclusiva da experiência é alterar a consciência: "Há uma intencionalidade, mas também uma busca de uma estratégia sem riscos".

iPods banidos

Há quem não veja o fenómeno de forma inócua. O Grupo de Narcóticos de Oklahoma já fez saber que teme que este fenómeno leve os adolescentes à experimentação de "outras" drogas. "Os miúdos podem ir a estes sites ver o que se passa e isso pode levá-los a outros sítios", declarou, em jeito de alerta, o porta-voz, Mark Woodward, à News 9, citada pela revista Wired. Uma escola pública da zona está a levar a suposta ameaça tão a sério que mandou uma carta aos pais. Os educadores foram o mais longe que puderam: decidiram banir os iPods da escola. Maria do Carmo Carvalho contesta raciocínios como este. Há muito que se sabe que a teoria da escalada "é um mito".

Os relatos de medos propagam-se, alimentados por pais pouco ou nada familiarizados com as potencialidades da Internet. Já há até quem mencione o eventual risco de disfunções cerebrais. E isso, a João Massano, parece "ficção científica": "Não vejo que isto possa provocar algum efeito neurológico nocivo. Não vejo efeitos secundários, a não ser os muito conhecidos de ouvir música muito alto. Quanto muito, podem queixar-se de fraude."

Notícia corrigida às 13h45, dia 14/11/2010

Fonte : Publico.pt

01 novembro, 2010

Álcool é mais prejudicial para a sociedade que crack e heroína, diz cientista inglês

Estudo leva em conta os danos individuais e às outras pessoas


O álcool foi considerado a droga mais perigosa da Grã-Bretanha, à frente até do crack e da cocaína, segundo um ranking que leva em conta, além dos prejuízos pessoais, os danos que ela pode provocar na sociedade. O estudo, publicado nesta segunda-feira pelo periódico médico Lancet, foi realizado pelo Comitê Científico Independente sobre Drogas, liderado pelo ex-consultor governamental David Nutt.

Nutt foi demitido ano passado após fazer declarações contra a política antidrogas do governo, quando disse que andar de cavalo era mais perigoso que ingerir ecstasy, uma droga sintética bastante consumida na Grã-Bretanha. Também afirmou que a maconha fora promovida à droga classe B, a segunda classe mais perigosa segundo o Conselho Britânico sobre Abuso de Drogas, por causa de uma “decisão política”.

No estudo publicado nesta segunda-feira, Nutt e seus colegas classificam as drogas pelos danos individuais, que vão desde a morte até danos mentais e perda dos relacionamentos, e pelos danos que podem provocar às outras pessoas. A pontuação vai de zero (inofensivo) até 100 (mais perigoso).

No ranking geral, o álcool ficou em primeiro lugar, com 72 pontos — a heroína ficou com 55 pontos, o crack com 54, a cocaína ganhou 27 pontos, a maconha ficou com 20, o ecstasy e os anabolizantes com nove e os cogumelos alucinógenos com cinco. Se levados em conta apenas os danos individuais, as drogas mais perigosas são o crack, a heroína e metanfetamina. A mais danosa aos outros foi o álcool, seguida pela heroína e o crack.

Os autores do estudo escreveram que a classificação atual é ultrapassada e é preciso chamar a atenção de forma agressiva para os perigos do álcool, em prol da saúde pública. Pelo sistema britânico de classificação atual, o ecstasy é considerado uma droga classe A, tão perigoso quanto metanfetamina.

Nutt é autor de outro estudo, publicado também no Lancet em 2007, afirmando que álcool e cigarro eram mais prejudiciais que a maconha e o LSD.


Fontes:
Lancet
Revista Veja

27 outubro, 2010

Relator da ONU sugere que se aumente o acesso à Ibogaína

Numa conferência de imprensa em Nova York na terça-feira, dia 26 de outubro de 2010, na sessão 65 da Assembleia Geral da ONU, um dos principais especialistas da ONU em direitos humanos exigiu um repensar fundamental da política internacional de drogas.

Anand Grover, da India, é o Relator Especial das Nações Unidas sobre o Direito de Todos ao Mais Alto Padrão de Saúde Física e Mental, cujo mandato é derivado do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Ele recomenda substancialmente reformar as leis e as políticas que inibem a prestação de serviços essenciais de saúde aos usuários de drogas, e a lei de execução de iniciativas de revisão em torno do controle de drogas para assegurar o cumprimento das obrigações relativas aos direitos humanos.

Sugeriu tambem alterar a legislação, regulamentos e políticas dos países membros para aumentar o acesso controlado de medicamentos essenciais. (E não apenas as drogas pseudo-efedrina, a metadona, a cannabis, a ibogaína, LSD, etc, mas os locais onde elas são mais necessárias como opções de tratamento, ou seja: as prisões)

O Sr Grover afirma que "A criminalização excessiva e as práticas de aplicação da lei podem também minar iniciativas de promoção da saúde, perpetuar o estigma e os riscos de saúde que aumentam em populações inteiras - não só naqueles que usam drogas."

O relatório é a afirmação mais clara até agora de dentro do sistema das Nações Unidas sobre os danos que as políticas de drogas têm causado e a necessidade de uma mudança fundamental na política de drogas.

O relatório foi bem acolhido pela União Europeia na declaração da UE sobre a criminalidade e as drogas para Assembleia Geral da ONU

Fonte: UN Special Rapporteur on the Right to Health, Report of the Special Rapporteur on the right of everyone to the enjoyment of the highest attainable standard of physical and mental health

LINK

01 outubro, 2010



Folder da Conferência Internacional sobre Ibogaína no tratamento das dependências químicas, organizada pelo Ministério da Saúde da Catalunha, Espanha, e pela ICEERS, uma ONG que visa estimular a pesquisa e o estudo de plantas medicinais. A Conferência contará com a presença dos maiores especialistas no assunto do mundo. O governo espanhol pretende instituir a ibogaína como opção de tratamento como política pública. O evento será dia 15 de outubro próximo.

Aspectos Culturais e Simbólicos do Uso de Enteógenos

author: Jammysson W.

O uso intencional de substâncias psicoativas com o objetivo de se criar estados alterados de consciência é uma prática que existe há milhares de anos. Vários grupos de animais (desde os mais primitivos) usam substâncias psicoativas com a intenção de ficarem "intoxicados".Ex: Manduca quinquemaculata (mariposas) que se "alimentam" das flores de Datura meteloides (planta rica em potentes alcalóides com propriedades psicoativas como a atropina) (Samorini, 2002), javalis e primatas que cavam a terra em busca das raízes do poderoso arbusto eboka (Tabernanthe iboga), planta utilizada nas cerimônias das religiões Bwiti, presentes no Congo e no Gabão (África) (Samorini, 2002; Labate, 2003), etc...
Diferentes povos nos mais variados ecossistemas do planeta praticaram e praticam técnicas as mais diversas para atingirem estas alterações de consciência: jejuns, privações sensoriais, tambores, danças e, não menos importante, drogas. baseado em entrevistas e trabalho de campo em diversas partes do mundo, afirma que a "descoberta" dos efeitos de algumas plantas (Cannabis sp.,Tabernanthe iboga, café, etc) foi realizada através da observação do comportamento de alguns animais sob efeito destes vegetais.
O uso de enteógenos por seres humanos existe há, pelo menos, 50 mil anos Em praticamente todos os cantos da Terra existe ou existiu alguma cultura que usa ou usou estes seres vivos com características especiais para as mais diversas finalidades. Dentre alguns destes podemos citar:
(a) Soma (Supostamente Amanita muscaria), cogumelo paleo-siberiano utilizado por caçadores coletores das tribos Tungue e Koriak na Eurásia (b) Peiote (Lophophora sp.), cacto cultuado pelos Astecas e atualmente pelos índios huicholes do, possuí mais de 55 alcalóides diferentes .(c) Teonanacatl (Psilocybe sp.), cogumelos utilizados ritualmente pelos Maias, Mazatecas e outros grupos indpigenas na região de Oaxaca, México , guatemala e varias outras civilizações antigas.(d) Ololiuqui (Rivea corymbosa, Ipomoea violacea), a trepadeira mágica dos Astecas e Mazatecas, ainda hoje seus descendentes a utilizam com finalidades divinatórias, terapêuticas e mágicas (e) Bangue (Cannabis sativa, C. indica, C. ruderalis), planta que se encontra cultivada em praticamente todo o planeta, seu uso como medicamento, sacramento oupara fins recreativos permeia a história de povos na Índia (os sadhus, ou homens santos), na África (principalmente Etiópia e Serra Leoa), Ásia (usada para fins meditativos no Budismo Tântrico, por exemplo), Américas (tribos indígenas como os Cuna no Panamá, os Cora, Tepehua, e os Tepecanos no México a chamam de Santa Rosa, Rosa Maria, etc, e algumas tribos brasileiras também a utilizam, por exemplo, para fazer roçado, como os Tenetehara do Maranhão) embora o principal psicoativo presente na Cannabis sp. seja o já amplamente conhecido Δ9 -tetrahidrocanabinol, em um recente simpósio (I Simpósio Cannabis sativa L e Substâncias Canabinóides em Medicina, São Paulo, 15 e 16 de abril de 2004 – CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, Dep. De Psicobiologiada UNIFESP/EPM e SENAD Secretaria Nacional Antidrogas) foram relatadas mais de 66 substâncias diferentes presentes na maconha; (F) Paricá, epená, cohoba, yopo, vilca, cébil (Anadenanthera peregrina, A. colubrina, Virola sp.), utilizada por grupos indígenas, por exemplo, na fronteira entre Brasil e Venezuela - os Yanomami - como um pó para inalação (rapé) (g) Jurema (Mimosa hostilis), uma leguminosa que foi utilizada para caçar e guerrear entre os índios do nordeste brasileiros e atualmente é usada, entre outras finalidades, para fins mágicos entre raizeiros e indígenas. (h) Ayahuasca (Banisteriopsis sp. e combinações), seu uso foi relatado entre, pelo menos, 72 grupos indígenas diferentes que habitam, na maioria dos casos, a Amazônia Ocidental. Etc...
Neste pequeno trabalho pretendo realizar uma abordagem cultural e simbólica da importância que estes seres divinos possuem nos diversos contextos em que são utilizados. De uma maneira geral podemos afirmar que estas substâncias estão envolvidas em aspectos mágico-religiosos, embora existam exceções. Não pretendo realizar um estudo minucioso de cada um destes vegetais, mas tentar abordar de uma maneira genérica o importante papel que estes possuem na cosmologia, ordem social, ritos de passagem, rituais de cura e no processo do morrer nas culturas em que são consumidos. Historicamente, estas plantas, consideradas plantas-espíritos ou plantasprofessoras, vêm sendo usadas para diversos fins (finalidades e, respectivamente, citações bibliográficas, não exaustivas):
Reforço da identidade ética, Coesão social, Transmissão de valores culturais , Produção artística, Morte simbólica do ego, Autoconhecimento , Resolução de conflitos sociais, Feitiçaria , Caça, Obtenção de poder político e cósmico , Metamorfosear-se em animais, Divinação, Comunicação com as divindades e aconselhamento pelos espíritos, Atingir estados de , Treinamento do xamã , Indução de sonhos para prever o futuro, Profecias, Telepatia; clarividência, Descobrir o paradeiro de pessoas desaparecidas, Obter visões diagnósticas para a prescrição de remédios, Identificar o inimigo causador do mal ou o agente causador do mal, Analgésico, anti-espasmódico, anti-diurético, anti-reumático, contra picadas de cobra, anti-febre-amarela, Atingir estados de intoxicação, êxtase e periódicos estados prazerosos.
Observando a vasta, mas não exaustiva lista de possibilidades de usos destes agentes, verificamos que o uso de drogas em nossa sociedade (de uma maneira patológica) é a exceção, e não a regra. Pesquisadores respeitados como Abert Hofmann(descobridor do LSD-25) e Giorgio Samorini referem-se a esta atual situação do uso de drogas em nossa cultura como uma desacralização/profanação (Hofmann) ou desculturação (Samorini, 2002). O que estes autores (e tantos outros) afirmam é que o uso destes professores vegetais sempre esteve cercado de ética, moral e regras de conduta ratificadas pelos valores culturais. O antropólogo Edward MacRae (1992) disserta sobre como sanções socioculturais empregadas por grupos que fazem um uso ritualizado de psicoativos são mais eficazes que as leis proibicionistas de grande parte das nações quando comparamos os efeitos sociais do controle e forma de uso destes diferentes pontos de vista. Alberto Groisman (2000), em sua tese de doutorado sobre as igrejas do Santo Daime na Holanda, afirma que, na maioria das vezes, os aspectos socioculturais são mais importantes (e, inclusive, moldam/controlam) nas experiências com psicoativos do que os aspectos psicofarmacológicos. Com estes argumentos – que não são exaustivos – podemos observar e, pelo menos, reavaliar nossa postura perante o atual modelo de relação que temos com os psicoativos em geral e, especialmente, com os enteógenos. Esta atual "guerra contra as drogas" mostra-se, cada vez mais, uma guerra etnocida, como já havia dito o antropólogo Anthony Henman em 1986.

Fonte : Nucleo De Estudos interdisciplinares Sobre Psicoativos

17 setembro, 2010

A Droga que Cura o Vício

Fonte: Revista Galileu, Editora Globo

Reportagem / drogas
Ibogaína: a droga que cura o vício

Da planta iboga é extraída a ibogaína, uma substância psicodélica que faz sonhar por 12 horas e é cada vez mais usada contra a dependência química

Autor : Fausto Salvadori


Deitado numa cama, Wladimir Kosiski, 33 anos, viu, literalmente, sua vida passar como num filme — e descobriu que era um drama ruim. A abertura até prometia: cenas de sua infância e adolescência, o casamento, o emprego como vendedor em uma multinacional em Curitiba (PR), a faculdade, dois filhos... Mas, ao chegar aos 21 anos, o roteiro virava filme B, uma típica história de dependência de drogas, reprisando todos os clichês do gênero. O crack, então, roubava a cena: uma sequência previsível de empregos perdidos, faculdade abandonada e bens vendidos a preço de banana para pagar o vício. E sua carreira de vendedor em multinacional acabou enveredando para a vida de aviãozinho do tráfico em troca de alguns gramas de pedras.

O filme apareceu como uma espécie de sonho acordado durante as 48 horas que Wladimir passou sob o efeito da ibogaína, uma droga psicodélica, em uma clínica no Estado de São Paulo (que prefere não divulgar o nome). Durante esse tempo, ele ficou sonolento, mas plenamente consciente. Viu nítidas as imagens de sua vida, como se fossem projetadas em uma tela de LCD na parede do quarto, logo acima do médico que o observava sobre a cama. Quando o efeito passou, foi a primeira vez em anos que Wladimir acordou sem a fissura, o desejo incontrolável pela fumaça do crack que ataca os dependentes. Nem o desejo, nem as náuseas e nem as dores comuns desse tipo de abstinência apareceram. “Era como se eu nunca tivesse usado droga nenhuma”, diz o hoje administrador de empresas, que passou pelo tratamento e se livrou da dependência em 2007.

A substância que ajudou Wladimir é cada vez mais usada em terapias experimentais contra o vício. De 1962, quando começou a ser testada em dependentes químicos, até 2006, 3.414 pessoas usaram a ibogaína, obtida a partir da raiz de um arbusto africano, a iboga, para fins terapêuticos. Só nos últimos quatro anos, no entanto, 7 mil pessoas passaram pelas terapias, de acordo com dados preliminares de um estudo do Dr. Kenneth Alper, da New York School of Medicine, nos Estados Unidos. O número de tratamentos cresceu tanto que provocou uma escassez da substância, ainda produzida de maneira artesanal, no mundo.

AVAL DA CIÊNCIA> Boa parte dos cientistas torce o nariz diante da ideia de se usar uma fortíssima droga psicodélica para se tratar dependentes químicos. Porém, o crescimento no número de terapias bem-sucedidas e o início de novos estudos deram mais credibilidade à prática. Um deles começou em julho, conduzido pela Associação Multidisciplinar para Pesquisa de Psicodélicos (MAPS, na sigla em inglês), de Santa Cruz, na Califórnia. De acordo com a entidade, trata-se da primeira pesquisa sobre os efeitos de longo prazo da ibogaína na luta contra o vício. O levantamento é feito em cima de usuários de heroína, tratados com a droga por uma clínica do México, a Pangea Biomedics. O interesse dos pesquisadores surgiu após estudos que mostram os benefícios da prática. “Há cada vez mais aceitação por parte da comunidade científica”, afirma Randolph Hencken, diretor de comunicação da MAPS. Os pacientes da Pangea são, em boa parte, americanos que cruzam a fronteira para receber um tratamento considerado ilegal nos EUA (embora a pesquisa seja permitida por lá). A ibogaína também é proibida na Dinamarca, na Bélgica, na Suécia e na Suíça. Já no Gabão, é considerada tesouro nacional. Na África Central, curandeiros usam a raiz em rituais contra as chamadas “doenças do espírito”.

Um deles, da religião Bouiti no Camarões, faz com que o participante coma uma grande quantidade de iboga (que pode chegar a 500 g) enquanto um grupo canta, toca e dança a noite inteira. A cerimônia de três dias pode produzir um coma induzido — o que é entendido como uma viagem ao mundo dos mortos. O objetivo, dizem, é receber revelações, curar doenças ou comunicar-se com aqueles que já morreram. Trabalho da antropóloga paulistana Bia Labate, que estudou a droga, afirma que “acredita-se que os pigmeus tenham descoberto a iboga em tempos imemoriáveis”.

A primeira pesquisa brasileira no assunto está prevista para começar no ano que vem, sob orientação do psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ainda que os resultados sejam positivos, não há chance de cápsulas de ibogaína chegarem às farmácias tão cedo. “Sob estrita supervisão médica, a droga poderia se tornar um medicamento, mas custaria milhões de dólares em estudos e ainda não há investidores para tanto”, diz Hencken.

O EFEITO> Ainda não se sabe exatamente como essa substância atua no combate à dependência, mas dezenas de pesquisas em animais e humanos indicam que age em dois níveis: tanto na química cerebral como na psicologia do dependente. Por um lado, a droga estimula a produção do hormônio GDNF, que promove a regeneração do tecido nervoso e estimula a criação de conexões neuronais. Isso permitiria reparar áreas do cérebro associadas à dependência, além de favorecer a produção de serotonina e dopamina, neurotransmissores responsáveis pelas sensações de bem-estar e prazer. Isso explicaria o desaparecimento da fissura relatado pelos dependentes logo após sair de uma sessão.

Na outra frente, a ibogaína promoveria uma espécie de psicoterapia intensiva ao fazer o paciente enxergar imagens da própria vida enquanto a mente fica lúcida. Estas visões não seriam alucinações, como as imagens de uma viagem de LSD. É como sonhar de olhos abertos, o que ajudaria os dependentes a identificar fatores que os teriam empurrado para as drogas em determinados momentos da vida. Estudos com eletroencefalogramas feitos pela Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, apontaram que ondas cerebrais de um paciente que tomou ibogaína têm o mesmo comportamento daquelas de alguém em REM (a fase do sono em que sonhamos). “O sonho renova a mente e, se no sono comum temos apenas cinco minutos de sonho a cada duas horas, na ibogaína são 12 horas de sonho intensivo”, aponta o gastroenterologista Bruno Daniel Rasmussen Chaves, que estuda o tema desde 1994 e participará da pequisa da Unifesp.

RISCOS> No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informa que não há restrições legais à ibogaína, mas seu uso como medicamento não está regulamentado. Por isso, os tratamentos são considerados experimentais e as clínicas não fazem propaganda. A importação é feita pelos próprios pacientes, que pagam cerca de R$ 5 mil por uma sessão com o derivado da raiz. Após passar por exames médicos, o dependente ingere as cápsulas, deita-se em uma cama e deixa sua mente navegar pelos efeitos, que podem durar até 72 horas. Durante esse tempo, médicos monitoram o paciente. Vale dizer que a literatura médica registra 12 óbitos associados ao uso de ibogaína nas últimas quatro décadas, provocados por diminuição na frequência cardíaca (o equivalente a uma morte a cada 300 usuários). No entanto, estudos de Deborah Mash, neurologista da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, que já acompanhou o tratamento de cerca de 500 pacientes, apontam que não há registro de morte por ingestão de ibogaína em ambiente hospitalar. É preciso que o paciente chegue “limpo” à sessão. “As mortes registradas ocorreram em tratamentos de fundo de quintal, em que as pessoas fizeram uso concomitante de ibogaína e outras substâncias”, afirma Chaves.

NÃO HÁ FÓRMULA MÁGICA> Estudiosos e pacientes avisam: a droga não é uma poção mágica. Para se livrar da dependência, Wladimir Kosiski aliou o tratamento à psicoterapia e mudança drástica de hábitos. Voltou a trabalhar, a estudar e nunca mais pisou no local onde comprava crack. Não foi isso o que fez o professor Gilberto Luiz Goffi da Costa, 44 anos, que se tratou com ibogaína pela primeira vez em 2005. Viciado em drogas desde os 14 anos, Gilberto já acumulava 18 tratamentos fracassados contra dependência. Volta e meia, dormia nas ruas de Curitiba e praticava roubos para comprar crack: já havia sido preso cinco vezes. Após usar ibogaína, achou que estava curado. “Tive uma sensação de bem-estar, mas é um efeito que se perde depois”, afirma. Estava livre do desejo, mas continuou a frequentar os mesmos ambientes e amigos com quem dividia drogas. Em pouco tempo, foi dominado novamente pelo crack. “A ibogaína retira a fissura, mas a pessoa pode continuar a usar droga mesmo sem vontade, como alguém que estraga um regime por gula, não por fome”, diz Chaves. Gilberto só conseguiu permanecer “limpo” após a terceira vez que se tratou, em 2008, quando aliou a substância a uma troca completa de atitudes, seguindo o método dos Narcóticos Anônimos. Sem consumir drogas há dois anos, hoje dá aulas de línguas e é consultor no tratamento de outros dependentes. Ao contrário da viagem pelo mundo dos mortos em uma sessão dos rituais africanos, a ibogaína ajudou o curitibano, pouco a pouco, a permanecer no mundo dos vivos.

Revista Galileu

02 setembro, 2010

Cannabis Medicinal: Não lemos e não-gostamos?

Por Elisaldo Carlini (*)

Em Maio deste ano foi realizado o Simpósio Internacional: “Por uma Agência Brasileira da Cannabis Medicinal?” sob minha presidência, contando com a participação de cientistas do Brasil, Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e Holanda, representantes brasileiros de vários órgãos públicos, sociedades científicas e numerosa audiência. Após dois dias de intensas discussões foi aprovado por unanimidade um documento recomendando ao Governo Federal a oficialização da criação da Agência Brasileira da Cannabis Medicinal.

Esperava uma discussão posterior, científica e acalorada, pois sabia de algumas opiniões contrárias à proposta. Entre estas o parecer do Departamento de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) cujos representantes compareceram apenas para apresentar seu parecer, ausentando-se totalmente, antes e depois, de todo o restante do simpósio.

Esta havendo sim a esperada discussão, veiculada principalmente através da Folha de São Paulo, mas num nível de entristecer. De fato, expressões como – “o dom de iludir”; “Lobby da maconha”; “Maconhabras”; “uma idéia fixa: a legalização das drogas”; “elementos com pretensa respeitabilidade”; “paixão dos lobistas”; “exemplo de indigência intelectual”; “querem maiores facilitações para o consumo”; “travestidos de neurocientistas”; – não se coadunam com a seriedade que deve prevalecer em qualquer discussão científica. Os autores de tais infelizes afirmações certamente não leram a celebre frase de Claude Bernard, o pai da medicina experimental: “em ciência criticar não é sinônimo de denegrir”.

Por outro lado, os contrários ao uso medicinal da maconha utilizaram de argumentos inverídicos (para dizer o mínimo) quando tentam criar uma atmosfera de pânico, desviando o foco da atenção (maconha como medicamento). Assim:

• Legalização da Maconha – O item 6 da carta do Simpósio diz cristalinamente: “o uso clínico dos derivados da Cannabis sativa L ou de seus derivados naturais ou sintéticos não pode ser confundido com o uso recreativo (não-médico) da planta”. Os autores das infelizes frases não leram, portanto, esta resolução.

• “O uso médico esta longe de receber aprovações de órgãos como a Agência FDA dos EUA”, dizem os autores das afirmativas. Ora, um princípio ativo da maconha, o ∆9-THC, esta aprovado como medicamento por esta Agência desde a década de 1990, sendo o produto Marinol® produzido e utilizado nos Estados Unidos, e exportado para vários países há quase 20 anos.

Portanto, os autores de tal afirmativa também não leram nada a respeito. Mas não é só isso, pois a maconha e seus derivados também já têm aprovação para uso médico em países como Canadá, Reino Unido, Holanda e Espanha. A Ministra da Saúde da Espanha chegou a declarar: ao aprovar o seu uso para a Esclerose Múltipla: “O uso terapêutico da cannabis é estudado há anos, por isso existem testes clínicos e evidências científicas de sua utilidade em determinadas doenças”

• Dizem ainda os autores das frases: “O uso terapêutico da maconha não tem comprovação científica. Se recomendado negaria a busca da ciência… por produtos cada vez mais seguros”.

A Dra. Nora Volkow diretora do Instituto Nacional do Abuso de Drogas (NIDA) dos Estados Unidos declarou em Março deste ano a uma revista brasileira “Não existe droga segura”, o que é uma verdade, também para a maconha. Vem daí a necessidade de um médico estudar a relação risco/benefício de qualquer droga que prescreve. Por exemplo, segundo dados do FDA de 1997 a 2005 houve 196 relatos de suspeita de morte coincidente com o uso de antieméticos (uma indicação também aprovada para a maconha). Não houve nenhuma suspeita de morte pelo uso da maconha. Por outro lado a Dra. Valéria declarou também que os canabinóides têm algumas ações terapêuticas úteis como efeito antiemético, aumento do apetite em casos de câncer e AIDS, benefícios analgésicos e em glaucoma.

• A alegação de que “não precisamos que o Governo Federal crie, por meio de Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), uma agência para …..a maconhabras” Primeiramente é preciso esclarecer que a SENAD é uma sigla para Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, conforme já aprovado há mais de três anos; portanto, os autores dos artigos na Folha de São Paulo não leram a respeito. É preciso ainda esclarecer que a SENAD não patrocinou e não auxiliou com qualquer quantia a realização do Simpósio. Por outro lado, por se ausentarem de quase todo o simpósio, não sabem que o solicitado na carta foi a “oficialização” à ONU do nome de Agência Nacional da Cannabis Medicinal; conforme enfatizado pelo INCB, órgão da ONU, em 2009. De fato, as leis necessárias para esta criação já foram aprovadas pela Lei 11.343 de 23/08/2006 e seu Decreto regulamentador nº 5.912 de 27/09/2006.

• “A maconha causa dependência” segundo os autores das frases. Ninguém nega esta propriedade indesejável da maconha, como também ocorre com muitos outros medicamentos. Mais uma vez cabe a análise da relação risco/benefício ao se utilizar os derivados da maconha ou de qualquer outra droga. Teriam os autores da frase opinião semelhante a muitos outros medicamentos que são fortes indutores de dependência como morfina e vários outros opiáceos responsáveis por milhares e milhares de casos desta reação adversa? Pretenderiam eles solicitar proibição de uso clínico destas drogas?

• “Até hoje há pouco estudos controlados, com amostras pequenas” e “o uso de terapêuticos da maconha não tem comprovação científica…” Muita literatura médica precisaria ser lida para permitir afirmativa tão categórica. Existem já dezenas de livros e centenas de artigos científicos publicados sobre as propriedades medicinais da maconha. Por exemplo, em duas extensas revisões recentes (Journal of Ethnopharmacology 105, 1-25, 2006; Cannabinoids 5 (special issue), 1-21, 2010) mais de uma centena de trabalhos científicos são analisados, a maioria deles demonstrando os efeitos que são negados pelos autores das frases. Estas revisões concluem que: “cannabinóides apresentam um interessante potencial terapêutico, principalmente como analgésicos em dor neuropática, estimulante do apetite em moléstias debilitantes (câncer e AIDS) bem como no tratamento da esclerose múltipla”

. Há ainda a salientar que várias sociedades científicas americanas já se posicionaram favoravelmente ao uso médico da maconha tais como: Associação Psiquiátrica Americana, Sociedade de Leucemia e Linfoma dos EUA, American College of Physicians e Associação Médica Americana. Isto sem contar que os Ministérios da Saúde do Canadá, Estados Unidos, Espanha, Dinamarca e Reino Unido já aprovaram o uso medicinal.

• Segundo os autores das frases os proponentes da Cannabis Medicinal usam a “estratégia de confundir o debate” e “…a confusão fica por conta de a ativistas comprometidos com a causa da legalização”

Ora, esta argumentação poderia bem ser utilizada no sentido oposto, como pareceria ser o caso. Sendo totalmente contrário a qualquer uso da maconha investem contra o seu uso medicinal, parecendo tentar convencer o público de que aprovação do uso médico e legalização seriam a mesma coisa, o que esta longe de ser verdadeiro. É bem possível que um forte sentimento ideológico possa estar por trás da confusão armada, o que seria lamentável. Para continuar uma discussão científica minimamente aceitável dever-se-ia por iniciar a leitura de dois artigos publicados neste ano de 2010, em duas das mais serias e respeitáveis revistas científicas do mundo: “Maconha médica e a Lei” (New England Journal of Medicine 362, 1453-1457, 2010) e “Como a Ideologia modela a evidencia e a política: o que conhecemos sobre o uso da maconha e o que deveríamos fazer?” (Addiction 105, 1326-1330, 2010).

Realmente, sem ler não é possível continuar este debate! Sugiro que todos façam “o dever de casa”, atualizando o seu conhecimento com as leituras de mais artigos científicos recentes.

(*)

E. A. Carlini

• Professor-Titular de Psicofarmacologia – UNIFESP

• Diretor do CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas

• Membro Titular do CONED (Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas)

• Membro do Comitê de Peritos sobre Álcool e Drogas OMS (7º mandato)

• Ex-membro do Conselho Internacional de Controle de Narcóticos (INCB – ONU) (2002-2007)

Meu comentário: situação semelhante à da ibogaína, onde se observa que os maiores críticos são aqueles que menos conhecem a respeito.

09 agosto, 2010



"Parceria para uma América livre de drogas"
-Nós não queremos que as crianças abusem de drogas
-Exceto as nossas (drogas)

Fonte: www.naturalnews.com

23 junho, 2010

Vício em drogas é doença e deve ser tratado com remédios, diz especialista


Nora Volkow é chefe do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas dos EUA.
Para ela, dependência precisa ser vista como problema crônico do cérebro.

Uma das maiores especialistas em drogas da atualidade esteve em São Paulo na última quarta-feira (24/03/10) e foi enfática ao caracterizar a dependência de substâncias químicas como a cocaína, o cigarro e a bebida: “A dependência é uma doença crônica no cérebro humano.”

Nora Volkow, diretora do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas (Nida) dos EUA, afirma que o vício em substâncias químicas afeta uma região do cérebro chamada córtex orbitofrontal, responsável pela tomada de decisões. “Essas pessoas perdem o livre arbítrio para dizer ‘não’”.

A médica, que estuda nos EUA como a dependência química pode alterar as funções cerebrais, deu uma palestra para cerca de 400 profissionais da saúde na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).




Segundo Nora, há muitas pessoas que julgam os dependentes como pessoas moralmente fracas, e ignoram que elas perderam o controle de suas ações. “Se você está dirigindo um veículo e tenta não atropelar um gato, o freio pode falhar e você não consegue fazer o que quer. É difícil fazer as pessoas acreditarem algo semelhante ocorre com as drogas”, afirma. “Mesmo quando a pessoa tem a melhor das intenções de não tomar a droga, ela perde a cabeça, o ‘freio’ do cérebro não funciona.”

Genética e stress
De acordo com a especialista, os jovens correm um risco maior de se tornar dependentes químicos. “Na infância e na adolescência, o cérebro é muito plástico [fácil de ser ‘modelado’]. isso é bom para o aprendizado, mas ao mesmo tempo ajuda a pessoa a se tornar dependente de drogas.”

Nora aponta que correm mais riscos aqueles que têm predisposição genética para a dependência ou os que vivem sob condições estressantes, como os que não se dão bem com os pais ou com os amigos. Por isso, segundo ela, um dos métodos que funcionam melhor para a prevenção são os programas que estimulam a auto-estima dos adolescentes, como a prática de esportes.

Medicamentos
A diretora do Nida, que é psiquiatra, defende também maior uso de medicamentos para o controle da dependência. Segundo ela, os remédios conseguem ajudar as pessoas a romper o ciclo vicioso que as leva usarem drogas compulsivamente.

“Assim como a hipertensão, a dependência de drogas é crônica e exige cuidado contínuo. Entre os tratamentos que funcionaram bem estão os que foram levados a cabo por cinco anos, e não um ou três meses”, diz.

O psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp concorda com a médica. “Se você parte do princípio que o cérebro está com problemas, uma abordagem apenas psicológica pode deixar a desejar.”

Legalização
Segundo Nora, um dos fatores que leva ao vício é o acesso livre às drogas, e por isso ela é contra a legalização. “Hoje os maiores vícios que temos são álcool e nicotina, não porque são as drogas que causam mais dependência, mas porque são as mais disponíveis. Não é uma questão ideológica. É uma questão epidemiológica.”

Ao mesmo tempo, a psiquiatra diz ser contra encarar o dependente como um criminoso. Ela defende que o estado ofereça tratamento e ao mesmo tempo penalize quem não se submete a ele. “Nos Estados Unidos, médicos dependentes que não seguem o tratamento perdem sua licença para trabalhar”, conta.

Fonte : G1 25/03/10

Meu comentário: apesar desta notícia ser de 3 meses atrás (Março), decidi publicá-la pela ainda atualidade do assunto e pelas valiosas informações que o texto contem.

22 junho, 2010

Consumo de Opiáceos dobrou em 5 anos no Afeganistão, diz ONU

Fonte : Gazeta do Povo

Mães usam fumaça de ópio para acalmar bebês. Afeganistão, Rússia e Irã são os maiores consumidores de opiáceos do mundo

Viciados em drogas com apenas um mês de idade. Mães que acalmam suas crianças soprando fumaça de ópio em seus rostos. Comunidades inteiras dependentes de heroína e com poucas oportunidades de tratamento. O uso de opiáceos como heroína e ópio dobrou no Afeganistão nos últimos cinco anos, informou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira, enquanto centenas de milhares de afegãos usam as drogas para escapar da miséria, da pobreza e da guerra.

Quase 3% dos afegãos com idades entre 15 e 64 anos são viciados em opiáceos, segundo um estudo do escritório da ONU para drogas e crime. A ONU define viciados como usuários regulares.

Isso coloca o Afeganistão, além da Rússia e do Irã, como os três países onde mais se usa opiáceos em todo o mundo, segundo Sarah Waller, funcionária do Escritório para Drogas da ONU em Cabul. Segundo ela, uma pesquisa de 2005 descobriu que cerca de 1,4% dos adultos afegãos eram viciados em opiáceos.

Os dados sugerem que apesar de os Estados Unidos e seus aliados colocarem bilhões de dólares em programas que tentam retirar a economia afegã da ligação com as drogas, ópio e heroína tornaram-se mais presentes na vida dos afegãos comuns. Isso cria uma outra barreira para os esforços internacionais para o combate do comércio de drogas, que ajuda a financiar a insurgência taleban.

"A face humana do problema de drogas no Afeganistão não é vista apenas nas ruas de Moscou, Londres ou Paris. Está nos olhos de seus próprios cidadãos, dependentes principalmente de uma dose diária de ópio e heroína, mas também de maconha, analgésicos e tranquilizantes", disse Antonio Maria Costa, diretor executivo do Escritório da ONU para Drogas e Crime.

O Afeganistão fornece 90% do ópio consumido no mundo, o principal ingrediente da heroína, e é o líder mundial na produção da haxixe. A produção das plantas que dão origem a essas drogas ajuda a financiar os insurgentes e encoraja a corrupção, particularmente no sul, onde o Taleban controla o cultivo de papoula e rotas de contrabando.

O governo afegão e seus apoiadores internacionais têm feito enormes esforços nos últimos anos para desencorajar os agricultores a produzirem papoula e o cultivo caiu 22% no ano passado. Parte da queda deve ter ocorrido por causa dos baixos preços da droga no mercado, mas o governo disse que isso também mostra que a guerra afegã contra as drogas está tendo sucesso. Vinte das 34 província do país foram declaradas livres do cultivo de papoula em 2009.

Ainda assim, cerca de 1 milhão de afegãos - 8% do grupo entre 15 e 64 anos - são usuários regulares de drogas - viciados em opiáceos, bem como em maconha e em tranquilizantes, segundo o relatório, que foi baseado em pesquisas com cerca de 2.500 usuários de drogas, líderes comunitários, professores e médicos.

Em termos de comparação, 0,7% da população no vizinho Paquistão e 0,58% dos norte-americanos com idades entre 15 e 64 anos são usuários regulares de opiáceos, segundo os dados mais recentes da ONU.

Instalações para tratamento são raras no Afeganistão. Apenas 10% dos usuários pesquisados haviam recebido algum tipo de tratamento, embora 90% tenham afirmado que queriam se tratar, segundo a pesquisa.

Em um desses locais, o Centro de Tratamento para Mulheres Sanja Amaj, em Cabul, algumas dezenas de mulheres e crianças recebem cuidados diários. As mulheres esperam em macas para ver os médicos enquanto as crianças passam o dia pintando, brincando e recebendo educação em uma creche.

Quase todas as crianças são viciadas, disse Abdul Bair Ibrahimi, o coordenador de cuidados infantis de Sanja Amaj.

Há uma série de crianças viciadas de 4 e 5 anos. A mais jovem que eles viram tinha um mês de idade.

A Associated Press esteve no centro em fevereiro e conversou com uma mulher de meia-idade que disse ter começado a usar ópio durante o regime do Taleban, que foi encerrado com a invasão liderada pelos Estados Unidos em 2001.

"Eu perdi meus irmãos durante os confrontos e a vida era insuportável. Meu cunhado usava ópio. Ele me viu chorar e sugeriu que eu experimentasse", disse Shirin Gul. Então, dois anos atrás, um sobrinho viciado em heroína veio morar na casa e ela passou a usar a droga, mais pesada. Gul está no centro de tratamento pela segunda vez, pois teve uma recaída.

Sua filha de 15 anos, Gul Paris, também estava sendo tratada por vício em heroína. Ela disse que começou roubando pequenas porções de sua mãe e de seu irmão. "Eu não sabia se era ruim ou não para mim", disse a menina, sentada com os pés descalços numa cama, usando um vestido azul e um lenço de cabeça lilás. Ela tivera uma recaída dois meses antes, depois que seu irmão voltou a usar a droga.

Segundo o relatório da ONU, o número de usuários regulares de ópio subiu 53%, de 150 mil em 2005 para 230 mil em 2009, enquanto os usuários regulares de heroína mais do que dobraram, de 50 mil para 120 mil. A maior parte do aumento aconteceu no sul do país, onde a maior parte da papoula é cultivada.

Entre 12% e 41% dos recrutas da polícia afegã apresentam resultados positivos para o uso de drogas em centros de treinamento regionais, segundo um relatório do governo dos Estados Unidos divulgado em março. Soldados norte-americanos reclamam que seus colegas afegãos estão algumas vezes "alterados" durante operações militares.

"É uma tragédia nacional", disse Ibrahim Azhaar, vice-ministro afegão de combate aos narcóticos.

O aumento do uso de drogas tem efeitos desestabilizadores em comunidades, segundo líderes comunitários entrevistados para o estudo. Eles dizem que os usuários de droga aumentam a violência, insegurança e roubos em suas áreas. "Tem um efeito devastador no desenvolvimento social do país. Tem um efeito devastador em pessoas que são afetadas pelo vício e tem um efeito maior, multiplicado, sobre o restante do Afeganistão", disse Robert Watkins, o enviado da ONU ao Afeganistão.

Não está claro se o preço internacional do ópio nos últimos anos fez com que os traficantes impulsionassem o uso do produto dentro do país, disse o czar norte-americano de combate às drogas Gil Kerlikowske, que visitou o centro Sanja Amaj em fevereiro.

"Claramente, há uma população viciada em expansão neste país. Não importa para um traficante que as pessoas que estão se viciando sejam pobres", disse Kerlikowske. "Se elas se tornarem viciadas, encontrarão formas de pagar pela droga".

21 junho, 2010

Estudo diz que 19% dos brasileiros exageram na bebida

Fonte : AE - Agência Estado

A proporção de pessoas que declaram consumo abusivo de álcool cresceu de 16,2% da população, em 2006, para 18,9%, em 2009, de acordo com pesquisa divulgada hoje pelo Ministério da Saúde. Os dados fazem parte da pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), que entrevistou 54 mil adultos.

O ministério considera consumo excessivo de bebida alcoólica a ingestão de cinco ou mais doses na mesma ocasião em um mês, no caso dos homens, e quatro ou mais doses, no caso das mulheres.

O levantamento mostra também que os homens são mais descontrolados na hora de beber. Em 2009, 28,8% deles beberam demais, contra 10,4% das mulheres. "É um nível de consumo elevado e preocupante, pois é fator de risco para acidentes de trânsito, violência e doenças", afirmou Deborah Malta, coordenadora de Vigilância de Agravos e Doenças Não Transmissíveis do Ministério da Saúde. Ela ressaltou que, considerando apenas a população masculina, o índice do Brasil (28,8%) é superior ao do Chile (17%), Estados Unidos (15,7%) e Argentina (14%).

De acordo com a pesquisa, o consumo abusivo de bebida alcoólica é mais frequente entre os jovens de 18 a 24 anos (23%). À medida que a idade avança, o número de exageros diminui. De 45 a 54 anos e de 55 a 64 anos, 17% e 10,5% da população, respectivamente, relatam que beberam em excesso.

São Paulo está entre as cidades onde o índice de consumo abusivo é menor (14,4%), precedida por Curitiba (13,9%) e Rio Branco (14,1%). O maior índice é de Salvador, com 25,6%, seguido por Boa Vista (23,5%) e Macapá (23,9%).


20 junho, 2010

Droga não é Demônio

por Elaine Brum

É possível que nunca tenha se falado tanto em drogas como hoje, pelo menos como caso de polícia ou de saúde pública. Nos anos 60, quando as drogas faziam parte do movimento de contracultura, o olhar sobre elas e a função que desempenhavam era outro. E os “malucos beleza” eram vistos de forma muito diversa dos consumidores de crack de agora. A própria diferença de linguagem é reveladora, já que antes se “experimentava” drogas, com a ideia de ampliação de consciência – e hoje se “consome”, como tudo. Um verbo expressa uma vivência – outro o uso. O que mudou, para que o crack tenha se tornado tema de campanha eleitoral, assunto para candidatos à presidência do país?

Ao acompanhar o debate travado em várias instâncias, me parece empobrecedor que um tema tão amplo e cheio de nuances seja reduzido a apenas dois discursos, duas maneiras de olhar: ou é caso de polícia/segurança ou é caso de saúde pública – ou de ambos. Será que estas duas abordagens – repressão e cura – dão conta da complexidade da questão? Desconfio que não.

Por outro lado, me parece bastante curioso que o debate sobre as drogas ilegais atinja esse nível de decibéis justamente numa época em que há um consumo massivo de drogas lícitas, na forma de antidepressivos, ansiolíticos e hipnóticos, receitadas por médicos das mais variadas especialidades. Drogas para ser feliz, para ficar calmo, para dormir. Sem contar as drogas para perder o apetite e aumentar o desejo sexual.

Por que algumas se tornam um problema e outras são vendidas como solução? Quem determina o que o indivíduo pode consumir? E com quais argumentos? E por que aquela que possivelmente seja a droga que causa mais estrago na nossa sociedade – o álcool – é abordada com muito menos estridência?

Ao acompanhar o debate, me chama a atenção o fato de a droga ser encarada como uma espécie de alienígena, desenraizada da sociedade em que é usada e produz sentidos. É como se ela fosse um demônio ou um vírus que entra no corpo à revelia de todo o contexto – desligada de tudo e de todos. E que bastaria ou exorcizá-la, do ponto de vista religioso, ou extirpá-la, no campo da medicina, para que o problema acabasse. Ou ainda reprimir, na visão policial.

Parece que não é tão simples assim – ou o problema já seria menor. Se os mais diversos tipos de drogas sempre foram usados por todas as sociedades, em diferentes momentos históricos, por que a nossa não consegue lidar com elas? Será que não valeria a pena, além de reprimir e tentar “curar”, pensar um pouco mais nos porquês?

exatamente por ser uma questão que produz muito sofrimento é que acho importante refletirmos sobre ela com mais amplidão – e alargar nosso campo de visão. Em busca de respostas – não definitivas, mas possibilidades de respostas –, procurei o psicanalista Eduardo Mendes Ribeiro. Ele é membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Appoa), mestre em Filosofia pela PUC/RS, doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e consultor do Ministério da Saúde na Política de Humanização do SUS. Estuda o tema das drogas desde os anos 90 e tem vários artigos publicados sobre o assunto.

Nesta conversa, ele nos ajuda a pensar sobre uma questão tão crucial – para além dos estereótipos.


Eu – Hoje, as drogas ou são caso de polícia ou de cura. É como se toda a complexidade da questão coubesse nesses dois modos de ver e não existisse outra possibilidade de abordagem. Por quê?
Eduardo Mendes Ribeiro – Por ao menos duas razões: a primeira é a tendência à simplificação do problema, o que, em tese, ajudaria a entendê-lo e enfrentá-lo. Por essa via, elege-se a droga como a causa do mal e os traficantes como os agentes promotores deste mal. Ora, sendo assim, é fácil concluir que o que devemos fazer é, por um lado, tentar evitar que o mal nos atinja: repressão. E, por outro, se fracassarmos no primeiro intento, temos de extrair o mal de nossos corpos: desintoxicação e abstinência. Essa visão também nos poupa dos complexos e incômodos questionamentos acerca das razões pelas quais tantas pessoas decidem se drogar.

Eu – E quais seriam esses questionamentos tão incômodos? Afinal, por que tantos se drogam, legal e ilegalmente?
Ribeiro - São questionamentos relacionados aos conflitos psíquicos que cada um de nós vivencia: inibições, frustrações, angústias, etc. É muito mais incômodo enfrentar estes fantasmas do que usar uma droga que pode fazer nosso humor melhorar quase imediatamente. O problema é que os fantasmas continuam lá – e nem sempre em silêncio.

Eu – Em sua opinião, quem é mais drogado? O consumidor de crack do centro de São Paulo ou uma faixa significativa da população mais idosa – assim como muitos jovens – que consome tranquilizantes todo dia?
Ribeiro - Atualmente, há uma tendência de se avaliar o grau de gravidade de uma dependência não mais através de escalas quantitativas de intensidade e frequência, mas a partir dos efeitos que essa prática produz na vida de cada sujeito. Nesse sentido, é provável que aquelas pessoas que passam o dia fumando pedra vivenciem um empobrecimento maior de suas interações sociais, além de se manterem em situações de maior vulnerabilidade. Mas, por outro lado, não há razão para acreditarmos que aqueles que vivem uma vida entorpecida estejam em uma situação muito melhor.

Eu – Mas por que o crack incomoda e a população que vive uma vida entorpecida não?
Ribeiro - O usuário de crack, ao menos o usuário estereotipado, com maior visibilidade, é alguém que expõe tudo o que nossa sociedade quer evitar: descontrole, desamparo, vulnerabilidade, improdutividade, laços sociais frágeis, ausência de projeto de futuro, etc. O sujeito entorpecido é muito mais identificado com as crenças e valores que nos orientam: ele é visto como um doente em tratamento, ou seja, ele tem um problema que nossa sociedade, através de seus saberes e especialistas, está tratando. Está tudo em seu lugar...

Eu – Por que o crack virou, hoje, um tema da política, como podemos ver nesse início de campanha eleitoral entre os candidatos a presidente?
Ribeiro - Talvez porque o crescimento rápido do número de dependentes e sua visibilidade pública façam com que se concentrem nesse fenômeno os temores relativos à fragilização de nosso laço social. Os crackeiros espelham, paradoxal e simultaneamente, nossos maiores sonhos e pesadelos: ansiamos por prazer e descompromisso, mas sabemos que precisamos de um conjunto de relações sociais que nos sustentem enquanto sujeitos. Infelizmente, a maior parte dos discursos político-eleitorais é dirigida à promessa de medidas voltadas ao fortalecimento do aparato repressivo e à criação de mais vagas para internação/desintoxicação de dependentes, que é o que responde aos anseios imediatos dos eleitores.

Eu – E como ampliar a abordagem dessa questão, para além da repressão e da cura?
Ribeiro - Nenhum país do mundo resolveu o problema da dependência de drogas por uma razão muito simples: não se trata de um problema de drogas, mas, sim, dos efeitos do tipo de laço social que construímos. Acho que o que podemos fazer é aumentar o repertório de alternativas através das quais as pessoas possam produzir para si um lugar social. Isto pode se dar de várias formas: através da educação, do esporte, da arte ou mesmo da religião. Mas, é claro que precisamos também de políticas de saúde para acolher e tratar aqueles que não conseguem mais controlar seu uso de drogas. Nessa direção, é preciso avançar na implementação do que já está previsto na Reforma Psiquiátrica e na atual Política de Saúde Mental do Ministério da Saúde. Quando recebo um usuário de drogas em busca de tratamento, costumo propor que falemos de qualquer coisa, menos de drogas. Acho que é disso que eles precisam: encontrar outras coisas capazes de lhes interessar. De drogas eles já falam bastante.

Eu – Praticamente todas as sociedades usaram drogas, mas parece que só na nossa elas se tornaram um problema. Pelo menos um problema nessas proporções. Por que nossa sociedade, diferentemente de outras, não sabe como lidar com as drogas?
Ribeiro - Na maior parte das sociedades conhecidas, as drogas eram consumidas com alguma forma de controle social. Isto não significa que havia mecanismos repressivos para coibir abusos. Ao contrário, significa que havia um conjunto de entendimentos compartilhados que orientava o uso, em determinadas situações e com determinadas finalidades. Isso poderia se dar em rituais de cura, de mediação com o sagrado ou mesmo com finalidades orgiásticas, para aliviar tensões e produzir prazer. O conhecimento que temos acerca do uso de drogas em outras sociedades nos mostra que, se ele ocorresse com alguma forma de controle social, não trazia problemas pessoais ou para a comunidade. Provocar alterações dos estados de consciência representava algo de extraordinário que acontecia em situações muito específicas. Em nossa sociedade, este tipo de uso ocorre, por exemplo, no Carnaval, quando muitas pessoas se autorizam a fazer coisas que não fazem em seu cotidiano, o que inclui um consumo maior de drogas. E depois voltam à rotina.

Eu – E o que aconteceu na sociedade ocidental moderna para que a droga passasse a se integrar ao cotidiano e ser usada para o gozo individual?
Ribeiro - O desenvolvimento do liberalismo político e econômico trouxe consigo a constituição de um ethos fortemente individualista. A modernidade rompeu com o passado, afirmando o poder de autodeterminação dos indivíduos. No início, ainda se manteve orientada por um ideal coletivo, representado pelo progresso da ciência. Acreditava-se então que a ciência seria capaz de nos revelar, cada vez mais, o que era real e verdadeiro. Entretanto, no decorrer dos últimos séculos, esse ideal não cumpriu com suas promessas, como tampouco o fizeram outros ideais sociais, como o socialista e aqueles propostos pelos movimentos contraculturais. É nesse contexto que os laços sociais construídos a partir da tradição – passado – ou de projetos coletivos – futuro – se encontram desgastados, produzindo um achatamento do tempo e a percepção de que o que há para ser vivido tem que ocorrer agora. Os interesses pessoais e a pressa são elementos presentes em nosso cotidiano. E é nessa realidade que proliferam diferentes modalidades de uso de drogas: ora para aliviar tensões, ora para potencializar desempenhos.

Eu – Hoje há uma satanização das drogas, como se elas possuíssem a pessoa à revelia. Como se o processo de se drogar fosse externo ao indivíduo – e não algo movido por questões e necessidades internas, que começou pela escolha daquela pessoa de usar determinada droga, ainda que depois possa ter perdido o controle. Por quê?
Ribeiro - Diante de certos efeitos indesejáveis da ordem social moderna, tendemos a produzir práticas e representações originadas nos tempos pré-modernos. Explicando melhor: mesmo considerando que nossa sociedade se constituiu em torno de uma ética da responsabilidade – temos autonomia para pensar e agir, mas precisamos responder por nossos atos –, a consagração da visão simplista que sataniza as drogas representa um retorno às velhas crenças animistas que atribuem poderes e intenções a substâncias inanimadas. Algumas interpretações antropológicas evolucionistas defendiam que, no campo religioso, haveria um processo de “evolução” das sociedades. Ou seja: em seu início atribuíam poderes sobrenaturais a seres ou forças da natureza, depois teriam vindo as sociedades politeístas e, finalmente, as monoteístas. Estas teses evolucionistas encontram-se desacreditadas no campo antropológico, mas é fato que muitas sociedades “simples” acreditavam no poder sobrenatural de certas substâncias naturais. É um pouco como alguns setores da sociedade enxergam as drogas hoje.

Eu – Em um de seus artigos, você diz que, no início, as igrejas viam as drogas, todas elas, como coisa do demônio. Já a ciência se contrapunha a esta visão, apostando na autonomia das consciências. Hoje, ambas parecem demonizar as drogas. O que isso significa?
Ribeiro - Na Idade Média, a Igreja condenava o uso de drogas por razões teológicas: “só Deus tem o poder de curar”. Mas também por disputas de mercado envolvendo fé e poder, pois não lhe interessava permitir o crescimento da influência de feiticeiras e curandeiros. Hoje, esse discurso mudou e a condenação que grande parte das igrejas faz ao uso de drogas é fundamentada em sua suposta associação a práticas libertinas, hedonistas e promíscuas. Assim como também é uma eficaz estratégia de marketing para algumas denominações. Basta observar que muitos dos pastores se apresentam como ex-usuários de drogas que, com a ajuda de Deus – e da igreja, através dos dízimos –, conseguiram se libertar. Esse trânsito, das drogas para a religião, é muito frequente.

Eu – E a ciência?
Ribeiro - O deslocamento operado no campo científico é mais sutil. Partiu da afirmação do direito de qualquer um poder usar a droga que quiser e de uma posição liberal, em que o direito de experimentação fazia parte do processo em que se dava o progresso da ciência. Vale a pena lembrar que até o início do século passado todas as drogas conhecidas eram vendidas livremente em farmácias. Partiu-se disso para uma pretensão de controle e prescrição de uso. Ou seja, as drogas são instrumentos importantes no combate a doenças e na produção de bem-estar, mas seu uso deve ser orientado pelo saber científico, o quer exclui, evidentemente, as modalidades de uso espontâneas.

Eu – A abordagem atual das drogas parece intimamente ligada à questão do poder e do controle. Como você vê essa relação?
Ribeiro - Atualmente, a forma hegemônica de abordar a questão é resultante de um conjunto de fatores que pouco ou nada tem a ver com os que determinam o consumo. As estratégias de controle e repressão social defendidas por grupos orientados por ideais religiosos e/ou totalitários é um deles. Mesmo considerando que vivemos em uma sociedade fundada a partir de uma ética da responsabilidade – somos responsáveis pelos nossos atos e respondemos por eles – ou justamente por isso, convivemos com grupos que temem os efeitos dessa liberdade. Em vez de uma multiplicidade de formas de pensar e agir, eles prefeririam que todos agissem conforme seus princípios e crenças. Essa posição não se manifesta apenas no campo estritamente religioso, podendo estar presente em diferentes segmentos sociais. Nesse sentido, combate-se o uso de drogas porque ele seria potencialmente subversivo, pouco controlável. Outro fator são os interesses políticos e econômicos de laboratórios e setores da corporação médica, que reivindicam a exclusividade do direito de manipular corpos e mentes. Com o passar do tempo, no contexto da modernidade, o uso de drogas passou a ser cada vez menos controlado socialmente, seja por rituais tradicionais e/ou religiosos, seja por saberes autorizados, como médicos, curandeiros, etc. Este uso “individual” e espontâneo foge ao controle, não podendo ser utilizado como instrumento de poder político ou econômico. Daí a insistência em manter a produção e autorização de consumo de drogas sob o controle de laboratórios e médicos, respectivamente.

Eu – Você não acredita que a repressão possa causar a redução do consumo?
Ribeiro - Os conflitos oriundos da marginalização do comércio e consumo de algumas drogas acabam por produzir um senso comum que evita a complexidade da questão e produz a estigmatização dos usuários e a defesa de medidas paliativas – ainda que necessárias –, como a repressão do tráfico e o tratamento de dependentes. Basta lembrar o episódio da Lei Seca, nos Estados Unidos, para concluir que as estratégias repressivas pouco ou nada contribuíram para a diminuição do consumo. Pelo contrário, seu efeito foi de outra ordem: expansão da corrupção policial, aumento do número de problemas de saúde em função do consumo de drogas de má qualidade, criação de um mercado marginal e violento, etc. Essa avaliação foi feita pelo próprio governo dos Estados Unidos, por ocasião da promulgação do ato que aboliu a Lei Seca. Hoje, há um entendimento largamente difundido de que as drogas são a encarnação do mal em nossa sociedade. Trata-se de uma poderosa aliança entre os discursos religioso, científico e o da segurança pública. O mais produtivo seria abordar frontalmente o problema e reconhecer que o uso de drogas em nossa sociedade faz parte de nossa cultura, como fez de tantas outras. E que, em vez de lançar cruzadas antidrogas, hipócritas e inúteis, deveríamos discutir as diferentes modalidades de usos, lícitas e ilícitas, e encontrar formas de minimizar seus efeitos danosos, individuais e sociais. Acredito que essa realidade se constitui no campo das disputas simbólicas, onde se definem valores e sentidos.

Eu – Como assim?
Ribeiro - O que faz com que o uso de drogas assuma determinado valor e determinada função para algumas pessoas? Como intervir nessa realidade? É evidente que não bastam campanhas publicitárias afirmando que “fumar é brega” ou que o “crack mata”. Não são mais os saberes tradicionais, passados de pai para filho, que orientam nossa compreensão do mundo. Vivemos em uma sociedade fragmentada e individualista, mas que se articula através de uma complexa rede de relacionamentos, presenciais e virtuais. É nesse universo que os sentidos vão se definindo e se modificando. Sendo assim, é possível afirmar que, quanto maior for a troca de idéias e experiências, menor será a possibilidade de um ou mais discursos assumirem uma posição de domínio. Acredito que ganharíamos muito se “gastássemos” essa discussão sobre as drogas, diminuindo sua importância, fazendo com que elas deixem de ser vistas como solução de todos os problemas ou como causadora de todos os males.

Eu – Vivemos numa sociedade onde se consome muitas drogas legais, parte delas receitada por médicos das mais variadas especialidades. A mesma sociedade que parece ficar um pouco histérica com o crack, por exemplo, não parece ver nenhum problema na massificação do uso de antidepressivos e ansiolíticos. Por que algumas drogas podem ser usadas e outras não? Umas são desejáveis e “terapêuticas” e outras são demonizadas? Qual é a diferença, afinal? Se tomamos drogas para dormir, para ficar feliz, para ficar calmo, para não sentir fome, para ter tesão, por que é ruim cheirar coca, fumar maconha e usar crack? Não estou dizendo que é bom, apenas questionando a lógica de que uma pode e a outra não, uma está incluída e a outra é marginal...
Ribeiro - Do ponto de vista do funcionamento subjetivo, não há nenhuma diferença entre cheirar cocaína, fumar maconha, usar crack ou beber cachaça, consumir antidepressivos, anfetaminas, ansiolíticos. É a mesma lógica: se faz uso de uma substância para produzir uma desejada alteração do estado de consciência e humor. É importante que se diga que as razões pelas quais algumas drogas são proibidas e outras não são proibidas não tem qualquer fundamento epidemiológico, médico, psicológico ou antropológico. Certas drogas são proibidas não por serem mais “fortes” ou “pesadas”, nem por terem maior potencial de criar dependência, ou por causarem mais problemas orgânicos. As origens da proibição podem ser buscadas em um conjunto de preconceitos morais e sectários do início do século XX. Nos Estados Unidos, por exemplo, a proibição de algumas drogas esteve ligada à desconfiança que os puritanos manifestavam com relação à massa de imigrantes que chegava às grandes cidades americanas no início do século. Assim, diferentes drogas foram associadas a diferentes etnias: a condenação do uso de ópio resultou das acusações de corrupção infantil feitas aos chineses; a cocaína era associada à permissividade sexual atribuída aos negros; a maconha à “invasão” dos mexicanos; e o álcool às “imoralidades” de judeus e irlandeses. É evidente que, posteriormente, os interesses econômicos – indústria de bebidas alcoólicas, de cigarros e laboratórios – passaram a atuar fortemente com vistas à manutenção de sua reserva de mercado. É sabido que hoje o maior número de dependentes de drogas é alcoolista. E o álcool é uma droga legal.

Eu – Por que está tudo certo se as drogas são receitadas por médicos, mas tudo errado se não? O problema estaria no controle, as que são consideradas ilegais seriam aquelas que não podem ser controladas por ninguém?
Ribeiro - Os remédios vendidos apenas sob prescrição médica não são as únicas drogas legais, nem as mais usadas. As bebidas alcoólicas não estão sob controle e podem produzir efeitos da mesma intensidade que os provocados por outras drogas lícitas e ilícitas. Portanto, o “controle” se refere muito mais a questões relativas à produção, circulação e, evidentemente, acumulação de lucros. Neste sentido, as drogas ilegais estão “fora do controle”.

Eu – Qual é a aposta que se faz na droga? Como a droga se aproxima da sociedade de consumo na medida em que promete – e por um tempo realiza – a possibilidade de ser feliz ou do gozo pleno, tão caro à nossa época?
Ribeiro - Se considerarmos que o capitalismo produziu algo que seria da ordem de uma perversão no campo das relações sociais, na medida em que promoveu o que Marx chamou de “fetichismo das mercadorias”, poderíamos pensar que o aumento significativo de casos de dependência de drogas seria efeito de uma nova perversão, que se constitui como desdobramento da primeira. Ou seja: a lógica da sociedade de consumo se encontra orientada para um progressivo aumento na produção e consumo de bens, que, neste contexto, operam como mediadores das relações sociais, índices de prestígio e elementos produtores de identidades sociais. Entretanto, quando certas modalidades de uso de drogas fazem com que elas se tornem o objeto único de desejo, subverte-se a lógica capitalista. Paradoxalmente, a crença no poder dos objetos pode se constituir numa ameaça a um sistema alicerçado em torno do consumo. Na lógica capitalista, o prazer ou a felicidade que supostamente poderia ser alcançado através da posse de um objeto deve ser sempre parcial e efêmero, fazendo com que o desejo deslize para outros objetos, retroalimentando o sistema, que se constitui numa forma de laço social. O prazer derivado do uso de drogas, mesmo podendo ser intenso, também é parcial e efêmero. Mas, exatamente por sua intensidade e exclusividade, tende a deslocar o sujeito do contexto socialmente regulado de produção e consumo. Quando o sujeito passa a desejar um único objeto, ele deixa de consumir todos os demais. Além disso, dependentes de drogas também não costumam se manter atuantes em atividades laborais, o que faz com que ganhem pouco e consumam menos.

Eu – Nesse sentido, a droga é antissocial, como nós mesmos o somos, preocupados apenas com a satisfação dos nossos desejos, independentemente do desejo do outro – e não de um projeto coletivo, mais amplo, que inclui o outro? A droga, portanto, se encaixa perfeitamente no modelo individualista, que não está nem aí para o que não é a sua vida ou a vida de uns poucos ao seu redor?
Ribeiro - Exatamente. Mas é importante que fique claro que não se trata de um entendimento fundado em algum tipo de imperativo moral de fraternidade. O risco do uso de drogas em uma sociedade individualista se dá em função de um equívoco, socialmente produzido, de pensar que somos – ou deveríamos ser – radicalmente livres. Segundo esse ideal, não deveríamos depender de ninguém. Por exemplo: deveríamos desfazer qualquer casamento, aliança ou sociedade no momento em que não mais nos conviesse. O problema é que só nos constituímos e nos sustentamos enquanto sujeitos a partir das relações que mantemos com outros sujeitos. Quanto mais frágeis forem estas relações, mais instáveis nos tornamos. E seremos mais dependentes de outras estratégias para nos prover de alguma consistência identitária. Nesse sentido, é possível afirmar que o uso de drogas pode passar a ser um problema para aqueles sujeitos que não assumem ou constroem relações sociais de dependência.

Eu – Para estes, a droga toma o lugar do que?
Ribeiro - Eles dependem da droga para não depender das relações com outras pessoas. É uma tentativa extrema e paradoxal de manter sua independência.

Eu – As drogas legais, que mantêm o indivíduo produzindo e consumindo, não parecem ser vistas como um problema. Já as ilegais tornam-se um problema de polícia e/ou de saúde pública. Como você vê essa dicotomia de abordagem?
Ribeiro - Creio ser disseminado um equívoco intencional na abordagem dessa comparação entre os efeitos produzidos pelas drogas lícitas e ilícitas. Não há na literatura especializada nem nos estudos epidemiológicos qualquer evidência que fundamente o entendimento de que as drogas legais mantenham os sujeitos engajados socialmente, enquanto as ilegais produzam improdutividade. As estatísticas demonstram que a droga que mais incapacita seus usuários é o álcool, cujo consumo é legal. Além disso, faltam estudos que investiguem o quanto a prescrição excessiva de psicofármacos, por parte de médicos de diferentes especialidades, condena um grande número de sujeitos a uma vida anestesiada, desvitalizada. Se o médico está apenas preocupado em eliminar o sintoma de seu paciente, este é um processo que pode ir muito longe, porque dificilmente o sujeito apresenta uma única queixa. E, muitas vezes, novas queixas surgem como efeito das primeiras medicações. Assim, passado algum tempo, não há mais como saber o que está se passando com essa pessoa: o que é produto de sua história, de seus conflitos, e o que é efeito desta profusão de remédios. Na maior parte das vezes, o objetivo dessa orientação terapêutica é que o sujeito não sinta nada considerado indesejável. E esse objetivo é alcançado: o paciente não sente mais nada. Por outro lado, basta analisar as pesquisas epidemiológicas e as estatísticas policiais para comprovar que apenas uma ínfima parcela dos consumidores de drogas ilícitas se torna um dependente, incapaz de manter seus laços sociais, incluindo aí os laborais.

Eu – Não é curioso que o mesmo médico que receita drogas legais para anestesiar o sofrimento, já que sofrer parece ter virado uma anomalia, pretende “curar” os viciados em drogas ilegais?
Ribeiro - Temos aqui duas perspectivas diferentes: a do sujeito que busca uma ajuda para enfrentar seus sofrimentos, que podem ter múltiplos determinantes; e a destes médicos, que tendem a ver apenas o sintoma. Se o sujeito está deprimido, prescrevem-lhe um antidepressivo, se está ansioso, um ansiolítico. E assim por diante. Isso ocorre nos mais diversos contextos clínicos, não apenas no tratamento de dependentes de drogas. Por outro lado, a estratégia de prescrição de drogas de substituição, para combater a dependência a uma determinada droga, é muito antiga e largamente utilizada, principalmente nos Estados Unidos. Ela costuma funcionar quando a dependência é produzida por circunstâncias específicas e episódicas, como a utilização de morfina em feridos de guerra. Nos demais casos sua eficácia é muito duvidosa, pois parte da suposição de que foi a droga que viciou o sujeito.

Eu – E não foi a droga que o viciou?
Ribeiro - Esta é a principal questão: nenhuma droga vicia. São as pessoas que, eventualmente, se viciam com alguma droga. Isso lembra aquelas advertências de nossas avós, para que não aceitássemos balas de estranhos na saída do colégio, porque elas poderiam conter maconha e nós ficaríamos viciados. Ao contrário do que é veiculado pela maioria das campanhas, qualquer um de nós poderia experimentar até mesmo o crack algumas vezes, sem se viciar. É sempre um sujeito que decide usar uma droga e pode, ou não, optar por levar essa relação mais longe. É claro que existem sujeitos cujas circunstâncias fazem com que eles corram um maior risco na relação com a droga, mas as drogas não fazem nada, são substâncias inertes.

Eu – As substâncias podem não ter poderes sobrenaturais, como acreditavam e acreditam algumas culturas, mas está provado que algumas substâncias causam dependência, em menor ou maior grau. O que você quer dizer, exatamente, quando afirma que a drogas não viciam?
Ribeiro - Ninguém questiona a existência da dependência de drogas, mas faz muita diferença quem é o sujeito da frase. Dizer que as drogas viciam é diferente de dizer que pessoas se viciam com drogas. O que afirmo é que, para se estabelecer uma dependência, alguém decidiu usar drogas. E é esta motivação, e a história da relação do sujeito com a droga, no contexto mais amplo de suas circunstâncias, que vai definir se ele se tornará um dependente – ou não. Também é importante observar que, no contexto do tratamento de uma dependência de drogas, a primeira etapa, a desintoxicação, é a mais rápida e fácil. Em duas ou três semanas já não há mais nenhuma substância com princípio psicoativo atuando no corpo do sujeito. E todos sabem que ele não está curado de sua dependência. Permanece uma espécie de "memória", que não é exclusivamente orgânica, nem exclusivamente psíquica, e que se encontra associada a certas situações e sensações que fazem parte da vida do sujeito. Assim, diante de determinado conflito familiar, ou determinada frustração, ele pode voltar a sentir uma "necessidade" de usar a droga a que costumava recorrer.

Eu – Hoje há uma droga legal, adquirida com receita médica, para cada sentimento humano de desconforto ou conflito. Em que medida o fato de nossa sociedade considerar qualquer sofrimento um sintoma que precisa ser abafado e anestesiado com drogas influencia no uso das drogas ilegais?
Ribeiro - É verdade que os sintomas podem produzir sofrimento, mas, ao contrário do que acontece com as dores orgânicas, em que na maioria das vezes não há razão para não tentarmos eliminá-las, as dores psíquicas cumprem uma função importante de sinalizar a existência de um conflito que está exigindo uma resposta. Eliminar esse sinal apenas nos condena à impotência frente à causa de nosso sofrimento. E ao inevitável deslizamento, com a formação de outro sintoma, com o agravante de termos ainda que suportar os efeitos colaterais da medicação. Um conflito psíquico pode produzir sintomas, inibições, angústias e outros desconfortos. Geralmente isso perturba nossa vida, fazendo com que soframos com coisas que, para os outros, parecem banais. Esses conflitos podem ser tratados, mesmo que nunca completamente eliminados. Isso faz parte da vida de todos nós, mesmo fora do contexto de um tratamento psicológico: a gente tenta superar certas dificuldades, consegue alguns sucessos, volta a deparar com limites e carências, e a vida vai andando. Dá certo trabalho e não nos poupa de vários momentos de mal-estar, mas é a forma como assumimos a direção de nossas vidas – e pode também produzir muita satisfação. Algo diferente ocorre quando se busca evitar esse trabalho psíquico e o mal-estar que o acompanha: sofremos menos em um primeiro momento, mas perdemos a possibilidade de superar aquilo que está nos aprisionando: contornamos nossos conflitos sem nunca conseguir fazê-los mudar de lugar.

Eu – Mas o quanto a visão contemporânea de que o sofrimento é sinônimo de fracasso e deve ser suprimido da vida tem a ver com o uso de drogas ilegais?
Ribeiro - Acredito que isso tem a ver com o uso de drogas em geral, e não apenas das drogas ilícitas. As estatísticas médicas e farmacêuticas indicam que vivemos em tempos de depressão. Nada de novo nessa constatação. Entretanto, chama a atenção o fato de outras avaliações de nossa sociedade apontarem para a direção oposta: cada vez mais percebemos a existência de uma cultura dinâmica, voltada para a busca de prazeres imediatos, que reconhece e valoriza quase todas as formas de gozo. Tornamo-nos maníacos e depressivos, mas não necessariamente ciclotímicos. Talvez seja mais preciso afirmar que uma sociedade maníaca tende a produzir subjetividades depressivas, pois se o ideal social que nos serve de referência preconiza que todo sofrimento deve ser superado, encontra-se desvalorizado todo aquele que não consegue se ajustar aos modelos de felicidade propostos. Não é difícil entender o quanto o uso de drogas se “encaixa” bem nesse contexto: ele pode tanto nos aliviar de nossas frustrações quanto nos ajudar a melhorar nossos desempenhos. Basta escolher a droga certa para o momento certo.

Eu – Você faz, em seus artigos, uma afirmação muito interessante – e bastante polêmica – sobre como o saber médico e o toxicômano veem a droga da mesma maneira. Você afirma que a teoria médica coincide com a do toxicômano, na medida em que procura isolar o aparelho psíquico para gozar dele como um órgão. Ou seja, com o auxílio de determinadas drogas pretende-se tanto curar um corpo doente como uma vida doente, sem problematizar as modalidades de relação com o outro. Como é isso?
Ribeiro - Tomemos o exemplo fictício, mas não incomum, de um adolescente que cotidianamente observa seu pai chegar em casa meio estressado e tomar umas doses de cachaça ou uísque; sua mãe consumir religiosamente seu ansiolítico; o médico da família, frente ao primeiro sinal de tristeza e abatimento, receitar um antidepressivo. Esse adolescente, diante das angústias próprias de sua idade, teria alguma razão para se recusar a fazer uso de um cigarro de maconha de vez em quando? Qual seria a diferença? Nesse exemplo, estamos longe de uma toxicomania, mas percebemos uma mesma lógica, que pode vir a ser acionada em situações extraordinárias, como a de uma dependência de drogas. Isso nos lembra do Millôr, que afirmava ter nascido com duas doses de uísque a menos, pois, quando as tomava, se sentia muito melhor. É a mesma coisa: se a psique é vista como um órgão, e se o remédio faz com que este órgão funcione melhor, deduz-se que era ele o que estava faltando. Ou seja, depois de procurar curar o corpo, o órgão doente, hoje se pretende curar a vida doente.

Eu – O crack é a droga do momento, a grande epidemia. Você acha que o crack é diferente das outras drogas e deve ter uma abordagem diferente?
Ribeiro - Mesmo que se faça uma crítica a muitas abordagens acerca do uso de drogas e às propostas hegemônicas para enfrentar o problema – e é importante que a crítica seja feita –, não há como deixar de reconhecer que se trata de um problema social que exige respostas urgentes. Entretanto, independentemente do tipo de droga utilizada, e mesmo que se reconheça a enorme diferença que existe entre os efeitos do consumo de maconha e de crack, por exemplo, não acredito que devamos nos dedicar à proposição de “estratégias para combate do uso de drogas” ou de uma “clínica da dependência de drogas”. Da mesma forma que não acredito em uma “clínica da depressão” ou uma clínica da “síndrome do pânico”. Em vez de reduzirmos o sujeito ao seu sintoma, ganharíamos mais diversificando nossas estratégias para operar uma “clínica do sujeito”, levando em consideração os contextos sociais em que essas subjetividades são produzidas.

Eu – E como seria uma “clínica do sujeito”?
Ribeiro - Parto do entendimento de que cada sujeito é absolutamente singular, o que faz com que o trabalho terapêutico também tenha que ser construído caso a caso. É nesse sentido que recuso a idéia de uma “clínica da toxicomania”, como se esses sujeitos compusessem um conjunto, com problemas e saídas semelhantes. Mas é possível propor algumas estratégias e linhas de ação. Nos casos menos graves, atendidos em consultórios e ambulatórios, entendo que o uso de drogas deva ser abordado no contexto da história e do conjunto de relações mantidas por cada pessoa. Não é o uso de drogas que define sua posição subjetiva e o seu sofrimento, mas o contrário: a relação que ele estabelece com as drogas é resultante da forma como ele vivencia seus conflitos e relações. Já nos casos mais graves, em que há uma perda de autonomia do sujeito, se torna necessária uma vinculação institucional, de preferência sem internação, através da qual ele possa contar com o apoio de uma equipe multiprofissional que lhe auxilie em seu processo de reinserção social.

Eu – Como você vê os tratamentos oferecidos para “curar” a drogadicão, que em geral partem de uma oferta da medicina ou da religião ou de uma aliança entre ambas?
Ribeiro - A maioria dos dependentes de drogas que procuram – ou são levados a – tratamento se encontra em uma situação de fragilidade de suas inserções sociais. Normalmente não estão trabalhando ou estudando e vivenciam conflitos no âmbito familiar. Experimentam um sentimento de anomia, em uma errância que tem como únicos pontos de referência os caminhos que levam à droga. Ora, essa situação produz muita angústia, e não raro desespero. Diante dessa realidade, não é de surpreender que as ofertas de certas comunidades religiosas exerçam forte sedução, afinal elas prometem uma pertença comunitária, uma visão de mundo estruturada e uma função revestida de importância e dignidade – “a construção da Obra do Senhor”. Mas essa “solução” cobra seu preço, e não é barato: espera-se do sujeito que ele seja capaz de abrir mão de seus conflitos, ou seja, de sua história, e se engaje incondicionalmente em um projeto coletivo, que ele já recebe pronto. As correntes mais biológicas da psiquiatria, muitas vezes aliadas a determinadas versões da psicologia cognitivo-comportamental, apresentam outro entendimento do problema, de onde deriva outra proposta terapêutica. Esta é direcionada a uma reprogramação da mente e do comportamento, visando sua “normalização”. O que há de comum entre essas ofertas são as certezas de que partem. Não há lugar para dúvidas acerca do que é certo e do que é errado. Para quem está totalmente perdido, isso não é pouca coisa.

Eu – Mas, a longo prazo, funciona? A pessoa consegue manter esse engajamento no projeto, que, por sua vez, a mantém longe das drogas?
Ribeiro - Dificilmente. Essa reprogramação exige que o sujeito assuma uma nova vida, e sabemos que nossa liberdade de escolha é limitada: não podemos escolher quem queremos ser. Somos o produto de uma história, que não se deixa ignorar. Mas, embora hegemônicos, esses campos, felizmente, não detêm a exclusividade no tratamento da dependência química. “Felizmente” não porque eles sejam sempre ineficazes ou mal-intencionados, longe disso, mas porque muitos dependentes não se adaptam a suas propostas. Há muitas clínicas, ambulatórios e CAPS-ad (Centros de Atenção Psicossocial a usuários de substâncias psicoativas) que assumem um maior respeito à liberdade de escolha dos sujeitos, tomam como referência a estratégia de redução de danos e trabalham a partir de uma escuta das singularidades de cada caso.

Eu – Como você vê o jogo de culpa que se faz na abordagem das drogas: é culpa da família, é culpa do traficante, é culpa do Estado, é culpa dos amigos viciados, é culpa de um mundo sem valores ou há tantos culpados que ninguém mais tem culpa? A culpa cumpre algum papel nesse jogo?
Ribeiro - A culpa é um dos sentimentos – ou acusações – mais inúteis e produtores de sofrimento com que temos de conviver. Ela nada produz além de recriminações e ressentimentos. Além disso, a atribuição de culpa costuma ser utilizada por discursos autorizados – o científico, o policial ou o religioso – como estratégia de imposição autoritária de seus pontos de vista. Mais interessantes são as tentativas de produção de consensos mínimos sobre os problemas que envolvem o consumo de drogas e a pactuação de responsabilidades no que se refere à forma como o problema deverá ser enfrentado. Isso vale tanto para um contexto familiar, quanto para a elaboração e implementação de políticas públicas.

Eu – Qual é a sua opinião sobre a descriminalização das drogas, no geral, e a descriminalização só da maconha, como propõem alguns, inclusive o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso?
Ribeiro - Não vejo razões pelas quais consumir drogas deva ser considerado um crime, o que não é o mesmo que defender sua liberação irrestrita. É interessante notar que as origens da proibição ao uso de determinadas drogas não estão relacionadas a qualquer avaliação de ordem médica, psicológica, epidemiológica ou antropológica. Estão associadas de forma muito mais direta às pressões exercidas por certos segmentos sociais, a partir de preconceitos morais e estigmatizações sectárias. Deveríamos ser capazes de aprender com nossos erros e, no momento em que se evidenciam as contradições de nossa política proibicionista, investir em estudos multidisciplinares e promover um amplo debate, depurado de moralismos e respostas fáceis.

Eu – E quais seriam as questões centrais deste debate?
Ribeiro - Questões que discutam poder e responsabilidade. O que legitima que alguém legisle ou defina o que posso ou não consumir? Se é uma questão que extrapola o âmbito das liberdades individuais, envolvendo problemas de saúde pública, quais são os critérios para definir quem pode e quem não pode consumir tais e tais drogas? Repressão e marginalização são boas estratégias para a produção de saúde?

Eu – Qual é a sua opinião sobre a campanha nacional contra o crack lançada pelo Ministério da Saúde (e recentemente ampliada pelo presidente Lula)?
Ribeiro - A campanha promovida pelo Ministério da Saúde promove grandes avanços, entre eles o de respeitar os direitos dos usuários, o de operar a partir da lógica de redução de danos, o de priorizar a abordagem do problema no território em que vive o usuário e o de evitar internações prolongadas. Entretanto, é sabido que esse tipo de abordagem enfrenta fortes resistências de parte daqueles que se opõem a Reforma Psiquiátrica e se mostram saudosos dos antigos manicômios. Para estes, o melhor seria ampliar o número de leitos de internação, segregar e “tratar” o maior número possível de usuários, para depois “devolvê-los” – se possível – para o convívio social. Infelizmente, através dessa estratégia, muitos psiquiatras evitam a abordagem da intensidade dos dramas humanos - preferindo a calmaria dos sedativos.

Fonte : Elaine Brum - Revista Época

Benefícios da Lei Seca

Número de mortes no trânsito caiu 6,2% no primeiro ano da Lei Seca
Rio foi o estado com maior redução de mortes, 32%.
Em segundo lugar veio Espírito Santo, seguido de Alagoas e DF.

Do G1, no Rio

O número de mortes no trânsito no Brasil caiu 6,2% no primeiro ano da Lei Seca, em comparação com o ano anterior, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (18) pelo Ministério da Saúde. O anúncio foi feito no evento de comemoração do aniversário de dois anos da legislação, que entrou em vigor em 20 de junho de 2008.

Nos doze meses anteriores à lei, 37.161 pessoas morreram em acidentes de trânsito. Nos doze meses posteriores, foram 34.859 -- 2.302 a menos. (Inicialmente, o Ministério da Saúde informou os primeiros números como sendo 36.924 e 34.597, respectivamente. A informação foi corrigida).

O estado que registrou maior redução em números absolutos foi o Rio de Janeiro (32%), seguido do Espírito Santo (18,6%), Alagoas (15,8%), Distrito Federal (15,1%) e Santa Catarina (11,2%). Em sexto lugar ficou Bahia (6,1%), com São Paulo (6,5%) e Paraná (5,9%) na seqüência.

Rio de Janeiro e Twitter

O ministro José Gomes Temporão elogiou o Rio de Janeiro pela redução no número de mortes no trânsito.

Temporão comentou também o "Twitter da Lei Seca", que avisa seguidores onde ocorrem as operações de fiscalização na cidade. "Não adianta nada. Essa twittada está perdendo para a estratégia e a sagacidade da campanha", disse Temporão.

Homens e jovem são os que mais dirigem alcoolizados

Segundo o Ministério da Saúde, a frequência com que as pessoas dirigem depois de beber subiu. Em 2007, ano anterior à lei, 2,1% assumiam dirigir alcoolizado. Em 2008, o número caiu pra 1,4%, mas voltou a subir em 2009, com 1,7%.

Os homens são os que mais cometem a infração. Em 2007, eles representavam 4,1% do total, o índice caiu para 2,8% em 2008, e subiu para 3,3% em 2009. Nas Capitais, os maiores percentuais entre os homens foram registrados em Aracaju (8,7%), Teresina (5,9%) e Rio Branco (5,5%).

Ainda segundo a pesquisa, a maior incidência está entre adultos de 25 a 34 anos (2,1%) e de 35 a 44 anos (2%). O número cai para 1,8% entre os jovens de 18 a 24 anos.

Fonte : G1 - Globo.com